Por Pedro Catita

Foi um indicador transmitido desde cedo pelas equipas de arbitragem no Europeu 2016. O critério de marcação das faltas ia ser mais apertado. É o (um) novo critério, aplicado em todas as provas nacionais.

Foi visível designadamente na marcação das faltas, na vigilância aos bloqueios defensivos e ofensivos, e na indevida e não atempada utilização dos membros em oposição às movimentações ofensivas com e sem bola dos adversários.

Qual a lição e o desafio a tirar? O futsalista vai ter que continuar a ser o mais agressivo possível, quer a atacar quer a defender mas... agressivo do ponto de vista técnico-tático, avaliando o crédito-débito de cada ação potencialmente faltosa face ao resultado, face ao tempo de jogo, face ao local de campo, face à taxa e características de companheiros/adversários presentes, face ao contexto competitivo, entre outros aspetos. Agressividade técnico-tática é o (um) novo desafio. Em cada lance, em cada parte, em cada encontro, perante adversários diferentes, perante cada jogo único.

Foi aliás um dos aspetos negativos do rendimento de Portugal diante da Espanha nos quartos-de-final. Em ambas as partes da partida atingimos cedo as cinco faltas. Na primeira metade, três faltas cometidas até aos 4’35’’, quatro aos 8’21’’, cinco aos 12’39’’ com a grande penalidade, ou seja, 7’21’’ tapados. Na segunda parte, três faltas cometidas até aos 26’00’’, quatro aos 28’45’’, cinco aos 29’36’’, ou seja, 11’24’’ tapados. É certo que a Seleção Nacional conseguiu escapar aos livres diretos sem barreira, mas não fugiu a jogar longos 18’45’’ (47% do tempo) com agressividade técnico-tática insuficiente, em contraponto com 21’15’’ de agressividade excessiva. A prestação não foi equilibrada neste capítulo, e piorou após o intervalo - é verdade que a desvantagem no marcador não ajudou. O termo tapado é feliz. A equipa fica presa, não fica livre para voar. E é preciso voar para chegar mais facilmente ao céu.

O futsalista português vai ter de aprender – desde os escalões de formação – a saber gerir a agressividade. Os árbitros em Portugal deverão ser claros na aplicação correta do critério. Entre a margem do 8 ao 80, o futsal mundial estava na fase do 80, o que era prejudicial para o jogo. Agora estamos novamente na fase do 50 ou 60, ainda bem direi. Para a equipa/jogador estar sempre voar. O céu tem que ser sempre o limite...

Faltas em cada jogo:
Eslovénia x Portugal: Total 22 (1.ªP: 6-6 / 2.ªP: 5-5 Livres 10mts: 2 (0 golos)
Rep. Checa x Itália: Total 18 (1.ªP: 5-3 / 2.ªP: 5-5)
Sérvia x Eslovénia: Total 17 (1.ªP: 4-6 / 2.ªP: 3-4) Livres 10mts: 1 (1 golo)
Croácia x Rússia: Total 17 (1.ªP: 2-5 / 2.ªP: 5-5) Livres 10mts: 1 (0 golos)
Ucrânia x Hungria: Total 16 (1.ªP: 4-4 / 2.ªP: 4-4)
Sérvia x Ucrânia (1/4f): Total 15 (1.ªP: 3-3 / 2.ªP: 4-5)
Portugal x Espanha (1/4f): Total 15 (1.ªP: 5-1 / 2.ªP: 5-4)
Sérvia x Rússia (1/2f): Total 14 (1.ªP: 3-1 / 2.ªP + Prol: 5-5)
Espanha x Cazaquistão (1/2f): Total 14 (1.ªP: 1-3 / 2.ªP + Prol: 2-5)
Rússia x Azerbaijão (1/4f): Total 12 (1.ªP: 2-4 / 2.ªP: 1-5)
Cazaquistão x Croácia: Total 11 (1.ªP: 3-3 / 2.ªP: 3-2)
Itália x Azerbaijão: Total 10 (1.ªP: 1-3 / 2.ªP: 2-4)
Espanha x Hungria: Total 10 (1.ªP: 3-5 / 2.ªP: 1-1)
Ucrânia x Espanha: Total 9 (1.ªP: 2-3 / 2.ªP: 3-1)
Rússia x Cazaquistão: Total 9 (1.ªP: 3-4 / 2.ªP: 1-1)
Portugal x Sérvia: Total 8  (1.ªP: 1-2 / 2.ªP: 2-3 )
Azerbaijão x Rep. Checa: Total 7 (1.ªP: 1-2 / 2.ªP: 3-1
Cazaquistão x Itália (1/4f): Total 6 (1.ªP: 1-1 / 2.ªP: 4-0)

