Regresso à infância, aos primeiros anos em Portugal. Nascido na Guiné Bissau, Pelé veio muito pequeno para o nosso país e começou a jogar futebol no Atlético do Cacém. Foi dispensado do modesto clube e chegou ao Belenenses no início da adolescência.

Em longa entrevista ao Maisfutebol, o médio do Paços de Ferreira fala ainda da alcunha - Pelé, claro -, da adaptação ao Norte do país, do apoio familiar em Vila Nova de Gaia e dos dois grandes ídolos: Steven Gerrard e Clarence Seedorf.


Fale-me dos primeiros anos no futebol. Como é que tudo começou para si?
«Eu nasci na Guiné Bissau e vim para Portugal com quatro anos. Vivi em Chelas com uma tia e mudei-me depois para o Cacém. O meu primeiro clube foi o Atlético do Cacém. Fui dispensado de lá porque o treinador dizia que eu era egoísta e não passava a bola».

Com que idade se mudou para o Belenenses?
«Tinha 12/13 anos. Fiz toda a formação e cheguei aos seniores».

E em que altura surgiu a alcunha «Pelé»?
«Foi nos tempos do Atlético do Cacém (risos). Eu era avançado e só queria fintar. Os meus colegas lembraram-se de me começar a chamar Pelé e ficou até hoje. Gosto».

Se alguém gritar Judilson na rua, o Pelé olha?
«Sim, sim (risos). Algumas pessoas tratam-me por Judilson. A minha namorada, por exemplo. Não me importo».

E agora o Pelé já é menos egoísta?
«Tive de mudar. Deixei de ser egoísta e até jogo numa posição recuada. No bairro é que cada um fazia o que queria. Eu aprendi a jogar assim, mas mudei».

Mantém ligações ao Cacém e aos amigos de infância?
«Bastante. Visito regularmente o bairro onde cresci e estou com os meus amigos. Valorizo muito essas amizades de criança».

É a primeira vez que joga num clube do Norte. A adaptação a Paços de Ferreira foi fácil?
«Diziam-me que as pessoas nortenhas são mais acolhedoras e confirmei isso. Toda a gente me recebeu bem, desde o dia da apresentação. Tenho uma grande proximidade com o Hélder Lopes, com o Edson Farías… mas dou-me bem com todos, tem de ser mesmo assim».

Tem algum apoio familiar aqui em Paços?
«Estou a viver em Vila Nova de Gaia, em casa de familiares. É uma boa forma de não me sentir sozinho. O meu pai e a minha namorada também me visitam com frequência. Em Gaia estou com os meus primos, estou sempre acompanhado. É muito mais fácil para mim».

Há mais algum futebolista profissional na família?
«Sim, sou primo do Zezinando. Foi capitão do Sporting nos escalões de formação, colega do Miguel Veloso, por exemplo. Está na Tailândia há alguns anos, mas chegou a ser convocado para a equipa principal do Sporting e jogou várias vezes nas seleções jovens. Não teve a sorte de se impor em Portugal, mas está feliz, está bem».

Quem são os seus grandes ídolos no futebol?
«O Steven Gerrard e o Clarence Seedorf. O Seedorf foi meu colega no Milan e falámos algumas vezes. Ele tem um clube na Holanda, onde jogava um colega meu, e falámos sobre isso. Tinha uma qualidade e uma força incríveis. O Gerrard era extraordinário. Passei a ser fã dele depois da final da Liga dos Campeões ganha pelo Liverpool [2005]».