Ao longo da sua carreira, Pepe já teve de enfrentar vários temíveis adversários e, muitas vezes, deu-se bem. Com a grave lesão sofrida no último sábado, há um novo oponente para deixar para trás, talvez um dos mais difíceis da carreira: os números. Se quiser estar presente no seu primeiro campeonato do Mundo, Pepe vai ter de contrariar as estatísticas. É isso que informa Domingos Gomes, médico da UEFA com um passado ligado ao departamento clínico do F.C. Porto, ao mesmo tempo que explica o procedimento a que Pepe vai ser submetido.
«O que dizem os dados é que um jogador de alta competição está recuperado de uma lesão deste género seis meses depois. O que está em causa é a formação de um novo ligamento. Basicamente a cirurgia que o Pepe vai fazer é para substituir o ligamento afectado por um novo, retirado de outro lado, da rótula ou de um músculo. E esse novo tendão demora esses seis meses a fortalecer-se, a ter vasos novos, nervos novos, sensores novos», explicou Domingos Gomes ao MaisFutebol.
Para o clínico, o jogador é «a principal variável» desta equação: «Cada atleta tem a sua reacção. A minha experiencia diz-me que excepções há sempre. Mas umas foram boas, outras foram catastróficas.»
O período de recuperação será assim a peça chave de todo o imbróglio. Um mês e meio depois da operação arranca a primeira fase. Aos quatro meses será dado o segundo e decisivo passo. E é aqui, «algures em Abril» que será «possível determinar uma data mais precisa para a recuperação plena». Domingos Gomes lembra que, para já, «é melhor não apontar prazos, até por uma questão psicológica que também tem peso.»
«O Pepe é um jogador com uma constituição física fabulosa e com seriedade de trabalho e isso pode fazer a diferença. O Pepe pode fazer a diferença. Mas o corpo clínico que estiver com ele vai ter de saber colocar os travões necessários para que a lesão em vez de recuperar não se agrave. Gostava de o ver no Mundial, mas o expectável são os tais seis meses de paragem», destacou.
Derlei, uma das excepções: «São corpos diferentes»
Como Domingos Gomes referiu, há sempre excepções ao período apontado. O MaisFutebol falou com uma delas. Sensivelmente na mesma altura do ano, mas em 2003, Derlei sofreu uma lesão semelhante e apontaram-lhe aí o final dessa temporada. O jogador contrariou as estatísticas e, nas meias-finais, da Liga dos Campeões que o F.C. Porto viria a conquistar, já fazia golos.
«Trabalhei muito tempo com os médicos e a minha recuperação evoluiu dentro do esperado e pude voltar na altura certa. O factor psicológico também é importante. Há jogadores que ultrapassam esta fase facilmente. O meu caso foi assim. Quando chegou a altura de voltar a trabalhar com bola eu não tinha receio de me magoar novamente, não fugia das bolas divididas», conta o avançado.
O brasileiro acredita que Pepe lhe pode seguir as pisadas: «O Pepe é um jogador com muita fibra e raça. Acredito que possa pelo menos jogar o Mundial, mas vai ser preciso que quem comanda a selecção também tenha confiança no atleta. Não posso estar a comparar, porque embora as situações sejam parecidas, são corpos diferentes.»