Começam nesta terça-feira os quartos de final da Liga dos Campeões, com os jogos Atlético Madrid-Real Madrid e Juventus-Mónaco. Na quarta, a primeira mão fica completa com o FC Porto-Bayern Munique e o PSG-Barcelona.

Só grandes jogos, o FC Porto como única equipa portuguesa na competição e ainda o Monaco, com vários portugueses, o que nos deixa satisfeitos. Leonardo Jardim, João Moutinho, Ricardo Carvalho e o jovem Bernardo Silva vão ajudando a equipa do principado a sonhar. E, neste confronto com o campeão italiano, não são favoritos. Já vimos que isso não assusta, aguardemos pelo resultado final.

O FC Porto está com mérito nesta fase mas prepara-se para o seu maior desafio até ao momento. Quais as dificuldades que o esperam? Muitas, seguramente.

O Bayern tem vários lesionados de nomeada e isso pode ser uma vantagem para a equipa portuguesa. Mas, se é certo que perdeu jogadores de muita qualidade, a maquina alemã com pensamento espanhol continua forte e demolidora.

Na semana passada, Guardiola pediu por favor para não ter mais lesionados. Uma declaração que diz bem da preocupação que está a viver, e das dificuldades que o esperam na melhor competição de clubes. No fim de semana, o técnico catalão só tinha quatro suplentes. Mesmo uma equipa rica e com soluções passa por dificuldades ao longo da temporada. E estas são, nesta altura, seguramente mais do todos estavam à espera.

A Guardiola só se pede o melhor. A Liga dos Campeões é o destino que a equipa alemã procura e Guardiola quer marcar a história. É esta equipa que o FC Porto vai defrontar. Mas as equipas têm situações em comum. Desde logo, o facto de serem lideradas por espanhóis. E, com as devidas diferenças, próprias de cada um, com princípios e conceitos de jogo parecidos.

Isto vem também a propósito da entrevista de Lopetegui ao site da UEFA, no passado sábado. A questão da posse de bola está explicada pelo técnico dos portistas e, sendo essa também umas das imagens de marca das equipas de Guardiola, a conversa começa.

Olhamos para as estatisticas na UEFA e verificamos que o Bayern está em primeiro lugar em muitas das variáveis, mas o FC Porto também apresenta bons indicadores.

O Bayern lidera nos golos marcados, com 23 e média de 2,88 por jogo, tendo média de 0,5 de golos sofridos. Mas o FC Porto vem logo atrás, com 21 golos marcados, média de 2,63 e 0,63 golos sofridos. Nos remates (156) e ocasiões de golo (19,5 em média), mais uma vez o Bayern lidera. O Porto vem na quarta posição, com 121 remates e tem 15,13 ocasiões de golo, em média.

O Bayern lidera a lista no capítulo da posse de bola, com 64% e 40 minutos de tempo de jogo. O FC Porto volta a estar bem nesse aspecto: ocupa a terceira posição com 59% e 36 minutos, atrás do Barcelona, com 63% e 40 minutos.

Todos estes dados demonstram a força da equipa alemã que calhou em sorte ao FC Porto. Mas voltemos ao tema da entrevista de Lopetegui e aquilo que une os dois treinadores em confronto. A posse de bola parte como ideia principal de cada um. Guardiola tem já um caminho percorrido de sucesso e Lopetegui procura afirmar uma ideia de jogo, nesta sua primeira liderança técnica de uma grande equipa. 

Aquilo que cada um deles viveu, as situações por que passaram, têm influência no processo que aplicam às suas equipas, sempre com as variantes que o cunho pessoal faz. Quer um quer outro partilham muitos dos mesmos princípios e ideias. E olhando para as estatísticas das equipas na Liga dos Campeões verificamos isso mesmo.

Aquilo que ambos querem para as suas equipas revela-se na prática, com resultados. Querem ter a bola mais que os outros, controlando a partida e sendo donos do jogo. Quem tem a bola manda e está mais próximo de ganhar.

Gosto da ideia do jogo ser controlado pela posse de bola, sempre com a baliza como objectivo, mesmo que por vezes a posse contenha passes laterais e atrasados. Isto não deve confundir-se com uma posse de bola passiva, limitada a esses mesmos passes, sem objectivo e quase sempre inconsequente.

Num jogo de posse, os apoios laterais e atrasados não são mais do que um caminho para manter a bola e, ao mesmo tempo, procurar alternativas para criar os desequilíbrios na equipa contrária.

No tempo do Barcelona a equipa seguia o pensamento de Guardiola com uma posse de bola esmagadora, vitórias em quase todas as frentes e um número expressivo de títulos. Agora no Bayern, o técnico mantém a ideia e o princípio, aliando-os a uma capacidade física impressionante dos jogadores e ao rigor no cumprimento das tarefas.

O jogador alemão já não se destaca apenas pela força e frieza: acrescenta todas as vertentes técnico-tácticas do jogo à capacidade física e mental, o que resulta numa forte combinação. Os resultados são bem evidentes nos últimos anos.

A mudança do paradigma no futebol alemão começou há 15 anos e o investimento realizado deu estes frutos. A meu ver, a chegada de Guardiola à liderança do Bayern de Munique reforçou o clube no topo e trouxe indirectamente à seleção alemã o que lhe faltava para atingir o sucesso. É certo que não foi ele a ganhar o título mundial mas quem segue o futebol sabe que a ideia e os princípios de jogo da Mannschaft tinham a identidade do clube bávaro.

Apesar dos seus méritos, que são muitos, Joachim Löw , no comando desde 2006, soube aproveitar as características dos jogadores e do clube que representavam em maioria. Esse aproveitamento deu os resultados que todos sabemos. Dito isto, vamos ter em confronto duas boas equipas que têm como base a manutenção da posse de bola e tudo parte daí.

Será interessante seguir o jogo e perceber quem vai sair vencedor neste aspecto. O favorito é o Bayern, porque tem mais qualidade, mas esta é uma boa altura para ultrapassar o campeão alemão. Com as baixas que tem e uma noite sem estar ao seu nível, acredito na possibilidade de o FC Porto seguir em frente.

Ao mesmo tempo, recordo as palavras de Lopetegui na entrevista ao site da UEFA. Por vezes quem tem 20% da posse de bola também vence. Não sei se será com estes números, mas com esta ideia, que Lopetegui vai querer vencer a batalha dos treinadores espanhóis. Nos números finais, é natural que o Bayern seja superior. Cabe ao FC Porto procurar as fraquezas e perceber onde pode explorá-las para ser eficaz e sair vencedor.