No futebol brasileiro, os casos de incentivos por terceiros para vencer parecem ser prática relativamente comum.

Em novembro do ano passado, a luta pela permanência no Brasileirão foi escaldante. Nos media brasileiros foi muito badalada a possibilidade do Palmeiras ter oferecido dinheiro à Portuguesa dos Desportos, para que a Lusa vencesse o Bahia, principal rival do Verdão na luta pela sobrevivência.

O ex-jogador e agora comentador de TV Denilson chegou a garantir que dirigentes do Palmeiras terão enviado um total de 150 mil reais (cerca de 57 mil euros) aos jogadores da Portuguesa, mas o dinheiro só seria depositado no caso do resultado ser favorável aos interesses do Palmeiras.

Antes dessa partida, o Palmeiras somava 32 pontos e era 18.º. Tinha menos cinco que o Bahia, sendo que pelo meio havia ainda o Sport, com 33.A Portuguesa tinha 40 e, apesar de relativamente confortável, ainda não tinha a permanência garantida.

O técnico do Palmeiras, Gilson Kleina, chegou a ser questionado sobre o possível aliciamento feito pelos dirigentes do seu clube. Disse não aprovar, mas revelou que essa prática é comum no meio do futebol. «Não sou a favor que a diretoria dê esse incentivo, não estou participando disso, mas nos bastidores a gente sabe o que acontece. Para incentivar não tem problema nenhum. Estamos focados no jogo do Botafogo».

Se houve mesmo incentivo financeiro do Palmeiras (no Brasil chamam a essa prática «mala branca»), a verdade é que ele não resultou, porque o Bahia venceu mesmo no reduto da Portuguesa, por 0-1.

Até ao fim desse campeonato persistiram as nuvens sobre eventuais financiamentos a terceiros por parte do Verdão, mas César Sampaio, gerente do futebol do Palmeiras, garantiu que isso não aconteceu: «Eu não gosto disso. Não digo que não exista, mas eu não gosto. Já convivi com mala branca, mas queremos cair ou permanecer pelos nossos próprios méritos. Isso não seria da grandeza da nossa marca, da nossa instituição. Independentemente do que aconteça, gostaríamos que os resultados fossem conquistados dentro de campo», comentou o dirigente ao Globo Esporte, dias antes da última jornada, que viria mesmo a ditar a descida do Palmeiras.

Muitos outros casos do género poderiam ser referidos nos últimos anos no Brasil. A «mala branca» é visto como um expediente que existe desde que a bola rola no país irmão. E, apesar dos julgamentos morais que se podem fazer, é quase uma prática aceite.

Tão aceite que até houve jogadores que, em público, confessaram contar com essa ajuda para o atingir dos objetivos.

«Gostamos de futebol, mas também temos família»

Foi o caso do atacante Felipe Azevedo, do Sport Pernambucano, que na fase de decisão sobre as descidas do Brasileirão 2012, em novembro passado, assumiu estar a contar com a ajuda de terceiros, admitindo que para tal poderiam ser necessários estímulos financeiros.

O Sport precisava de vencer o Náutico e esperar por uma derrota de Bahia ou Portuguesa para prossegue no Brasileirão em 2013.

«Não sei se isso vai ocorrer ou não, mas sou a favor, se o clube está oferecendo. Nós jogadores gostamos de jogar futebol, mas nós temos família e dinheiro é importante. Se tiver que acontecer isso, é benéfico», comentou o avançado.

Ainda em relação à decisão das descidas no Brasileirão 2012, a «Rádio Metrópole» garantiu que Sport terá oferecido cerca de 980 mil reais ao Atlético de Goiás para que essa equipa vencesse o Bahia. A «Rádio Metrópole» chegou mesmo a citar fonte anónima, alegadamente liga ao Sport, que apontava: «O valor oferecido é de 70 mil reais para cada jogador titular do Atlético de Goiás e também para os que entrarem no decorrer do jogo. Isso dá 980 mil reais para vencer o Bahia no domingo»