Em Braga assistiu-se a um bom jogo. Um Sp. Braga que sabe perfeitamente o que fazer em campo, Jesualdo tem a equipa estruturada e percebe-se a sua competitividade. O que seria o jogo se não tivesse de alterar todo um corredor central, com uma expulsão e uma lesão ao minuto 30? Tinha mais entusiasmo e era seguramente diferente, mas o Sporting não tem culpa. O jogo perdeu espectacularidade, mas viu-se que a equipa soube reagir. Arrumou as peças e lá foi à luta com as suas armas. Perdeu mas no final Jesualdo, bem, soube valorizar o comportamento e atitude dos seus jogadores.

Alan foi o melhor. Experiente, a dar o ritmo certo. Muito bem, terminou com um grande golo, pleno de intenção. Para o Sporting, jogar contra dez não o fez alterar o pensamento para o jogo. Poderia pensar-se que assistiríamos a uma correria em direcção à baliza de Eduardo. Não foi isso que aconteceu. O Sporting de Leonardo Jardim jogou como se enfrentasse onze. Foi paciente, por vezes em demasia, mas sempre com o intuito de chegar bem a zonas de finalização.

Jardim sabia que não podia partir o jogo. Seria mau para a sua equipa expor-se desnecessariamente às transições rápidas do Braga. Por isso tentou controlar o jogo, marcando o seu ritmo. Arriscou, como disse Jardim, «consoante as necessidades do jogo». Conservador? Pouco ambicioso? Parece-me realismo. Jardim sabe que o Sporting é uma equipa em construção e em crescimento. Jogar deliberadamente ao ataque não era solução. O Sporting não sabe fazê-lo porque não é ainda uma equipa consistente e preparada para o que não sai bem. Procurou o equilíbrio colectivo, com as linhas juntas, não deixando partir o jogo. A felicidade procura-se. O Sporting, ao seu ritmo e com dose de paciência, acabou por a conseguir num erro de Eduardo.
Está em segundo lugar e Jardim continua, e a meu ver bem, a não querer dar um passo maior do que as pernas. A luta pela vitória em cada jogo é o seu objectivo. Está na 6ª jornada e ainda há tanto para jogar.

Uma nota para a SAD do Braga com António Salvador. Terminar o ano com um saldo positivo de 5,4 milhões de euros e reduzir o orçamento em ano de ausência das competições europeias é boa gestão. Os seus anos de presidência construíram um Sporting de Braga forte. Ser um grande é outra conversa. Precisa de história e dimensão e isso apenas com mais tempo e outros resultados pode ambicionar.

As equipas portuguesas voltam a ter jogos europeus a meio da semana. Na primeira jornada europeia Jesus e Paulo Fonseca referiram a dificuldade que é jogar mais e treinar menos mas aceitaram o facto de estar entre os melhores. Não há outra forma. É assim. Dos outros treinadores só ouvimos palavras de satisfação por estar nestes jogos europeus. Então porquê voltar ao tema do desgaste das equipas? Estar a jogar na Europa implica estar preparado. Desgaste físico? Nem pensar para quem tem plantel recheado de soluções como Benfica e FC Porto.

Difícil é para Vitória, Estoril e Paços. Treinadores estreantes e plantéis com menos soluções. Isto retira ambição e vontade vencer? Claro que não. Obriga isso sim a um planeamento adequado e a uma gestão rigorosa do plantel. Enquanto os jogadores dos clubes grandes estão habituados a este ritmo, os outros superam a falta deste ritmo com o enorme desejo de participar nestes jogos. A experiência é importante nestas etapas mas o desafio de serem melhores a cada jogo também ajuda quem é novo nestas andanças. Perguntando a qualquer treinador onde é que gostaria de estar a jogar, todos responderiam que na Europa. Entre os melhores. Porquê? Porque é sinal de valorização, prestígio e dinheiro.

Mas alguns também querem tempo. Tempo para treinar entre jogos. Tempo para trabalhar a identidade da equipa. Tempo para trabalhar o processo defensivo e ofensivo. Corrigir o que esteve menos bem e potenciar o que de melhor se fez. Recuperar jogadores lesionados e ter tempo para preparar com calma o jogo seguinte. Estudar o adversário. Uma semana inteira entre cada jogo todo o ano. Esqueçam. Isso não existe. Este não é o mundo de quem quer estar entre os melhores. Este é um tempo de exigência e de estar preparado.