23 de Janeiro de 1999. O dia mais marcante da carreira de Pedro Miguel Marques da Costa Filipe, conhecido no mundo do futebol como Pepa. O avançado, que era ainda júnior, estreava-se na equipa principal do Benfica com 18 anos, frente ao Rio Ave. Faltava um minuto para os noventa quando entrou, mas na primeira vez que tocou na bola marcou um golo, selando o triunfo por 3-1.

«Foi um passe do João Pinto. Se tivesse apanhado um fiscal-de-linha que tivesse dormido pouco se calhar tinha assinalado fora-de-jogo, mas eu não estava. Recebi de pé direito, ajeitei com o esquerdo e depois rematei de bico, à Romário», lembra o protagonista, como se tudo aquilo tivesse acontecido na véspera.

Mas se essa recordação oferece a Pepa um sorriso, também lhe traz sentimentos negativos. «Foi um dia de contrastes. É o sonho de qualquer miúdo, mas agora, se me dessem a escolher, tinha preferido afirmar-me aos poucos. Na altura deslumbrei-me. Surgiram logo muitos parasitas, muitos amigos de ocasião», justifica.

A estreia foi auspiciosa, mas nessa época Pepa só jogou mais uma vez. Foi titular nos Barreiros e o Benfica perdeu. «Não fui crucificado, até porque o jogo correu mal a toda a gente, mas o que é certo é que não tive mais oportunidades», explica.

Na época seguinte as oportunidades também tardavam em aparecer, pelo que foi emprestado ao Lierse. A primeira temporada na Bélgica foi em vão, uma vez que não jogou devido a problemas com a inscrição. Mas o segundo ano não foi muito melhor: «O frio, a língua¿foi tudo mau. Naquela zona nem se fala francês, fala-se flamengo, que deve ser a pior língua da Europa.»

Em 2001/02 regressou à Luz, mas novamente sem motivos para sorrir. «Voltei para a equipa B e aconteceu-me tudo. Num jogo em Moscavide fui expulso e fracturei o malar. Depois estava na equipa principal e ia ser titular porque estava muita gente de fora mas no último treino, quando estávamos a ensaiar lances de bola parada, lesionei-me. O Fernando Aguiar caiu-me em cima», contou.

Mas nessa altura já as portas da Luz se fechavam, não só para Pepa, mas também para outras promessas do Benfica, como Jorge Ribeiro e Rui Baião. «Começaram a haver problemas entre o Paulo Barbosa e o Luís Filipe Vieira. Se formos a ver os jogadores que saíram nessa altura, era quase tudo do mesmo empresário», afirma o ex-jogador.

É então que Pepa e os dois colegas decidem aceitar uma proposta do Varzim. Algo que ainda hoje o jogador lamenta. «Foi o maior erro da minha vida. Tinha mais quatro anos de contrato. Há gente que paga para jogar no Benfica, eu implorei para sair», justifica.

Na altura surgiram até rumores que para os três jogadores a Póvoa de Varzim seria apenas uma escala para o F.C. Porto, mas Pepa garante que «não houve nada de concreto». «Falava-se nisso, até porque estávamos mais perto da cidade do Porto, mas nunca ninguém falou comigo sobre essa possibilidade concreta.»

Pepa lamenta a rescisão mas recusa partilhar responsabilidades com outras pessoas. «O empresário apresentou-me aquela proposta e eu deixei-me levar. Mas a responsabilidade é minha», realça. As queixas em relação a Paulo Barbosa surgem só depois. «Depois da lesão nunca mais quis saber de mim», esclarece.