A ‘Euro 2016 Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos da Europa para lhe apresentar a melhor informação sobre as 24 seleções que vão disputar o Europeu de França. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Sumeet Paul (análise tática) e Padraig Whelan (segredos dos jogadores e perfil da figura)

Parceiro oficial em Itália: Gazzetta dello Sport

Revisão: João Tiago Figueiredo

Ao longo da sua carreira como treinador, Antonio Conte construiu uma reputação de ser flexível do ponto de vista tático e inventivo na hora de colocar as peças no terreno. Do 3-5-2 que usou com eficácia na sua passagem pela Juventus, e que valeu três títulos italianos seguidos, ao 3-4-3 que recentemente testou num particular com Espanha.

A imprevisibilidade de Conte pode jogar a seu favor ou contra si, como avaliam os resultados conseguidos desde que assumiu a seleção, em 2014. De qualquer forma, isso não irá demover o técnico de 46 anos de testar várias formações, até porque, no fundo, ele irá experimentar como tirar o máximo de todos num determinado esquema, ao mesmo tempo que procurará explorar a fraqueza da oposição.

Sem poder contar com os médios titulares Marco Verratti e Claudio Marchisio, devido a lesão, a flexibilidade de Conte enfrenta o seu maior teste até ao momento, até pela pressão de entregar resultados antes de deixar a seleção e mudar-se de armas e bagagens para Stamford Bridge.

Dado o número de lesões e preocupações com a forma dos jogadores, o principal debate nesta altura é como resolver estes problemas antes de começarem os jogos a sério. Voltar ao 3-5-2 ou a um ainda mais convencional 4-4-2 ou 4-3-3 parece agora possível, mas é o 3-4-3 que vai fazendo sentido a cada semana que passa.

Por todos os pontos de interrogação que estão espalhados por todo o relvado, há várias certezas no onze inicial para o jogo com a Bélgica, em Lyon, a 13 de junho.

Gianluigi Buffon, Leonardo Bonucci e Andrea Barzagli formam o núcleo duro da defesa, o resto depende da tática e do momento de forma. Giorgio Chiellini, Matteo Darmian e Alessandro Florenzi podem todos caber num sistema de 3-4-3.

Esta será, tudo indica, a linha preferida de Conte, com os três envolvidos, a abrir caminho a jogadores com a experiência de Thiago Motta e Daniele De Rossi para ocupar os dois lugares no centro do terreno.

Contudo, pode não ser assim tão simples. Chiellini, Darmian e Florenzi têm vindo a lidar com problemas físicos nas últimas semanas, mas todos devem estar bem o suficiente para jogar.

Antonio Candreva e Stephan El Shaarawy acreditam que a sua natureza aliada à sua forma e qualidade no último terço farão deles titulares nos flancos do ataque, com Graziano Pellè a funcionar como jogador central até porque Conte tem mantido a confiança nele ao longo do seu reinado.

Famintos de qualidade individual, Itália terá de confiar no coletivo se quer ter sucesso em França este verão.

Onze Provável (3-4-3): Buffon; Barzagli, Bonucci, Chiellini; Florenzi, De Rossi, Motta, Darmian; Candreva, Pellè, El Shaarawy.

Conte irá treinar o Chelsea na próxima temporada

Que jogador pode surpreender no Euro 2016?

Apoiado pela braçadeira de capitão da AS Roma, Alessandro Florenzi subiu um degrau. Com sete golos e quatro assistências, predominantemente jogando como lateral, a sua energia, qualidade com a bola e propensão para criar momentos de magia podem fazê-lo emergir como uma das estrelas do torneio.

Que jogador pode ser uma desilusão?

Graziano Pellè perdeu gás com o Southampton nas últimas semanas e ainda será preciso ver se ele traz consigo os problemas do clube para França. Vai ter de ser forte para conseguir ligar o jogo italiano, ou então ficará sempre muito isolado e acabará por passar a pressão para Domenico Berardi e Somonne Zaza que lhe poderão bater à porta para o substituir.

Até onde pode chegar a Itália e porquê?

Depende muito de quais jogadores estarão em forma e se Conte irá, ou não, acertar na tática. É indiscutível que a equipa não tem qualidade suficiente para ir até ao fim, mas certamente chegarão à fase a eliminar, com as meias finais a serem uma meta ambiciosa mas realista.