Jogos - Faltas cometidas - Faltas sofridas
Rep. Checa  2J  12  13
Itália  3J  12  21
Croácia  2J  12  15
Hungria  2J  14  12
Espanha  4J  16  26
Eslovénia  2J  21  18
Azerbaijão  3J  21  9
Ucrânia  3J  21  18
Cazaquistão  4J  23   12
Rússia  4J  24  27
Portugal  3J  24  21
Sérvia  4J  27  26

TOTAL FALTAS ASSINALADAS: 227
MÉDIA POR JOGO (18): 12,6
MÉDIA POR JOGO DE PORTUGAL: Faltas cometidas: 8,0 / Faltas sofridas: 7,0

Final esperada? Sim

As duas seleções mais favoritas das meias-finais conquistaram, por direito próprio, a presença na final do Europeu 2016. Antes do início da prova, gostaria que o jogo decisivo tivesse a participação de Portugal (por razões óbvias) e a Itália, para mim, a formação que considerava reunir mais pontos fortes em competições desta natureza. Estava enganado. A Equipa das Quinas não revelou suficientes capacidades para lá chegar, a Squadra Azzurra não confirmou diante do Cazaquistão as boas indicações da fase de grupos. Espanha fez uma prova em crescendo e é nesta altura o melhor e mais consistente coletivo em Belgrado, alicerçado em valores individuais de excelência. A Rússia, sem ter ainda deslumbrado, num dia bom tem todas as condições – especialmente qualidade top de alguns jogadores chave – para chegar ao ouro.

Duelo da morte no play-off para o Mundial
É um facto. A Sérvia era o adversário mais difícil que podia ter calhado em sorte a Portugal no I de apuramento para a fase final do campeonato do mundo 2016, jogos dias 22 de março e 12 de abril, este a realizar no Multiusos de Odivelas. A Bielorrússia também apresentava dificuldades, quer pelo valor desportivo, quer pela logística da complicada viagem.

A última memória dos sérvios é negativa – últimos minutos da derrota no último sábado –, duas memórias anteriores são positivas – melhor golo de sempre marcado por Ricardinho e primeiros minutos muito fortes coletivamente. Se somos melhores? Sim. Eu acredito? Claro que sim! Vamos encher Odivelas!

O sorteio ditou os seguintes embates:

Eslovénia-Espanha,
Eslováquia-Ucrânia,
Bielorrússia-Rússia,
Sérvia-Portugal,
Holanda-Azerbaijão,
Hungria-Itália,
Polónia-Cazaquistão.


Espanha, Ucrânia, Rússia, Portugal, Azerbaijão, Itália e Cazaquistão são as seleções favoritas a marcar presença na Colômbia. Que a bola comece a rolar.

Área do treinador deveria ser maior
Abordo agora um aspeto que há muito gostaria de ter abordado. O treinador de futsal está próximo do recinto, e pode e deve a todo o momento intervir junto dos jogadores, quer os cinco em campo, quer os suplentes . Mas está limitado no seu raio de ação, numa definição espacial alicerçada no futebol, é a minha leitura.

Na minha opinião, a área técnica que está definida nas leias de jogo pode e deve ser maior, tendo como referência o basquetebol por exemplo. Não vejo razões para, num espaço confinado ao meio-campo da sua equipa, não estender até à mesa do cronometrista e até ao cruzamento com a linha de baliza, mantendo-se a distância de 75 cms até à linha lateral para respeitar a devida movimentação do árbitro.

É um pormenor, poderão dizer. Sim. Mas ia favorecer a comunicação (leia-se tornar comum) entre equipa técnica e jogadores, e acredito, por consequência, a possibilidade de melhorar a qualidade de jogo.  No fundo, colocaria o treinador mais próximo de ser jogador, logo mais próximo de a equipa jogar melhor...

‘Hvala’

 

Pedro Catita. Algarvio de Portimão, é licenciado em Ed. Física e Desporto – Opção Futebol pela FMH. Comentador de Futsal na RTP desde 2003, especialista em Análise de Jogo, é membro da Comissão de Futsal da FPF. Preletor nos Cursos de Treinador de Futebol e Futsal da FPF. Trabalhou na Infordesporto/Sportinveste Multimédia entre 1994 e 2015. Treinador de Futsal no Sassoeiros e de futebol no Belenenses, Estoril Escola Rui Águas. É “Amigo do Futsal”, e um dos responsáveis pelos conteúdos da Futsal+ desde Janeiro de 2016.