O vício dos golos não desaparece com pensos de nicotina. Não há tratamento para esta adição. Pedro Pauleta que o diga. Aos 37 anos, o melhor marcador de sempre da Selecção Nacional continua a precisar desta espécie de orgasmo. No último sábado regressou ao futebol oficial e bisou com a camisola do clube do coração: o Desportivo de São Roque.

Final perfeito, despedida perene, em jeito de homenagem ao pai e aos que o viram crescer. 2000 pessoas no Campo de São Roque, cenário perfeito para um jogo da Taça de Honra da AF de Ponta Delgada.

«Ainda estou bastante cansado. Foi bonito e valeu a pena todo o esforço. Empenhei-me a fundo ao longo da semana de trabalho e o jogo foi fantástico. Ganhámos 3-0 ao União de Nordeste e fiz dois golos», conta Pauleta, que já não jogava oficialmente desde Agosto de 2006, ao Maisfutebol.

«Foi uma brincadeira muito séria. Quis juntar o povo da minha freguesia e proporcionar-lhe um sábado especial.»

O último jogo... ou talvez não

Pauleta quer correr o pano, encerrar em definitivo a representação da vida de jogador. «O futebol acabou», insiste o Ciclone dos Açores, consciente que o coração lhe diz precisamente o contrário.

«Não vou fazer mais nenhum jogo. Pelo menos para já. Talvez noutra fase da época, se a equipa precisar muito. Tenho muitos compromissos profissionais e o corpo já não responde da mesma maneira», lá refere o antigo avançado, goleador no Deportivo, no Bordéus e no PSG.

Vício é vício e Pauleta ainda adora pecar diante das balizas contrárias. «Senti com estes dois golos o que sentia no futebol profissional. A mesma felicidade, a mesma responsabilidade. Festejei por mim e, acima de tudo, pelos meus companheiros.»

Final perfeito ou prazer prolongado num futuro próximo?

«Por uma vez na vida, o jogador ensinou o técnico»

O Grupo Desportivo São Roque foi fundado a 12 de Agosto de 1960 e milita da 1ª Divisão Distrital de Ponta Delgada. Durante uma semana, o clube viveu submerso numa realidade virtual, num universo paralelo, atordoado pela intensidade dos holofotes da comunicação social.

Emanuel Ferreira é o treinador da equipa e um homem orgulhoso por ter aprendido com o pupilo Pauleta. «Não lhe dei qualquer indicação, naturalmente. Por uma vez na vida, foi o jogador a ensinar o técnico. Sinto-me realizado por tudo o que vivi ao longo da última semana», refere ao Maisfutebol.

«Isto foi especial para todos. Eu entro na história porque fui o último treinador da carreira do Pauleta, o clube entra na história porque foi aqui que o Pauleta acabou. Valeu bem a pena, mas era óptimo que ele nos ajudasse em mais alguns jogos.»

O Desportivo São Roque quer Pedro Pauleta, o coração de Pauleta não consegue dizer que não. Só as pernas ameaçam emperrar esta relação.

Final perfeito ou triunfo da obstinação?