Os segredos dos jogadores

Gianluigi Buffon

Dada a história familiar dos Buffons, o capitão de Itália sempre esteve destinado a ser uma estrela no mundo desportivo. A sua mãe, Maria Stella Masocco, era atleta do lançamento do peso e do disco e foi três vezes campeã italiana. O pai de Buffon, Adriano, também era um campeão do lançamento do peso e também um halterofilista, enquanto o seu tio Dante jogou basquetebol ao mais alto nível, jogando na Liga italiana e pela seleção. As duas irmãs de Buffon, Gwendolyn e Veronica, são famosas jogadoras de voleibol. O antigo guarda-redes do Inter, Milan e seleção italiana, Lorenzo Buffon, também é um parente distante pelo lado do avô. E foi também o seu pai que garantiu que um dos maiores talentos das balizas não se perdesse, convencendo o seu filho, com 10 anos, a desistir dos sonhos de ser um médio e a usar as luvas, em vez disso.

Buffon continua a ser o líder do balneário

Giorgio Chiellini

Se vos perguntassem que jogador italiano tem um curso universitário, poucos arriscariam que seria o cinzento e duro defesa Chiellini. Depois de colocar a desilusão da participação italiana no Mundial 2010 para trás das costas, ele tirou uma licenciatura na universidade de Turim em Negócios e Economia. Escreveu uma tese com o título: «O orçamento de um clube de futebol: o caso da Juventus». Usando o seu conhecimento do interior dos 'bianconeri', Chiellini teve uma nota final de 109 em 110. Contudo, pode sentir-se um tipo com sorte por ter uma nota tão alta, tendo em conta os professores que o avaliaram. «Chegaram dizer-me que alguns professores eram adeptos do Torino», revelou. «Felizmente, foi só depois do exame. E foram sempre imparciais.»

Daniele de Rossi

Um dos poucos sobreviventes dos campeões do mundo de 2006, o médio mais goleador da história da seleção italiana prestou um tributo emocionante ao roupeiro da seleção, que faleceu no início deste ano. Pietro Lombardi era um adorado membro do staff italiano, com a alcunha de Spazzolino (escova de dentes) devido à eficácia com que limpavas as chuteiras dos jogadores. Quando morreu em maio, o médio prestou-lhe tributo no funeral em Florença, oferecendo-lhe uma das suas posses mais valiosas: a medalha de campeão do mundo, que foi com o seu velho amigo no caixão.

Alessandro Florenzi

O jogador da Roma é extremamente supersticioso, ao ponto de causar um grande imbróglio num jogo vital dos sub-21 italianos contra a Suécia, em 2012, de apuramento para o Europeu da categoria. Antes desse encontro, sempre que jogava fora em compromissos da seleção, Florenzi fazia um pré-jogo, na Playstation, com o seu colega de quarto Federico Viviani. Quando não o conseguia fazer, Itália perdia, por isso entrou em pânico quando descobriu que a televisão do quarto não suportava a consola. «A única televisão com porta HDMI estava no quarto do Arrigo Sachhi e não tínhamos coragem de pedir para jogar lá», assumiu. «Pedimos ao assessor de imprensa para nos arranjar uma televisão. Ele saiu e voltou mais tarde com uma de 36 polegadas!». E teve o efeito necessário, porque, no dia seguinte, Itália ganhou 3-2 e Florenzi marcou um golo.

Graziano Pellè

O corpulento avançado do Southampton deve a sua mestria na área com a bola nos pés a uma infância improvável: foi um bailarino de danças de salão de muito sucesso. Quanto os pais começaram a ter aulas de dança, com as irmãs Fabiana e Illaria, o jovem Graziano foi também, para não ficar de fora. Ele até trocava o equipamento do futebol pelos fatos da dança no carro depois dos treinos. «A minha mãe queria que eu dançasse, mas o meu pai queria que eu jogasse futebol, por isso optei por fazer os dois», revelou. «A minha mãe era professora de dança e eu sempre gostei mas nunca deixei de treinar futebol. Costumava usar um fato justo e a minha mãe dizia que eu era muito bom, mas a dada altura tive de escolher entre uma coisa e outra para fazer carreira. Não foi uma decisão difícil.» Pellè, que nunca conseguiu causar impacto no seu país no futebol, ganhou até um campeonato nacional de dança ao lado da sua irmã, com 11 anos, antes de dedicar-se exclusivamente ao futebol.

A figura: Alessandro Florenzi

Alessandro Florenzi já é uma figura da Roma e de Itália

Já não deveria ser surpresa que Alessandro Florenzi tenha conseguido uma carreira com tanto sucesso até esta data, mesmo tendo apenas 25 anos. Ao longo da sua vida, o versátil 'giallorosso' construiu a maior parte do seu talento com base em simples, inabalável e implacável trabalho duro. Para ele, tudo está relacionado com trabalho. E sempre foi assim.

O tio de Florenzi, Pietro, foi um dos primeiros a perceber o potencial que ali estava e isso aconteceu quando tinha apenas quatro anos de idade. Quando entrava na casa da família Florenzi, para uma visita, Pietro vi um excitado Alessandro que corria porta fora com uma bola de futebol debaixo do braço e uma camisola da Roma vestida.

