O antigo menino bonito do futebol francês tem um lado obscuro. Inescrutável. Primeiro, os factos: em Setembro de 1995, Stéphane Paille acusa o consumo de cannabis. Jogava no Mulhouse e viu o seu contrato rescindido; em Maio de 1997, já nos escoceses do Hearts, termina a carreira de futebolista ao revelar o consumo de anfetaminas noutro controlo anti-doping.

Um mês depois esse episódio é condenado a quatro meses de prisão por transporte, uso e cumplicidade no tráfico de estupefacientes, ao ser envolvido numa densa rede de droga com origem na Suíça. O final deste período trágico eclode em 2003. Paille volta à cadeia por 15 dias, depois de ser apanhado a conduzir em excesso de velocidade nas ruas da cidade de Besançon, com 1,48g de álcool no sangue.

Convidado pelo Maisfutebol a falar sobre esta fase terrível, aparentemente enterrada em definitivo no passado, o ex-jogador do F.C. Porto reage da mesma forma com que finalizava as jogadas: cheio de frieza.

«Bem, desculpe, mas não quero voltar a falar disso. Ficou tudo para trás, já dei a volta. Costumo dizer que o passado não tem futuro. É uma bela frase, não?» Sim, de facto.

Deus Zidane e os olhos de Mourinho em França

No passado mês de Setembro, Stéphane Paille voltou a ser notícia. Olheiro para o Real Madrid. A pedido de um antigo companheiro no Bordéus, um tal de Zinédine Zidane, Paille tornou-se observador oficial do Real Madrid. «Deus estava ao telefone. Antes de me explicar o projecto, eu já estava de acordo», referiu o ex-avançado do F.C. Porto em entrevista à France Football.

O trabalho consistia em estabelecer relatórios sobre os adversários do Real Madrid e ficar atento a jovens promessas que um dia podiam vir a representar os merengues. Paille chegou a viajar com José Mourinho até a Croácia para analisar um jogo do Dínamo de Zagreb, por exemplo.

A aventura no F.C. Porto estragada por Domingos

«Estava noutro planeta», recordou, sem poupar nos elogios a Mourinho. «É um gajo extraordinário», completou, em declarações à revista francesa. Com alguma surpresa, quando questionado pelo Maisfutebol sobre o seu trabalho em prol do Real Madrid, Stéphane Paille respondeu de forma muito seca: «São informações falsas. Não quero falar sobre isso».

Então, e agora ? «Não trabalho, estou desempregado. Sou treinador e aguardo um novo clube», explica ao nosso jornal. Desde Dezembro de 2009, quando deixou o Evian Thonon-Gaillard, que Stéphane Paille não se senta num banco. E não descarta a possibilidade de vir a treinar em Portugal. «Interessa-me. Falo melhor português do que inglês. O apelo está feito», diz, mais risonho.

Pinto da Costa e Artur Jorge: inesquecíveis

20 anos depois a sua passagem pelo F.C. Porto, Stéphane Paille só voltou uma vez a Invicta. «Foi uma visita confidencial», confessa, sem entrar em pormenores. Ficou deslumbrado com o Dragão. «É um estádio de topo. Desde o Euro 2004, vejo que os clubes portugueses souberam evoluir e seguir no bom caminho.»

A ligação aos antigos companheiros no balneário azul e branco diluiu-se no tempo. «Perdi o contacto com eles. Vamos para um lado, vamos para o outro e esquecemo-nos dos colegas.» De qualquer forma, Pinto da Costa e Artur Jorge são nomes importantes na sua carreira. Inesquecíveis. «Não via muito o presidente, mas tinha uma personalidade forte. O Artur Jorge é um homem bom e grande treinador. Falei com ele há pouco tempo.»

A pior lembrança recai sobre Octávio Machado, adjunto do F.C. Porto em 1990/91. «Sem comentários. O meu treinador era Artur Jorge. Mais nada».

O único golo de Paille pela França (50 segundos):