Vanessa Fernandes, medalha de prata em Pequim, criticou esta segunda-feira que parte dos atletas portugueses encarem a alta competição com leviandade, desconhecendo o sofrimento por que muitos passam para chegar ao mais alto nível.
«A alta competição não é brincadeira nenhuma. Não é fazer meia dúzia de provas, andar a receber uma bolsa e está feito. Muitos não vêem bem a realidade das coisas. Não têm a noção do que isto significa. Se calhar por termos facilidades a mais», reprovou a triatleta, citada pela Lusa.
Os fracos desempenhos de alguns portugueses não justificam as desculpas avançadas, pois, para Vanessa Fernandes, é a vontade de ganhar que move qualquer vencedor.
«Nunca na vida vinha para aqui para viajar e ver os Jogos. Para isso não vinha. Há pessoas a quem lhes é igual ficar em 50º ou 20º ou o que quer que seja. Nunca pensaria assim. Até ficava desiludida se pensasse dessa maneira. Os resultados é que me dão ambição para fazer melhor para a próxima. E nunca estou satisfeita», defendeu Vanessa Fernandes.
A vice-campeã olímpica, recordista de taças do mundo e com mais títulos internacionais que os seus 22 anos, lamentou a pouca pressão imposta sobre os atletas nacionais, pois há «muitos talentos» no país, que, todavia, ficam sem saber o verdadeiro significado da alta competição.

«É como um trabalho. Tem de ser feito. Devemos trabalhar para o que fazemos, no meu caso o triatlo. Há dificuldades em Portugal em entender isso. Na alta competição deve haver objectivos concretos, pessoas em quem confiar a 100 por cento e nunca fazer as coisas só por si próprias. Ter sempre uma boa equipa, saber o que se quer, onde se está e o que significa alta competição», reiterou, dando como exemplo a sua situação, em que teve tudo o que queria em termos de descanso, alimentação, treinadores, equipa de treino e apoio da família: «Que mais posso querer?»
Naide Gomes e Nelson Évora entre as excepções
E se Tiago Venâncio podia ser um bom exemplo, Naide Gomes e Nelson Évora são-no de certeza para Vanessa Fernandes, pelo «trabalho e procura dos limites». Já o nadador... «Para mim, podia ser um grande atleta. Mas não há uma estrutura fixa nestes sectores, é tudo à balda, o que é pena.»
A medalha conquistada esta madrugada foi dedicada ao pai Venceslau, pela referência desportiva que representa para si, numa altura em que não havia atletas «privilegiados».
«Nos tempos do meu pai [vencedor da Volta a Portugal em bicicleta em 1984], poucos eram capazes de competir assim. Era trabalhar para ganhar dinheiro e treinar por gosto. Admiro-o por tudo o que conseguiu como desportista, pois na altura não havia condições. Esta medalha é uma homenagem ao trabalho que fez, ao que competiu e às dificuldades que passou. Tudo o que conseguiu e me deu. Agora retribuo», defendeu.