Paulo Bento diz que esteve quatro meses a mais no Sporting. É uma das ideias fortes do treinador na hora de explicar a sua demissão. O agora ex-treinador revelou ainda que já tinha tomado a decisão após o jogo com o Marítimo e que agora não pensa em voltar a trabalhar até ao final da época. Paulo Bento falou ao lado de José Eduardo Bettencourt, sem mais nenhum responsável do clube na conferência de imprensa.

Bettencourt: «Never, nunca demitiria Paulo Bento»

«Acabou um ciclo que durou quatro anos e mais algumas semanas. Um ciclo que considero que foi positivo, que teve momentos complicados. Faltou, durante este período, a conquista do grande objectivo que era ser campeão. Mas acho que foram quatro anos positivos, onde se conseguiu que o Sporting voltasse a ganhar. Conseguiram-se outros objectivos durante este trajecto, portanto, quero deixar uma palavra de agradecimento aos jogadores, à administração e a todos aqueles que estiveram connosco ao longo destes quatro anos», começou por destacar.

Quanto aos motivos da demissão, o treinador foi claro. «Havia várias explicações. A primeira, e para mim a principal, é que acho que estive quatro meses a mais no Sporting. Infelizmente o digo, porque já o previa. Acredito pouco que as rotinas e a continuidade possam ser más. A verdade é que isso levou a esta situação, sem imaginar que podíamos chegar este ponto», contou.

Uma situação que o treinador já previa, mas sobre a qual não guarda qualquer arrependimento. «Não estou arrependido, mas tenho a clarividência necessária para, neste momento, sentir que não foi a melhor decisão. Não só para mim, não foi a melhor decisão para o Sporting também. Não me arrependo. Mesmo ponderando todas as situações e prevendo o que podia acontecer, muitas vezes somos guiados pelo coração. Tomei a decisão mais pelo coração do que pela razão e isso normalmente não dá bom resultado», acrescentou.

Paulo Bento explicou ainda que já tinha tomado a decisão logo após o empate com o Marítimo, embora, na véspera, tenha dado a entender que ainda ia orientar a equipa frente ao Rio Ave. «O treinador é também um actor. Reconheço que fui pouco actor nestes últimos anos, mas ontem, no «flash», fui um bocadinho. A minha decisão estava tomada há mais tempo. O que havia eram quatro mulheres, as minhas senhoras, e cinco homens que sabiam da decisão. Os quatro da equipa técnica e um elemento externo ao Sporting. A seguir ao jogo com o Marítimo conversei com essas pessoas e tomei a decisão», contou.

Uma eventual vitória sobre o Ventspils, na quinta-feira, não teria, assim, interferência na decisão do treinador. «O resultado do jogo nada teve a ver com a minha tomada de decisão. Sabia que podia estar a caminhar para um beco sem saída e foi pelo Sporting que tomei esta decisão, não por mim, mas pelos jogadores. Os factores que estiveram ligados ao jogo com o Marítimo, não os externos, foram decisivos. Falei com essas pessoas e tomei a decisão que na quinta-feira, fosse qual fosse o resultado, apresentaria a demissão», acrescentou.

Quanto ao futuro. «Em primeira instância, algumas vezes vou ser motorista das minhas filhas para a escola. Fazer exercício também, depois estar com os amigos, tenho tido pouco tempo para eles. Depois trabalhar. Não este ano, este ano dificilmente irei trabalhar. Não penso trabalhar até ao final da temporada, é o desejo que tenho neste momento», contou.

A finalizar, o treinador quis deixar claro que a demissão foi uma decisão exclusivamente sua. «É natural que haja gente que desejasse que eu saísse, mas não da administração. Do Sporting, digo-lhe que sim, se disser sócios e simpatizantes, também digo que sim, é normal, agora da administração, não. Quero deixar claro que fui eu que coloquei o lugar à disposição e que o fiz pelos jogadores e pelo Sporting», disse a finalizar.