Chama-se Bernardo Maria e vive em Cascais, mas garante que não é o típico rapaz da Linha. Em primeiro lugar, porque nasceu em Lisboa, há 21 anos. E em segundo lugar, porque nunca foi verdadeiramente um amante de surf ou desporto radicais. A paixão dele sempre foi o futebol.

«Desde pequenino que vou aos estádios, praticamente nasci dentro do futebol. Faz parte da minha vida desde que era bebé. Acho que é daí que vem a minha paixão pela bola», conta.

«Sempre estive dentro deste mundo, a ver o meu pai e a ver jogos atrás de jogos, portanto quando comecei a jogar na rua com os amigos já gostava de futebol pela influência familiar.»

O pai é Ricardo Vital, que fez carreira também como defesa em clubes como o Sacavenense, o Pinhalnovense e o Fafe, mas sobretudo no lisboeta Fofó. Foi no popular Futebol e Benfica, aliás, que acabou a história do pai e começou a do filho.

«Os programas com o meu pai eram sobretudo jogar à bola. Estávamos sempre a jogar. Nós e o meu irmão. Pegávamos na bola e em qualquer situação começávamos a dar uns toques», diz.

«Por isso sempre joguei e acompanhei o meu pai, mas até aos oito anos não quis estar num clube. Só na rua e com amigos. Aos oito anos comecei no Fofó e adorei. Nunca mais parei de jogar.»

Com a mudança para Cascais, aos dez anos, seguiu para a Torre e com 14 anos chegou ao Estoril.

«Decidi tentar fazer uns treinos de captação no Estoril, porque queria jogar num clube maior. Vim e fiquei até hoje. A partir daí fiz o processo normal de formação. É verdade que passei por outros dois clubes, mas foi o Estoril que me deu todas as ferramentas para estar onde estou hoje», frisa.

«É um clube que tem um processo de formação muito sério a partir dos 14 ou 15 anos. Acompanha os jogadores desde muito cedo e isso acaba por ter frutos cinco ou seis anos depois. Basta olhar para o meu caso e para o que está a acontecer comigo. Senti desde sempre que mais do que ganhar, o clube tinha a preocupação de me preparar para o futebol sénior.»

Hoje, aos 21 anos, Bernardo Vital já tem um currículo que fica bem em qualquer prateleira: campeão da II Liga, campeão da Liga Revelação e vencedor da Taça Revelação. Tudo no Estoril, claro. Mais quinze jogos como titular na equipa principal, oito dos quais aconteceram desde janeiro de 2021, altura em que se afirmou definitivamente no onze de Bruno Pinheiro.

«Há uma coisa muito boa a acontecer aqui no Estoril que é o processo de formação do clube e que passa pela equipa sub-23. Por ter um processo de formação muito forte é que o Estoril consegue ter equipas fortes na Liga Revelação. Por isso o ano passado ganhámos tudo e vários jogadores têm subido à equipa principal, como são os casos de Chiquinho, Toti Gomes, Franco e eu», frisa.

«Agora temos a equipa novamente em primeiro na Liga Revelação e bem encaminhada para dar mais bons jogadores ao plantel principal. O Estoril é um clube organizado, bem estruturado, com um projeto bem definido e que tem feito um grande trabalho ao longo dos anos.»

Toti Gomes e Chiquinho já deram o salto para o Wolverhampton, André Franco é peça essencial na equipa principal e ele afirma-se no centro da defesa. Quem olha para Bernardo Vital, aliás, quem o ouve e o conhece, não consegue evitar pensar em Ruben Dias. As semelhanças são óbvias.

«Cheguei com 14 anos ao Estoril e logo no ano a seguir, com 15 anos, tornei-me capitão. Desde aí, passando pelo sub-23, fui sempre capitão de equipa. E o ano passado, já na equipa principal, também usei a braçadeira num jogo. Acho que acontece por causa do meu perfil, sou uma pessoa muito tranquila, muito calma, mas muito focada e trabalhadora. Não digo que sou um modelo, mas tenho características que podem ser uma boa influência para os colegas», revela.

«Quem me conhece sabe que não tenho ídolos, mas por acaso o Ruben Dias é um jogador que acompanho mais atentamente e o seu percurso tem semelhanças com o meu, embora num clube totalmente diferente. O processo de formação dele acaba por ser muito parecido com o meu.»

Ora por isso a ambição de Bernardo Vital não acaba por aqui. O jovem de 21 anos tem as ideias bem arrumadas e a atenção totalmente concentrada no que é necessário fazer.

«O foco e o rigor são coisas que é possível trabalhar. Muitos jogadores não os têm, mas acabam por adquiri-los com trabalho. No meu caso acho que sempre os tive, desde que era muito novo. A partir do momento em que, com 16 ou 17 anos, mudei o meu chip e decidi que queria ser profissional, o rigor e a concentração em fazer o que era lá tornaram-se automáticos», conta.

«Sou um jogador muito diferente do que era, também por causa do processo-Estoril, através da equipa sub-23, que foi fundamental no meu crescimento. Se não tivesse tido essa formação na Liga Revelação, o salto teria sido muito mais difícil e provavelmente não estaria a jogar na Liga. Mas claro que o meu trabalho e o meu foco também foram essenciais para ser o que sou hoje.»

De resto, e com a experiência de um antigo jogador lá em casa, Bernardo Vital sabe que não terá qualquer problema em manter a cabeça sempre limpa para o que é mais importante.

O central elogia o pai por ter sabido passar-lhe as palavras certas e conta com isso para o futuro.

Diz, por exemplo, que «nunca gostou de se meter muito no trabalho dos treinadores e sempre teve a noção que na formação o importante é os miúdos divertirem-se», mas adianta que a partir do momento em que o filho decidiu que era aquilo que queria fazer «dá mais conselhos» e olha para ele «de outra forma».

«Costuma dizer-se que para os pais os filhos nunca jogam bem, há sempre alguma coisa a apontar e ele não foge à regra», sorri.

Mas quando é que sentiu que o futebol era mesmo o que queria?

«Sempre levei o futebol com seriedade, mas com 16 ou 17 anos é que senti: ‘ok, isto pode dar alguma coisa séria’. Foi nessa altura que senti que havia a possibilidade de ser profissional e que era mesmo isso que eu queria, portanto agarrei-me a essa possibilidade com as duas mãos.»

Quatro anos depois, Bernardo Vital sabe que esta história está apenas a começar.