A ‘Euro 2016 Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos da Europa para lhe apresentar a melhor informação sobre as 24 seleções que vão disputar o Europeu de França. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autores dos textos: Ermal Kuka e Elseid Hysaj

Parceiro oficial na Albânia: Panorama 

Revisão: Vítor Hugo Alvarenga

Quando Gianni De Biasi assumiu o comando técnico da seleção da Albânia em 2011, a sua prioridade não era apenas reconstruir a equipa após a saída de vários jogadores essenciais, mas igualmente melhorar o registo defensivo.

A qualificação para o Mundial de 2014 foi um grande teste para o italiano, que aprendeu bastante durante essa campanha. Gianni De Biasi acabou por ditar a exclusão de vários jogadores com qualidade técnica mas sem a necessária entrega em campo.

A Albânia mudou de um plano 4-4-2 para um 4-3-3 na qualificação para o Euro2016. Esse sistema muda rapidamente para um 4-5-1 quando a seleção não tem a bola, procurando anular o jogo do adversário e lançar rápidos contra-ataques.

Para além de três médios defensivos – Burim Kukeli, Amir Abrashi and Taulant Xhaka –, De Biasi não hesita em colocar laterais como extremos.

Ermir Lenjani, utilizado regularmente na esquerda, é essencialmente um defesa. Embora ela tenha provado ser capaz de atacar com constantes incursões pelo seu flanco, a tarefa principal tem sido o apoio ao quarteto defensivo. O mesmo pode ser escrito em relação a Andi Lila, que começou a sua carreira como lateral direito antes de subir no terreno.

Gianni De Biasi exige que todos os jogadores se sacrifiquem para ajudar a defesa, portanto não é pouco comum ver elementos como grande mentalidade ofensiva, como Odise Roshi e Shkëlzen Gashi, a descer bastante no terreno para cobrir espaços e recuperar a bola.

Os jogadores perceberam a mensagem e entregam-se por completo a esta tarefa de incomodar os adversários, fazendo da seleção da Albânia uma equipa muito difícil de bater.

A seleção apresenta um quarteto defensivo de grande qualidade, com Hysaj, Lorik Cana, Mërgim Mavraj e Ansi Agolli, surgindo elementos como Arlind Ajeti e Berat Djimsiti na retaguarda de confiança.

Seguir o plano e esperar pelo momento certo para atacar foi a chave para o sucesso na qualificação para o Euro2016. Albânia não perdeu em quatro deslocações essenciais: Portugal, Sérvia, Dinamarca e Arménia. Dos cinco golos sofridos em casa, três surgiram no tempo de compensação, quando os jogadores já não estavam a cumprir o plano.

A prestação defensiva foi essencial para o apuramento da seleção albanesa mas seria injusto afirmar que não surgiram bons apontamentos ofensivos. A Kuqezinjtë aplica pressão alta para conquistar a bola no meio-campo e lançar ataques rápidos.

Ledian Memushaj, Migjen Basha e Ergys Kaçe têm grande qualidade ofensiva e o ponta-de-lança Sokol Çikalleshi incomoda qualquer defesa. De Biasi também aposta bastante nos lances de bola parada, uma arma a ter em conta em França.

Onze provável (4-3-3): Berisha; Hysaj, Cana, Mavraj e Agolli; Abrashi, Xhaka e Memushaj; Roshi, Çikalleshi e Gashi.

Que jogador pode surpreender no Euro 2016?

Este é o momento da verdade para Taulant Xhaka. O jogador tem estado na sombra do seu irmão mais novo ao longo dos últimos anos, mas tem qualidade para se impor e até Granit diz que Taulant é o melhor. Taulant Xhaka tem brilhado com a camisola do Basileia nas duas últimas épocas e adoraria vencer o duelo com o irmão, que joga na seleção da Suíça, em França.

Que jogador pode desiludir?

Há uma grande expetativa em torno de Lorik Cana e isso pode ser demasiado para o capitão albanês. Lorik enfrenta uma enorme responsabilidade, embora já tenha passado o auge da carreira. Continua a ser um jogador essencial na Albânia mas qualquer erro em pleno Europeu pode contribuir para uma imagem negativa quando terminar a carreira.

Até onde pode ir a Albânia e porquê?

A seleção chega a França sem qualquer ponta de pressão e isso pode resultar em seu favor para ultrapassar a fase de grupos, o grande objetivo. Se mantiver a qualidade demonstrada na fase de grupos, a Albânia pode chegar aos quatro pontos e ao terceiro lugar. As vitórias frente a Portugal e França (embora esta tenha sido num amigável) provam que a Albânia pode roubar pontos nos jogos com França e Suíça. A grande decisão, porém, pode surgir no último jogo, contra a Roménia, o principal adversário no grupo.

