As várias decisões na Liga duraram até a última jornada. No topo, na luta pela Europa e despromoção houve incerteza e viveram-se muitas emoções.

O que ressalta é, naturalmente, a conquista do título pelo Benfica, mas também a conquista de um lugar europeu pelo Rio Ave e a surpreendente manutenção do Tondela.

A Liga é longa e o caminho nem sempre é a direito e por isso retenho uma frase dita várias vezes por Rui Vitória «as contas fazem-se no fim». Foi o mote, numa fase inicial da época em que os resultados obtidos não eram os melhores.

Isto serve para dizer que provavelmente poucos acreditariam que, depois do mau início, o Benfica pudesse ser campeão.

Por agora e numa competição longa como é a Liga, uns dados para perceber de que forma foi repartida a liderança. Até à 8ªjornada, foi partilhada, com FC Porto e Sporting sempre na frente e o Benfica com mau arranque.

O FC Porto passou por lá sozinho apenas numa jornada, a 14ª. O Benfica assumiu a liderança partilhada com o Sporting na 21ª e na 25ª passou a estar sozinho. Não mais de lá saiu.

O Sporting foi quem mais tempo passou isolado na liderança, entre a 8ª e a 13ª, entre a 15ª e a 20ª e entre a 22ª e a 24ª. Mas não importa ter sido a equipa que mais tempo esteve na frente: não foi o pretendido, o Sporting termina a época com um sabor amargo.

Ao longo da prova foi quem apresentou melhor qualidade de jogo, com um futebol agradável e que entusiasmava e terminou melhor que o Benfica. Mas isso não chegou.

À 13ª jornada tinha dois pontos de avanço sobre o FC Porto e sete pontos de avanço sobre o Benfica. Entre a derrota na Madeira, frente ao União, e os empates consentidos em Alvalade perante Tondela e Rio Ave a diferença foi diminuindo. O empate em Guimarães na 24ª jornada, imediatamente anterior ao confronto com o Benfica, tornou este momento decisivo e o Sporting não o ultrapassou.

Para o Sporting importa olhar para dentro e tirar conclusões. Quem teve sete pontos de vantagem sobre o seu adversário directo e permitiu três empates em casa e uma derrota em casa com o rival num momento decisivo da época tem de perceber como tudo isto aconteceu. Uma palavra para os adeptos que foram incansáveis no apoio, quer em Alvalade quer fora.

O Benfica partiu de trás, com um início de época complicado, mas conseguiu encontrar o seu caminho. Rui Vitória fez um grande trabalho, olhando para dentro e encontrando soluções. Depois de três derrotas nos confrontos com FC Porto e Sporting, o jogo de Alvalade a 5 de Março, acabaria por ser o teste final e decisivo. A vitória no jogo acabou por ser determinante, invertendo os papéis e transformando-se em teste ultrapassado.

Este acabou por ser, para mim, o momento da Liga. Daí em diante cada um fazia o seu papel. Ao Sporting competia vencer todos os jogo, ao Benfica o erro não era permitido.

Nenhum cedeu e a fotografia tirada a 5 de Março valeu até final. O Benfica valeu pelo seu todo, pelo espírito de equipa que apresentou, pela capacidade para sofrer e acreditar que era possível. Para a história fica o registo de um campeão com 29 vitórias, um empate e quatro derrotas e um saldo de 88 golos marcados e 22 sofridos, traduzidos em 88 pontos.

Vamos aos destaques.

Para mim, o rosto principal deste título é Rui Vitória. A sua chegada coincidiu com a guerra entre Benfica-Jesus-Sporting, em que cedo se viu embrulhado. Os maus resultados iniciais trouxeram desconfiança e fragilizaram a sua posição. Passou por momentos difíceis e complicados mas soube estar, reagir e encontrar o seu caminho e o da equipa.

Numa caminhada longa, o prémio chegou no fim.

A baliza é sempre uma posição importante em qualquer equipa e o Benfica tem dois bons guarda-redes. Júlio Cesar esteve na maior parte do tempo mas a sua lesão fez Ederson entrar a 5 de Março, e logo em Alvalade. O jovem brasileiro correspondeu, deu segurança e tranquilidade e afirmou-se. Rui Vitória terá um bom problema para resolver na próxima época, caso fiquem os dois.

Jardel tem sido importante. Não deslumbra mas é eficaz e tem contribuído para a estabilidade da zona central, quer com Luisão, com Lisandro e nomeadamente com Lindelof. O jovem sueco entrou a 5 de Fevereiro no onze, aproveitou a oportunidade que surgiu e nunca mais saiu.

Renato Sanches transformou a equipa. A sua entrada no onze trouxe dinâmica, irreverência e uma capacidade de luta num sector muito importante. Aos 18 anos foi uma das figuras, revelando maturidade e personalidade.

Jonas e Mitroglou foram a dupla de ataque.

Mais do que falar nas suas qualidades, os golos que marcaram são o seu cartão de visita.

O brasileiro marcou 32 golos e foi o máximo goleador da Liga, o grego marcou 19. Juntos fizeram 58% dos golos e foram determinantes. O mesmo pode ser dito dos adeptos, decisivos no apoio à equipa.

Termino com o Tondela, que fez o que poucos pensavam ser possível. No final da primeira volta tinha oito pontos e estava a nove pontos da permanência. À 26ª jornada tinha apenas conquistado 13 pontos e estava a 11 da linha de água. De lá para cá uma recuperação fantástica: Petit foi o grande responsável por esta reviravolta, a equipa acreditou e foi conquistando pontos e vitorias improváveis. Acabou por conseguir um final feliz e surpreendente, em que vários factores se conjugaram: em ano de estreia na primeira Liga, o Tondela manteve-se.

P.S. Aguardo a lista dos 23 para o Europeu. Não acredito em surpresas.