Clássico com pouca qualidade. Esperava muito mais das duas melhores equipas portuguesas do momento. Mas o jogo teve notas positivas: desde logo o ambiente extraordinário que se viveu na Luz. Assisti pela TV mas deu para perceber o espectáculo. Para os jogadores não há melhor que um estádio cheio. O fair play e o desportivismo demonstrado pelos jogadores também merece nota positiva.
Tal como positiva foi a actuação de Jorge Sousa e a sua equipa: bom trabalho e sempre com o jogo controlado.

Jackson Martinez foi o melhor do Porto. Incansável, com muita qualidade, foi o elemento mais perigoso e com que tiveram de se preocupar os defesas do Benfica. O FC Porto com Danilo e Alex Sandro é diferente para melhor. Estiveram bem a par de Jackson e revelaram a importância que assumem no plano de jogo e na equipa.
Um vai sair, veremos como será com os outros dois.

Samaris foi, quanto a mim, o melhor do Benfica e assumiu papel importante na estratégia de Jesus. Fez um bom jogo, a pressionar quando necessário, forte nos duelos, bem posicionado e foi um importante apoio para os centrais e restantes companheiros de sector.

Mas vamos ao jogo. As equipas partiam com expectativas diferentes. Ao FC Porto era a vitória que interessava. O Benfica jogava com dois resultados - e ainda havia um terceiro...

Em relação aos onzes apresentados a surpresa esteve no FC Porto. Do lado do Benfica a ausência de Salvio foi colmatada com Talisca. Não tem as mesmas características e, tanto na esquerda como na direita, a ala não é a sua posição. O rendimento reflecte-se mas trabalhou em função da estratégia definida para a equipa.

No FC Porto, as ausências de Fabiano, Herrera e Quaresma foram para mim uma surpresa. Fabiano jogou sempre e apenas esteve de fora (dois jogos) quando foi expulso. Quaresma passa por um bom momento e tem sido decisivo. Os cinco golos nos ultimos quatro jogos, entre Liga dos Campeões e portuguesa, são a prova disso.
A confiança e a vontade de continuar a ser importante estavam lá. Por último, Herrera. É o jogador com mais jogos (42) do plantel e tem 3207 minutos de utilização. Só é batido por Danilo (3310 minutos) e Fabiano (3342). A sua importância parece muita.

Teve Munique alguma coisa a ver com esta decisão? Não creio. Também não foi a questão física, porque jogaram no Dragão a 15, e a 21 em Munique, com descanso pelo meio no jogo a 18. Tiveram mais cinco dias até ao jogo da luz.

É certo que Lopetegui é quem treina diariamente com eles e faz as escolhas em função do que acha o mais correcto para cada jogo, mas estamos a falar de jogadores com rendimento. No jogo da época conta-se com os melhores e os que estão melhor e - salvo qualquer situação que desconheça - para mim tinham de estar na equipa inicial.

O onze apresentado pelo FC Porto trazia o reforço do meio campo e da zona central. A primeira parte foi um jogo de luta, intenso e disputado no meio campo. Oportunidades, apenas uma, num remate de Jackson dentro da área (34 minutos) e os guarda-redes não foram chamados uma vez.

Esperava mais do FC Porto, com uma entrada e estratégia diferentes, porque precisava de vencer. Foram 45 minutos desperdiçados para quem o tempo era importante. Contava com outra abordagem de Lopetegui, mas o seu pensamento foi outro e deixou para a segunda parte o eventual risco a correr.

Do lado do Benfica, Jesus fez a equipa jogar em função da vantagem que trazia. Como o próprio referiu «não ganhando, era importante não perder. Foi o que aconteceu» e isso diz bem da sua estratégia e pensamento para o jogo.

Faltou aparecer um golo para obrigar os treinadores a sair das amarras com que partiram para o jogo. Não aconteceu e Lopetegui assumiu algum risco no inicio da segunda parte com as substituições efectuadas (aos 45, 55 e 64 minutos). Mesmo assim, para mim foi curto, face ao que estava em causa.

Jesus, por sua vez, reforçou a zona central aos 64 minutos. O pensamento e a estratégia acentuavam-se.

Houve luta, esforço e empenho de todos os jogadores e apesar de um jogo mais aberto na segunda parte, este clássico saldou-se por muitas cautelas e pouca emoção. A qualidade individual dos jogadores e o valor das equipas é superior ao que demonstraram. Falaram mais alto as estratégias definidas pelos treinadores.

O Benfica e Jesus saem vencedores deste duelo, a dependerem de si para a conquista do título. Um dos objectivos do jogo foi conseguido e é isso que conta no final. A vantagem mantém-se e tem tudo para a revalidação do titulo. Ao FC Porto resta vencer os jogos que faltam e esperar que o Benfica falhe.

Por último, a confusão no final entre os treinadores. O cumprimento antes do início do jogo representou uma relação profissional e cordial. Já o que aconteceu no final não faz sentido.

Se Lopetegui tinha alguma coisa a dizer, como pelos vistos tinha, teve outras oportunidades para fazê-lo. Esperou pelo fim, com o resultado final a condicionar o seu pensamento e a sua acção. Não sei o que foi dito mas não devem ter sido palavras elogiosas para Jesus, tal foi a reacção. Saíram mal na fotografia e por pouco a situação não piorou. Valeram as intervenções de Antero Henriques e Raul José.

Mesmo sabendo que este tipo de situações podem acontecer, os lideres têm de ter um comportamento acima de tudo isto. Liderar não é só fazer o onze mas também saber agir com correcção e desportivismo em todos os momentos.