A semana ficou marcada pela saída de Paulo Bento da selecção portuguesa. A decisão comunicada na passada quinta-feira reflecte, no meu ponto de vista, um processo mal conduzido pelo Presidente da FPF e sua direcção.

Confiança e compromisso foram palavras usadas desde o início.

A FPF tem todo o direito e legitimidade para tomar decisões, mas não as consigo entender.

Voltando atrás no tempo (foi apenas em Abril…), a renovação de Paulo Bento, por mais dois anos, encerrava a dúvida sobre se iria ao Mundial 2014 com contrato.

Esta renovação teve na altura palavras elogiosas por parte de Fernando Gomes, colocando o seleccionador como um dos melhores do mundo e enfatizando que Paulo Bento era a pessoa certa para atacar a campanha para o Europeu 2016 e a renovação, natural e progressiva, que seria inevitável. Este momento foi visto como sinónimo da relação sólida entre a FPF e o seleccionador. Nada de novo, até porque a mesma situação se tinha passado antes do Europeu 2012.

A diferença esteve no excelente comportamento da selecção na altura, que trouxe todos agarrados ao sucesso. O mesmo não se pode dizer quando entretanto nada correu como previsto.

Acredito, e para mim nem outra coisa faria sentido, que, aquando da renovação de contrato, todos os cenários foram equacionados. Sobretudo a não passagem da fase de grupos do Mundial 2014, objectivo mínimo definido para a nossa participação no Brasil.

Dito isto, a confiança e o compromisso eram bem evidentes, independentemente do que se passasse no Mundial. Paulo Bento era o homem certo. Mas o Mundial correu mal e tudo se questionou: desde a preparação, o local de estágio, as escolhas do seleccionador, o rendimento dos jogadores, entre outras questões.

A posição do seleccionador estava em causa.

A conferência de Humberto Coelho e Henrique Jones trouxe ainda mais confusão.

Que sentido faria uma conferência daquelas 48 horas antes do último jogo da fase de grupos, ainda por cima decisivo? Nenhum, como se veio a verificar perante aquele quadro. Quem se lembrou daquilo?

Apesar de tudo a vitória contra o Gana não foi suficiente. As críticas aumentaram de tom e a questão da continuidade de Paulo Bento passou à ordem do dia. Fernando Gomes disse no final desse jogo que Portugal falhou e deixou a análise e respostas para mais tarde.

O pós-Mundial serviu para se questionar tudo e todos, com o seleccionador à cabeça. A 26 de Agosto as conclusões do Presidente da FPF e sua direcção deixaram bem claro o compromisso e a confiança no seleccionador nacional.

Entre as três decisões, uma delas viu a sua posição reforçada com a criação de um Gabinete de Coordenação Técnica Nacional, liderado pelo próprio e com a presença de Rui Jorge (sub-21) e Ilídio Vale (sub-20 e coordenador da formação).

Sei que a comunicação existia entre os diversos escalões, mas então quais eram os contornos e funções deste novo gabinete? Não foi explicado, mas uma coisa era certa: Paulo Bento contava com o reforço da confiança do Presidente e da direcção da FPF.

Três dias depois surgiu a primeira convocatória para o jogo com a Albânia. O início da campanha do Euro 2016 estava em marcha e as dúvidas sobre quem liderava este processo não existiam.

A 7 de setembro perdemos estrondosamente com a Albânia. A derrota em casa 0-1, impensável para quase a totalidade das pessoas, trouxe a continuidade de Paulo Bento novamente para a ordem do dia.

Quatro dias depois, a notícia chegava finalmente, para alívio de alguns. Paulo Bento deixava de ser o seleccionador nacional numa saída de comum acordo. Logo saíram informações de que tinha sido Paulo Bento a pedir para deixar a seleção. Conhecendo como o conheço não acredito que o processo tenha decorrido dessa forma.

Mas o que mudou em dez dias para se ter perdido a confiança num treinador que tinha renovado uns meses antes e viu reforçados os poderes três dias antes da convocatória para o jogo da Albânia?

Apenas vi um comunicado a referir a saída de Paulo Bento por mútuo acordo. Ainda se entendia se a decisão de saída fosse após o Mundial 2014 (apesar de não concordar). Nessa altura existiam argumentos a que a FPF podia agarrar-se. Sendo discutível, era uma tomada de posição. Agora não.

A derrota foi má, é óbvio, e deixa-nos em choque perante uma fraca prestação. Mas estamos apenas no primeiro jogo, não pode ser isto a ditar a saída. Veremos as explicações e se será mais uma conferência na linha das outras duas.

Uma nota final para aquele que foi o percurso de Paulo Bento. Quase quatro anos em que, de uma forma geral, foi dado pouco mérito ao seu trabalho. Mas relembro a forma como pegou na selecção perante um cenário complicado e a levou a uma qualificação e excelente participação no Euro 2012.

A qualificação para o Mundial, com altos e baixos, lá se fez. Fica a nota de não termos atingido o objectivo mínimo definido. Para mim, foi um trabalho positivo. Sei o orgulho que Paulo Bento teve, e demonstrou, em comandar a nossa selecção. Mas, como é normal, rei morto, rei posto.

A procura pelo novo seleccionador já está em curso. No próprio dia, e nos que seguiram, vários nomes foram adiantados. Qual o perfil e quem será melhor para liderar.

A vida não vai ser fácil para quem chegar, sabendo que tem havido um decréscimo de qualidade dos jogadores e da selecção. A renovação vai ser feita com todas as dificuldades conhecidas. Vencer será a palavra de ordem e a presença de Portugal no Europeu é o que se espera.

Estes serão os objectivos colocados a quem vier. Não podia ser diferente, mas a tarefa não se afigura fácil. Estou curioso para ver o discurso da direcção da FPF.

Continuo a acreditar na presença no Europeu, independentemente da escolha.

P.S.1 – A Liga Portuguesa regressou e com surpresas. Na frente quatro equipas, com Rio Ave e Vitória de Guimarães colocados entre FC Porto e Benfica. Excelente o comportamento de Belenenses e Vitória, perante Sporting e FC Porto, o que diz bem do bom início de cada um. Uma nota final para o Penafiel. Sem nenhum ponto, importa reagir. A recepção ao Vitória de Setubal tem de trazer mudança.

P.S. 2 – Começa a Liga dos Campeões e a Liga Europa. FC Porto e Benfica, mais batidos, jogam em casa e esperam-se resultados positivos. O Sporting regressa a estas andanças e aguarda-se que o empate de sábado não tenha deixado marcas. Rio ave joga em casa perante um adversário difícil, mas a equipa de Vila do Conde tem-nos surpreendido. O Estoril vai até Eihdoven e esperam-se bastantes dificuldades. Perante desafios e dificuldades acrescidas veremos a resposta de cada um.