O clássico consolidou o Benfica no primeiro lugar.
Lopetegui disse no final que o Porto foi superior, mas que isso não vale pontos.
Olhando para a estatística, no final, vemos isso.

Posse de bola: 58 por cento para o FC Porto/42 para o Benfica
Faltas cometidas: 18/28
Ataques: 38/18
Cantos: 5/1
Remates: 17/6

A verdade é que apesar desses números o Benfica marcou por duas vezes e o FC Porto nunca conseguiu desfeitear Julio César. Mérito para o guarda-redes em alguns casos e falta de eficácia noutros momentos, sobretudo de Jackson e Herrera. A superioridade não foi traduzida numa vitória, também por causa de erros individuais.

Por outro lado, Jesus definiu assim a sua equipa no final: realista, experiente e eficaz. Uma das preocupações do Benfica foi evitar, numa fase inicial, a forma como o FC Porto construía de trás o seu jogo, obrigando a bater longo.



Apesar dessa pressão, por duas vezes Oliver e Herrera aproveitaram o passe longo nas costas dos laterais, o que deixou Jesus alterado. A luta a meio-campo foi evidente e as faltas sucediam-se. O Benfica foi gerindo o jogo, pressionando por vezes, defendendo mais baixo outras, mas sempre com a preocupação de fechar o caminho para a baliza e os corredores laterais, de onde surgia normalmente o perigo.

Manteve-se organizado, compacto e sempre à espreita de um erro defensivo do FC Porto ou a possibilidade de uma saída rápida.

À equipa da casa cabia assumir o jogo desde o início. Fê-lo com vontade e determinação. Mal perdia a bola iniciava a recuperação e procurava através da movimentação dos seus médios e a profundidade dos laterais criar perigo ou desequilíbrios na bem estruturada defensiva do Benfica.

Podia ter marcado mas acabou por sofrer num lançamento de linha lateral. Erro da equipa portista, com destaque para Danilo que não acompanhou Lima. Não é admissível um erro destes, que ainda por cima alterou o jogo. O futebol vive de erros e o Benfica aproveitou.

A partir daqui a estratégia de Jesus mais se evidenciou. O FC Porto tentava e o Benfica, sempre organizado, controlava defensivamente a partida. Fabiano assistia e quando foi chamado a intervir a remate de Talisca, aos 55 minutos, não o fez como devia. Lima encostou para o segundo do Benfica.

Este golo sentenciou o jogo, apesar da alma com que Quaresma entrou. Não foi suficiente. O FC Porto sai derrotado, muito por culpa própria. Ineficaz a concretizar, era preciso um ritmo mais forte e uma outra intensidade, sobretudo após a desvantagem.

O FC Porto tem melhores individualidades, mas algumas falharam. Acabaram por não responder como deviam, enquanto equipa. Nem sempre quem está por cima do jogo e assume a iniciativa ganha. O Benfica foi o vencedor, mas não fez um grande jogo.

Uma estratégia assente em boa organização defensiva e procura de erro ou saída rápida acabou por fazer dano. Os golos em momentos-chave, ainda na primeira parte e no início da segunda, reforçaram esta forma de estar e conduziram a uma vitória que coloca o Benfica mais longe dos adversários diretos.

Jesus definiu uma estratégia e ela resultou em pleno. Com alguma sorte, como referiu, mas a sorte também faz parte do jogo.

Em relação aos jogadores, algumas notas.

Danilo foi o melhor do FC Porto. Apesar do erro no golo, não enfrentou problemas defensivos e esteve sempre em jogo. Subiu pelo corredor e procurou com movimentos interiores criar desequilíbrios e surpreender.

Tello fez da velocidade a sua arma. Criou perigo mas podia ter sido mais aproveitado. Na altura da saída, Lopetegui preferiu o espanhol a Brahimi.

Herrera e Oliver. São os médios que fazem jogar a equipa. Pressionam, marcam o ritmo e desequilibram. Neste jogo foram regulares mas pedia-se mais passes, velocidade, intensidade e movimentos de ruptura para criar os espaços para outros. Além dos necessários desequilíbrios na equipa adversária.

Jackson é o melhor marcador, mas ficou aquém do que pode fazer.
Trabalhou para a equipa mas falhou onde se espera que esteja presente.
O remate defendido por Júlio César, aos 32 minutos, e os cabeceamentos aos 77 e 80 minutos dizem bem da ineficácia.



Brahimi também esteve abaixo do que pode fazer. Já o escrevi aqui, é dos melhores. Veio enriquecer a nossa Liga e naturalmente fortalecer o FC Porto. Esperava muito mais velocidade, desequilíbrios e assistências. Passou pelo jogo e deixou-nos sempre à espera que algo de bom pudesse acontecer. Lopetegui também terá pensado dessa forma ao deixá-lo em campo e retirar Tello. Exige-se mais a quem tem qualidade e capacidade para fazer coisas diferentes e melhores.

Mas não aconteceu. É verdade que Maxi trazia a lição bem estudada e não o largava sempre que a bola lhe chegava mas Brahimi tem a capacidade para em muitas situações ir embora. Não o fez e agarrou-se demasiado à bola. Muitos toques e um passe quase sempre para o lado e para trás foram a sua marca no domingo. Não lhe retira a qualidade e capacidade que tem, mas a equipa precisava dele no máximo.

Do lado do Benfica algumas notas.

André Almeida levou amarelo aos 2 minutos por falta sobre Tello. Condicionado desde o início, geriu bem essa situação durante o resto da partida. Apanhou com Tello, Quaresma e Danilo. O normal, quando um dos defesas leva amarelo, é ir pra cima dele, procurar o 1x1 e obrigá-lo a cometer falta e consequente segundo amarelo. Houve pouco disso e mérito também para o André que, perante adversários de qualidade e com velocidade, soube defender-se não colocando em risco a equipa.



Sem ter feito um grande jogo, Enzo foi o equilíbrio da equipa. Experiente, soube gerir e controlar o espaço e a bola e levar o Benfica sempre no seu caminho. Gaitán agitou o jogo, com velocidade e alguns movimentos interiores. O único que de alguma forma saiu daquele equilíbrio e organização montados por Jesus.

Lima foi o homem do jogo. Havia dúvidas quanto à sua utilização, mas Jesus sabe, e referiu-o depois do jogo, que nenhum dos que compõem o plantel têm as características de Lima: rápido, lutador e com capacidade para pressionar e ser o primeiro a defender. Foi importante na forma como a equipa se organizou defensivamente e depois fez o que se espera de um avançado. Tocou poucas vezes na bola mas apareceu em dois momentos a encostar e a ficar na história.