Os mais saudosistas talvez se lembrem da personagem: Stéphane Paille, internacional francês, avançado problemático, jogador do F.C. Porto na época 1990/91. As credenciais passadas pelos bleus não foram certificadas nas Antas, embora o começo da relação tenha sido prometedor.

21 anos depois, o Maisfutebol redescobre Paille. Tudo por culpa de José Mourinho e o Real Madrid. O contemporâneo de Eric Cantona e Zinedine Zidane responde com surpresa, ao perceber que está a falar para Portugal. Depois, desfila memórias atrás de memórias.

Em 27 jogos oficiais marca dez golos. O primeiro, logo na atribuição da Supertaça Cândido Oliveira contra o Estrela da Amadora. «São excelentes recordações, apesar de nem tudo ter sido perfeito. Prefiro lembrar-me do bom acolhimento. Era um grupo formidável», começa por referir ao nosso jornal.

«Os jogadores integraram-me bem. Lembro-me do capitão João Pinto, do André, do grande Aloísio e do Fernando Couto. Eram os primeiros passos do Vítor Baía e do Domingos. Também havia o Rabah Madjer», conta, numa pronúncia inatacável.

Drogas, álcool e a redenção com deus Zidane

Paille era, à época, um avançado razoavelmente conceituado. Artur Jorge conhecera-o nos tempos do Matra Racing, anos antes, e encantara-se com a frieza do enfant terrible do Sochaux. «Foi ele que me veio buscar. Marcava sempre contra ele em França. Acho que o Artur pensou que era melhor eu jogar para ele do que contra ele», atira Stéphane Paille.

«O F.C. Porto tinha sido campeão da Europa três anos antes. Achei que era uma boa oportunidade para reabilitar-me, pois tinha perdido o lugar no Bordéus», acrescenta o ex-avançado. O problema foi mesmo a súbita aparição de um quase adolescente chamado Domingos Paciência.

«Os seis primeiros meses passaram-se bem, mas contra o Dínamo Bucareste, na Liga dos Campeões, apanhei um cartão vermelho. A partir daí, acabou! O Domingos explodiu e o Artur Jorge deixou de me por a jogar. «Tens de aguentar, ficas no banco». Ouvi isto muitas vezes.»

«Não podia fazer nada. O Domingos não parava de marcar. E também havia o Kostadinov. Os últimos seis meses foram demasiado longos. Não pude demonstrar o que sabia fazer. Sei que devia ter feito melhor. Era uma outra língua, uma outra maneira de trabalhar. E os treinos com o Artur Jorge eram difíceis, muito duros. Não estive ao meu nível», admite Paille, num auto de contrição com duas décadas de atraso.

Golos «bleus» de dragão ao peito

Stéphane Paille sabia fazer golos, como os vídeos abaixo postados podem confirmar. Fez alguns de belíssimo efeito. Frente ao Portadown, na Taça dos Campeões Europeus, voou para a bola e desviou de cabeça. Um pouco à Falcao.

No entanto, para o francês, o melhor de todos foi outro. «O meu primeiro no Estádio das Antas. Já não me recordo o adversário [Penafiel, 18 de Agosto de 1990]. Marquei com a mão. Não fiz de propósito, quis fazer um mergulho à peixe e não me saiu bem.»

As escolhas de Paille são curiosas. O jogo mais inesquecível, por exemplo, coincidiu com uma derrota. «Contra o Bayern, nos quartos-de-final da Taça dos Campeões Europeus. Estava um grande ambiente nas Antas, assustador para o adversário. Perdemos, foi pena.»

Dois golos de Stéphane Paille (1m05 e 1m40):