Luís Neto terá sido uma das primeiras pessoas a quem Ricardo ligou quando chegou a acordo com o FC Porto. A afinidade com o primo vai muito para além da simples união familiar. A cumplicidade vem desde os tempos de criança, apesar de o central da Seleção Nacional ser um pouco mais novo.

«Sempre tivemos uma relação muito próxima. Não somos daqueles primos que se vêem de vez em quando, somos como irmãos. Acompanhou a minha carreira [é seis anos mais velho], ele saiu mais cedo do Varzim, onde nos formámos, mas continuamos com uma ligação estreita. Moramos quase lado a lado, passamos férias juntos, em família...», conta ao Maisfutebol, naturalmente orgulhoso:

«Fico muito feliz por ele , é merecido. É uma grande oportunidade, um justo prémio por tudo o que conquistou e trabalhou. Acredito que se vai dar bem, porque é trabalhador, acredita nas suas qualidades, e sempre demonstrou que poderia chegar a um patamar elevado.»

O primo já merecia, aliás, este reconhecimento há algum tempo. «Podia ter sido mais cedo, mas só agora se viu reconhecido por um grande. Um guarda-redes atinge a maturidade plena um pouco mais tarde e, por isso, ele ainda tem muito tempo pela frente. Ainda é um jovem para a baliza», acredita, perspetivando mais uma boa época para o primo:

«Fez duas épocas seguidas sem perder um jogo, e isso diz muito sobre a sua qualidade. Deixa um grande legado na Académica, onde foi muito acarinhado, aliás, isso viu-se pela forma como lhe fizeram a despedida. Vai ser para sempre recordado lá e, no FC Porto, não será diferente.»

O sonho de voltarem a jogar juntos

Dois jovens que cresceram juntos, a repartir sonhos e desventuras, como dois bons amigos, num seio familiar umbilicalmente ligado ao desporto-rei. Talvez seja esta uma das melhores formas de resumir a relação entre Ricardo e Neto.

«Foram cinco anos a partilhar o balneário do Varzim e acabámos por ser admiradores um do outro. Partilhamos a paixão pelo futebol, temos interesses em comum, é com ele que posso desabafar e vice-versa. Falar de bola, mas também de outras coisas. A minha mãe é madrinha dele. O pai dele é meu padrinho, também era central e teve uma boa carreira, daí que estivéssemos sempre muito perto», recorda o defesa, deixando no ar um desejo que esperam concretizar:

«Sempre dissemos, desde que nos separámos, que queríamos voltar a jogar juntos. É um dos nossos objetivos de carreira, um dia ele na baliza e eu de novo na frente dele, como central.


Em sentido contrário já se defrontaram, mas nunca no escalão principal: «Quando eu ainda estava no Varzim, e ele na U. Leiria, ganhou ele, na II Liga. Pelo Nacional, quando defrontei a Académica ele ficou no banco, e voltei a perder. Na segunda volta, já venci, mas ele voltou a ser suplente.» 


Póvoa de Varzim, um viveiro de jogadores

Se o critério um dos critério para ser admitido na Liga fosse o número de jogadores portugueses fornecidos ao campeonato, o Varzim teria um lugar entre os maiores Pode-se mesmo falar em viveiro de talentos, como são exemplo, além dos dois primos-irmãos, Bruno Alves, Fábio Coentrão ou Hélder Postiga.

«Sempre tivemos grande jogadores, é uma zona que desperta vontade de treinar, onde toda a gente gosta de futebol. Depois há Caxinas, que tem uma cultura muito particular. É zona de pescadores, e penso que é essa vida de sacrifício, coragem, e trabalho muito árduo que nos corre um pouco nas veias e nos dá aquela raça, garra e espírito de solidariedade», analisa o internacional português.

«O meu avó foi pescador e temos um tio que ainda anda no mar, que é diferente das plataformas, mas gosta da pesca desportiva. A minha avó trabalhou nas redes e ajudava em casa. Ainda hoje falamos desses tempos com o meu avô, que é um dos irmãos do pai do Ricardo», prossegue, visivelmente apaixonado pelo sítio onde nasceu:

«Passavam muito tempo fora de casa, enfrentando todo o tipo de dificuldades. Gosto de o ouvir falar de coisas que aconteceram, mas que mais parecem um sonho. Os sustos devido aos humores do mar, sobretudo quando fazia mau tempo, isso faz tudo parte da nossa família.»