Os segredos dos jogadores:

Lorik Cana

Lorik é o ‘golden boy’ do futebol albanês e tem uma grande reputação no país. É um líder dentro e fora de campo. Muitos esperam que siga uma carreira de treinador mas o jogador parece virar-se para os negócios. Depois de experimentar uma loja de vinhos franceses em Tirana, Lorik lançou uma marca (Black Eagle) de bebidas energéticas. O jogador tem ainda uma forte preocupação política e é esperado que entre nesse mundo mais cedo ou mais tarde.

Gianni De Biasi

Se fizer uma pesquisa rápida na internet, pode chegar à conclusão que De Biasi é casado com uma albanesa. Mas tudo não passa de uma tradução errada feita por jornais italianos. Em janeiro de 2015, o treinador disse que gostaria de ter a nacionalidade albanesa: «Até porque sou casado com uma albanesa…a seleção nacional». Isto foi o que ele disse, mas alguns jornalistas italianos perceberam mal e o erro difundiu-se. Tanto que De Biasi viu-se obrigado a fazer uma declaração pública sobe o tema, até porque tem uma relação ótima com a sua esposa, a italiana Paola.

Mërgim Mavraj

O defesa nascido na Alemanha recebeu um passaporte albanês em 2006 mas envolveu-se numa troca de palavras com a federação e chegou a dizer que abdicaria da nacionalidade, com os dirigentes federativos a chegar ao mesmo ponto de quase-rutura. Assim, Mavraj foi esquecido por muitos anos, chegou a recusar duas convocatórias posteriores e só agarrou o passaporte quando Gianni De Biasi assumiu o cargo de selecionador e foi visitar o jogador para uma conversa franca. Tudo mudou deste então.

Ansi Agolli

Ansi não é apenas um jogador influente na Albânia. O defesa joga na Premier League do Azerbaijão desde 2010, pelo Qarabag, e ficará na história do futebol local por ser o primeiro jogador desse campeonato a atuar num Campeonato Europeu.

Perfil de uma figura da seleção: Elseid Hysaj

Esta é a história de um pai, um filho e uma promessa. A história da vontade de um emigrante albanês que ajudou um jovem talento a assumir-se como o portador do entusiasmo de uma seleção no Campeonato da Europa. Eis a história de Elseid Hysaj, lateral direito do Nápoles e da Albânia.

Elseid Hysaj fez uma época de grande nível na Serie A e, aos 22 anos, assumiu-se como um dos talentos mais desejados do futebol europeu, captando a atenção de clubes como Bayern Munique, Atlético Madrid, Chelsea e até Barcelona.

Nada disto seria possível sem a confiança cega do pai de Elseid, emigrado em Itália, nas qualidades do seu filho desde o primeiro pontapé na bola.

Como muitos albaneses nos anos 90, Gzim Hysaj arriscou a sua vida em botes de borracha e lanchas para chegar a Itália e trabalhar de forma ilegal para sustentar a família. Ele fez várias vezes a perigosa travessia pelo Mar Adriático para levar dinheiro para a família, que continuou na Albânia. O pequeno Elseid era nessa altura educado pela mãe.

Gzim Hysaj fez vários trabalhos em Itália, sobretudo na construção civil. Em 2004, o pai de Elseid esteve envolvido no restauro da casa de Marco Piccioli, um empresário de futebol registado na FIFA. Gzim perguntou a Marco se ele podia encontrar uma equipa para o seu filho, mas Elseid tinha apenas dez anos e o empresário disse-lhe para voltarem a falar no futuro.

O pai de Elseid levou aquela indicação a sério e nunca perdeu contacto com Marco Piccioli. Com 14 anos, o jovem ia evoluindo em equipas amadoras de Shkoder quando Gzim voltou a falar com o empresário. Este não esqueceu o que tinha prometido e, como tinha boas relações com a Fiorentina, arranjou um período de testes no clube.

A Fiorentina mostrou interesse no jovem, mas surgiram complicações burocráticas e seria o Empoli a garantir Elseid Hysaj. Estávamos em 2009.

Elseid Hysaj demonstrou estar um passo à frente dos jovens com a mesma idade e, em 2011, fez a sua estreia pela equipa principal do Empoli. No ano seguinte conquistou o seu espaço no onze, sob o comando de Maurizio Sarri, e recebeu a primeira chamada para a seleção principal da Albânia, sendo o terceiro mais jovens de sempre a fazer a sua estreia, com apenas 18 anos.

O lateral destacou-se ao longo das últimas épocas no Empoli e garantiu no verão de 2015 a sua transferência para o Nápoles, para além de se assumir como uma referência da seleção albanesa.

Elseid não esqueceu o que o pai fez pela sua vida e pela sua carreira. No início de 2014, o Bar Elsi em Via della Casella (Florença) e nomeou Gzim Hysaj como diretor geral do negócio.

«Estou a certificar-me que os seus dias de trabalho duro terminaram. Ele sacrificou-se bastante por mim e chegou a altura de eu começar a pagar essa dívida», explicou Elseid, então com 20 anos.