Estamos em semana de jogos das selecções, e Portugal lá vai no seu caminho. A Arménia já lá vai, e a Seleção defronta hoje a Argentina, num jogo particular em que o aspecto financeiro assume relevância. Mas o prestigio, esse, está sempre em jogo.

Esta jornada europeia trouxe varias novidades e cabeças já começaram a rolar. Dick Advocat já não nos vai defrontar ao serviço da Sérvia, e o italiano Claudio Ranieri, com um 1 ponto conquistado em 3 jogos no comando da selecção grega, também já está de saída. Perder com as Ilhas Faroe em casa não lembra a ninguém e imagino como os gregos devem ter saudades de Fernando Santos.

Mas o engenheiro lidera agora os nossos destinos - e para já bem, com duas vitórias. Já se percebeu que a equipa ainda não encontrou o modelo certo e o vai adaptando sempre, em função das necessidades e dificuldades. Mas com um trio que faz questão de jogar: Ronaldo, Nani (são certos) e Danny têm assumido a titularidade e vão variando (principalmente Danny) de posição em função do pretendido para o jogo.

O jogador do Zenit já foi um falso avançado, já jogou sobre a ala, já foi o vértice do losango do meio campo e, apesar de não apresentar um rendimento elevado, tem merecido a confiança de Fernando Santos. O seleccionador procura outras soluções e entende que o nosso jogo fica mais imprevisível com estes três jogadores, uma vezes acompanhados por um avançado, outras vezes sem posição fixa, fazendo uso da sua criatividade, velocidade e dinâmica.

Claro que outros ajustes são precisos e Fernando Santos sabe. Mas, pegando no artigo do Nuno Madureira da semana passada, vemos que apenas 44% dos jogadores que actuam na nossa liga são portugueses e verificamos também os reflexos dessa realidade nas nossas selecções.

Olhando para o impacto na selecção principal verificamos que nesta ultima convocatória, composta por 24 jogadores apenas 9 jogam em Portugal (37,5%). No onze que defrontou a Arménia apenas Rui Patricio e Nani (que bem podia estar fora) actuam em Portugal (18%). Os melhores jogam fora e as escolhas são feitas sobretudo lá. Puxando o filme mais atrás para os outros jogos desta qualificação vemos que com a Dinamarca foram cinco os jogadores que jogam em Portugal (45%) e com Paulo Bento, frente à Albânia, foram quatro os que jogam na nossa Liga (36%). Já lá vai o tempo em que a selecção tinha por base os três grandes.

E como estamos em relação á media de idades da selecção portuguesa ? Depois de um mau Mundial, um dos temas falados foi a renovação e a necessidade de sangue novo na selecção. Em relação à média de idades, de lá para cá, aumentou. No Mundial a média dos onzes nos três jogos esteve nos 28,88 anos de idade. A fase de qualificação para o Europeu começou com Paulo Bento e contra a Albânia, tivemos no onze uma média de idades mais baixa de 27,18. A entrada de Fernando Santos coincidiu com um aumento no jogo da Dinamarca para uma média de idades de 28,91.

Neste último jogo contra a Arménia, a média subiu mais um pouco para valor de 29,64.

Quer isto dizer que não há renovação ? Se olharmos para os números verificamos que não, pelo menos para já. Mas a renovação é um processo gradual e progressivo. Vai acontecer naturalmente mas, nesta altura, Fernando Santos entende que estes jogadores justificam a presença. Podemos ou não concordar com as entradas e com as ausências mas importa ganhar e marcar presença no Europeu. O seleccionador sabe desta obrigação e faz as suas escolhas.

No meio das escolhas e dos jogos um jovem afirmou-se: Raphael Guerreiro foi convocado e titular. Com as ausências de Coentrão e de Eliseu (ultimo titular) aproveitou a oportunidade e jogou contra a Arménia como se estivesse nessa posição há muito tempo. Descoberto por Alexandre Silva, um dos treinadores adjuntos de Rui Jorge nos sub 21, num trabalho poucas vezes valorizado, numa altura em que a base de recrutamento não é muita e todas as observações assumem importância.

O resultado está à vista. Ganhamos um lateral esquerdo com muita qualidade. Formado no futebol francês, é titular no Lorient. Por cá, pudemos acompanhar o seu percurso nos sub-21. Rui Jorge não prescinde dele e tive a oportunidade de ver ao vivo os jogos contra a Holanda para o play off do Europeu, com boas exibições.

A titularidade contra a Arménia revelou-nos o mesmo jogador. Não quis saber se estava na estreia na selecção principal, apenas quis fazer o seu jogo e demonstrar a sua qualidade. Assim foi: tranquilo, seguro e com personalidade. Bem a defender, subiu pelo corredor, dando a profundidade à equipa que é normal na sua forma de actuar. Bem no passe, a cruzar e dá soluções aos companheiros. Grande estreia e espero que tenha continuidade. Temos lateral esquerdo para muitos anos e acredito que os grandes portugueses estejam atentos.