Para além da preparação dos treinos, dos jogos, do trabalho individual e colectivo com os jogadores, os treinadores vivem ao longo da temporada muitas situações que têm de gerir ao momento, pensando no que é melhor para a equipa.

Isto vem a propósito da abordagem diferente que alguns treinadores fizeram aos jogadores que estavam em risco de serem suspensos caso vissem o quinto amarelo.

O contexto actual, as necessidades, o jogo em causa, a sequência de jogos, o adversário, tudo entra em equação na altura da gestão e decisão por parte dos treinadores.

Não sabemos se o mesmo treinador vai ter o mesmo comportamento e tomar a mesma decisão num outro momento porque, mais uma vez, o contexto e tudo o que o envolve é determinante na decisão.

Perante a situação, uns não valorizam e esperam que nada aconteça. Outros preferem abdicar de alguns jogadores num determinado jogo, com o pensamento noutro mais forte. O caso actual é o FC Porto-Sporting, mas já lá vamos.



Um treinador que não se preocupou, quando confrontado com uma situação do género, foi Jesus, na recepção ao Boavista. «Talisca é jogo a jogo. Se não vir amarelo melhor, se levar leva. Não altera nada. Temos de pensar em somar os três pontos com o Boavista e depois na próxima jornada se calhar vamos pensar de outra maneira. É outro adversário, não penso já na próxima jornada», disse então.

A verdade é que Jesus não utilizou Talisca de início, mas entrou, e o treinador justificou-se assim: «Se fosse a pensar no cartão amarelo não teria lançado o Talisca quando o jogo estava três a zero». Jesus cumpriu com o que disse e o eventual amarelo de Talisca não esteve nas suas preocupações. O contexto actual, a liderança com diferença pontual e o momento de menor rendimento que atravessa o jovem brasileiro podem ter tido influência na decisão.

As opções de qualidade existentes e a estratégia para o jogo são outros factores que pesam na decisão. Mas Marco Silva e Lopetegui, que se defrontam no proximo domingo, tiveram abordagens diferentes relativamente à possível suspensão por cinco amarelos dos seus jogadores.

O treinador espanhol tinha antes do jogo com o V. Guimarães três jogadores à beira da suspensão. Todos eles habituais titulares e importantes na forma de jogar do FC Porto. Mas o foco era o jogo importante. Entrar bem, marcar e ter o jogo controlado. O resto, acredito, estava pensado e planeado e seria feito consoante as circunstâncias do jogo. O amarelo de Alex Sandro não estava tão cedo no programa e surgiu ainda antes do golo portista, mas a exibição do quinto amarelo a Casemiro (78m) e depois a Danilo (85m) já foi a consequência do resultado favorável.



A preocupação de Lopetegui não estava no confronto com o Boavista desta segunda-feira, mas sim no próximo domingo no Dragão com o Sporting. Podemos concordar ou discordar mas acredito que essa gestão fez parte da estratégia. Se analisarmos o comportamento do treinador espanhol na composição do onze ao longo de vários meses - e apesar de hoje em dia haver alguma estabilidade – vemos que continua a promover alterações e a contar com a maioria dos jogadores.

Para ele, as ausências seriamsempre colmatadas, já que existe qualidade. Por outro lado, , não ter sempre os melhores pode não ser a melhor opção, numa altura em que qualquer perda de pontos o pode afastar da luta pelo título. Não tenho dúvidas que Lopetegui pensou nisto tudo. Apesar das ausências, a sua equipa é mais forte que o Boavista.

O técnico sabia das dificuldades que o jogo do Bessa iria trazer mas acreditava que a resposta de outros jogadores não o afastaria da vitória. Foi isso que aconteceu. O jogo com o Sporting assume uma enorme importância, sabendo que a vitória afasta um adversário direto e conquista um capital de confiança para os jogos que se seguem.



Em Alvalade o pensamento foi outro.

Face aos últimos resultados, qualquer perda de pontos afastava ainda mais o Sporting das equipas que estão à frente. Por isso Marco Silva, utiliza os melhores, aqueles que lhe dão mais garantias e os jogadores vão gerindo no próprio jogo as situações por que passam.

Em Belém, na semana passada, William já estava em risco e jogou, não tendo visto o amarelo. William é sempre importante e tem de saber gerir esta situação da melhor forma.
Acredito que este seja o pensamento de Marco Silva. Por outro lado, Adrien levou o quarto amarelo em Belém e passou a ficar em risco com o Gil Vicente.

Marco tinha de decidir. Não abdicou de William e fez descansar Adrien. Compreende-se a opção. William é importante e não há ninguém como ele no plantel – além de que já não tinha jogado contra o Wolfsburgo por castigo.

Por outro lado, para substituir Adrien existem opções com qualidade e André Martins foi o escolhido. Ganhar ao Gil Vicente era obrigatório e foi conseguido.Vêm aí dois desafios de exigencia maxima e Adrien estará lá. Todas as opções dos treinadores resultaram e tanto FC Porto como Sporting acabam por ter os jogadores prontos para o clássico.