Bruno Pereirinha e Rui Pedro falharam um penalty à Cruijff, no jogo particular entre a selecção portuguesa de sub-21 e a congénere de Cabo Verde. Os dois jovens queriam experimentar algo diferente, mas ficaram-se pelas intenções. Não seria nada de novo, de resto. Há 25 anos, num derby Sp. Braga-V. Guimarães, outros dois jogadores registaram a patente portuguesa desse movimento.
Veja AQUI a reportagem vídeo do Maisfutebol TVI.
João Cardoso e Dito, dois internacionais consagrados, andavam com a ideia na cabeça há vários meses. Anos até. Mario Imbelloni, treinador argentino, ensinara os jogadores do Sp. Braga a marcar uma grande penalidade de forma inusitada. Imbelloni deixou Portugal mas a ideia ficou. Johan Cruijff acabou por desbravar caminho a 5 de Dezembro de 1982, num jogo entre Ajax e Helmond Sport.
«Lembro-me que foi o Mario Imbelloni a ensinar-nos como se marcava uma grande penalidade daquela forma. Para ele, o futebol era espectáculo. Na altura, o Sp. Braga era uma equipa goleadora devido à sua mentalidade. Acabámos por ficar com a ideia na cabeça mas só tivemos oportunidade de experimentar mais tarde, já com Quinito no banco», começa por explicar João Cardoso.
Dito também recorda aquele momento e não resiste à provocação inicial. «Um penalty como o Pereirinha? Não, nós marcámos um muito melhor. No nosso, a bola entrou», atira de imediato o antigo central, quando contactado pelo Maisfutebol. A bola entrou, é um facto, mas o golo não valeu. O árbitro do jogo, surpreendido pelo gesto pouco usual, acabou por anular o lance.
«Podias ter-me avisado»
20 de Abril de 1984. O Sp. Braga está a vencer o V. Guimarães por uma margem confortável. Com 3-0, os arsenalistas conquistam uma grande penalidade. Cardoso e Dito olham para Quinito e pedem para avançar. Já antes, em conversas durante os treinos, haviam manifestado o desejo de arriscar. O treinador cedeu.
Silvino na baliza do Vitória. João Cardoso coloca a bola na marca, avança e toca ligeiramente para a frente. Dito, em corrida, surpreende tudo e todos, atirando a contar. O árbitro José Guedes, algo atrapalhado, decide intervir. «Podias-me ter-me avisado», terá dito o juiz a João Cardoso. «O árbitro decidiu dizer que o Dito entrou na área antes de a bola partir e mostrou-lhe cartão amarelo. Depois acabou por nos explicar que foi a forma de contornar o problema. Era contra o V. Guimarães, ainda por cima, era um bocado complicado, na altura nem pensámos nisso», afirma Cardoso, ao Maisfutebol.
«Ficou tudo perfeito»
Dito também reconhece que experimentar aquele movimento num Sp. Braga-V. Guimarães foi perigoso: «Nós tínhamos aquilo apalavrado e estávamos à espera de uma oportunidade. Por acaso, foi naquele jogo. As pessoas do Vitória ficaram incomodadas, acharam que estávamos a brincar, mas não era nada disso. Aquilo ficou tudo perfeito. Pena não ter sido validado.»
Quinito veio a público defender os seus jogadores e a legalidade do lance. Dito salienta o apoio do treinador. «Tínhamos a concordância do treinador, ao contrário do que aconteceu na selecção sub-21. Estava tudo combinado e correu na perfeição, mas o árbitro e o auxiliar ficaram abananados com aquilo e decidiram arranjar uma forma de anular o lance. Foi pena, porque calhou mesmo bem», remata o antigo central, com um sorriso.