«Vais sair para jogar?», perguntou-lhe. A reação instantânea de Florenzi foi surpreendente: «Claro que não. Vou sair para trabalhar.»

Esta atitude acompanhou-o sempre, além do apoio da família, que teve um papel fundamental na sua carreira. A visita da sua avó ao Estádio Olímpico para ver o neto jogar em 2014 originou um dos melhores momentos de sempre da Serie A.

A Roma recebia o Cagliari quando o amigo de Florenzi, Mattia Desto, assistiu para um remate vitorioso. Imediatamente, subiu às bancadas, passou a barreira de segurança e abraçou a avó. «Foi a primeira vez que ela me viu a jogar», explicou. «Foi fantástico tê-la aqui porque, mesmo em criança, ela nunca foi ver-me e, agora com 82 anos, ela fez todo este caminho para me ver. Ela disse-me que se viesse ao estádio eu iria marcar, por isso o golo foi para ela.»

O gesto enobreceu Florenzi tanto para o público em geral como, especificamente, para a população italiana mais idosa. Em setembro, quase dois anos depois desse golo, até esteve num evento organizado pelo ministério da saúde que alertava para as necessidades dos mais velhos do país. Aquela noite memorável no Olímpico aconteceu três anos depois da estreia na equipa principal e, para um adepto da Roma, não poderia ter sido de melhor forma, pois substituiu Francesco Totti, na última jornada do campeonato, contra a Sampdória.

Foi o prémio para uma época de muito trabalho em 2010/11 em que capitaneou a equipa de juniores até ao título, marcando 15 golos. No ano seguinte foi emprestado ao Crotone, da Série B. A sua popularidade no bairro Via del Mare, onde cresceu ( e onde continua a ter a casa de família mesmo sendo jogador da Roma), era tal que muitos vizinhos subscreveram a Sky Sport Italia para ver o herói local em ação.

Foi durante a passagem pelo clube da Calabria que deu os primeiros sinais da sua excecional versatilidade, o que é, provavelmente, o ponto mais forte do jogo de Florenzi. Durante um jogo da Taça de Itália contra o Lecce, com a equipa do Crotone a sofrer com lesões e castigos, o treinador Lorenzo Menichini estreou-o como lateral. Acabaria por ser, no final da época, eleito o Melhor Jovem.

Ironicamente, é como lateral que FLorenzi mais tem jogado no último ano e meio, seja com Rudi Gardia, seja com Luciano Spalletti, na Roma, e tem sido excelente nesse papel. Contudo, o jogador de 25 anos também é eficaz a jogar mais à frente no terreno, algo que até pode acontecer no Euro, dadas as lesões de Claudio Marchisio e Marco Verratti. É aquilo que os italianos chamam um ‘tuttocampista’: um jogador completo, que joga em todas as posições.

O homem que tem Cesc Fabregas como ídolo no futebol é o último de uma linha de jovens e adeptos que tiveram sucesso na Roma, um futuro capitão se quiserem, depois de Daniele De Rossi e, claro, Totti.

Esta época já teve um grande momento quando, com os dois citados ausentes, teve oportunidade de capitanear os seus heróis de adolescência pela primeira vez no dérbi da capital, contra a Lazio. A Roma venceu 4-1 e Florenzi marcou com um fantástico remate em volley que terá deixado a Lazio a desejar que um amigo de infância tivesse sido mais persuasivo.

«Tinha um amigo na escola que tentava sempre que eu apoiasse a Lazio. Chamava-se Alessandro e tentou de tudo para me converter. Pressionou-me muito mas nunca desisti e apoiei sempre a Roma», contou.

Tal como fez naquele jogo com a Lazio, tem o hábito de marcar com remates espetaculares. Quem esquece a sua gloriosa bicicleta contra o Génova? Ou o seu inacreditável golo do meio campo e ângulo reduzido contra a Juventus, na Champions?

Para deixar os ‘blaugrana’ siderados é preciso ser um jogador especial. Contudo, ele não o acha e a sua explicação mostra outro motivo pelo qual é tão popular: honestidade e humildade. «Aquele golo foi instinto e coragem. Tive coragem de tentar. O dia seguinte foi lindo, mas tenho de admitir que tentei fazer o mesmo no treino e a bola nem sequer chegava à área», brincou.

É este tipo de coisas que o tornam especial. Ele pode não ter a técnica de um Totti ou o talento de um De Rossi mas pela sua paixão e persistência, o homem que passou de apanha-bolas a ídolo dos adeptos está já a caminho de estabelecer-se como ícone da Roma. E agora Itália e Antonio Conte esperam colher frutos do seu trabalho árduo este verão.