Já ganhou quase tudo o que é possível ganhar um futebolista num clube.

Foi cinco (!) vezes campeão europeu (por três clubes diferentes, Ajax, Real e AC Milan, é o único jogador a ter conseguido tal feito), duas vezes campeão do Mundo de clubes, campeão espanhol, holandês e italiano.

Já há alguns anos que lhe anunciam uma suposta curva descendente na carreira, mas a verdade é que ela ainda não se concretizou. Antes pelo contrário.

Aos 37 anos, Clarence Seedorf, médio do Botafogo, principal figura do atual líder do Brasileirão, já passou há muito o que era suposto ser a linha final de uma carreira de futebolista médio.

Mas Seedorf é muito mais do que isso: é, sem favor, um dos melhores médios do futebol mundial nas últimas décadas.

Segundo melhor marcador da equipa de Oswaldo de Oliveira, soma já sete golos nesta edição do Brasileirão, o último deles no triunfo sobre o Vasco da Gama, por 3-2, numa das melhores partidas entre clubes realizadas no Brasil nos últimos anos.

O que ainda fará correr Clarence Seedorf?

Cada jogo como se fosse o primeiro

Rui Malheiro, comentador do Futebol Brasil, recorda: «28 de outubro de 1992. Foi há 7587 dias que um menino de cabelo curto se estreou oficialmente com a camisola sagrada do Ajax num jogo da taça diante do VVV. Seguiu-se o exórdio europeu, num triunfo caseiro frente ao Vitória de Guimarães e o primeiro jogo na Eredivisie, diante do Groningen, que o tornou, aos 16 anos e 242 dias, no jogador mais jovem de sempre dos filhos dos deuses a disputar uma partida do campeonato. O menino cresceu, assim como o cabelo e a conta bancária. Deixou de ser um todo-campista, capaz de jogar a avançado, defesa-central ou lateral, e converteu-se num dos melhores médios de sempre do futebol mundial. Campeão europeu e nacional pelo Ajax, Real Madrid e AC Milan, passou ainda por Sampdoria e Inter.»

Profundo conhecedor do futebol internacional, Rui Malheiro aponta explicações para a longevidade de Seedorf no topo do grande futebol: «Encarar, aos 37 anos, cada jogo com a alegria do primeiro, juntando-lhe a experiência de quem já ganhou praticamente tudo o que havia para ganhar. Hoje, Clarence Seedorf já não precisa de estar preso a amarras táticas ou de pressionar os adversários. Está no Botafogo, no país do futebol e do samba, a impor o seu ritmo. Sempre de cabeça levantada, a maravilhar os adeptos com voluptuosos pormenores técnicos, passes teleguiados, excelsa visão de jogo e a eterna propensão para assinar golos de bandeira com o seu pé direito. Com a descontração como canta Ottis Redding ou Bob Marley. Um só amor, um só coração, como diz a canção».

A empurrar o Bota

Nasceu num dia 1 de abril (no já longínquo ano de 1976), mas nunca correu o risco de parecer uma mentira.

Jogador consistente, regular, de equipa, junta essas qualidades mais coletivas com um grande talento individual.

Depois de um percurso de vários anos ao melhor nível no futebol europeu, em junho de 2012, surpreendeu muita gente ao assinar pelo Botafogo, por duas épocas.

Exílio dourado? Nada dissso. Ao quarto jogo pelo Bota, já marcada e rapidamente se percebeu que estava no Brasil para continuar a jogar ao melhor nível.

SEEDORF

Nome: Clarence Clyde Seedorf

Data de nascimento: 1 de abril de 1976 (37 anos)

Naturalidade: Paramaribo (Suriname)

Posição: Médio-ofensivo

Peso: 77 quilos

Altura: 1,77 metros

Percurso: Ajax (1992-1995), Sampdoria (1995-96), Real Madrid (1996-2000), Inter de Milão (2000-2002), AC Milan (2002-2012), Botafogo (2012-??)

Principais títulos: Mundial de Clubes (2007), Taça Intercontinental (1998), cinco Liga dos Campeões (1995, 1998, 2000, 2003 e 2007), duas Supertaças europeias (2003 e 2007), uma Liga espanhola (1997), duas Ligas holandesas (1994 e 1995), duas Ligas italianas (2004 e 2011)