A ‘Euro 2016 Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos da Europa para lhe apresentar a melhor informação sobre as 24 seleções que vão disputar o Europeu de França. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Florian Vetter (segredos dos jogadores) e Andreas Hagenauer (perfil de Marc Janko)

Parceiro oficial na Áustria: Der Standard

Revisão: João Tiago Figueiredo

Os segredos dos jogadores da Áustria

David Alaba

Alaba tornou-se o rosto da equipa desde o seu crescimento no Bayern Munique. Mas sabiam que o seu pai George Alaba foi um dos primeiros negros a alistar-se no exército austríaco, em 1995? George nasceu na Nigéria, ao passo que a mãe de David é das Filipinas. George tornou-se músico, DJ – foi residente no infame clube de strip de Viena Beverly Hills – e rapper, cuja banda ‘Two in One’ tornou-se um «one-hit wonder» quando a música «Indian Song» assaltou os tops da Áustria no ano 2000. O canal austríco ORF produziu um bom documentário sobre George Alaba.

Cristian Fuchs

Quando foi escolhido para a equipa austríaca do Euro 2008, tinha 22 anos e jogava no Mattersburg uma equipa local mediana. Oito anos depois, é campeão da Premier League, mas continua com ambições por preencher. «Gostava de jogar na NFL», contou, recentemente, numa televisão austríaca. «Se não tiveres sonhos, não consegues nada na tua vida. Sei que conseguiria rematar a bola a 50 ou 60 jardas.»

Fuchs pensa mudar-se para os EUA depois de terminar a sua ‘primeira’ carreira, levando a mulher e os dois filhos consigo, para Nova Iorque. Não seria, de resto, o primeiro austríaco a jogar na NFL: o lendário Toni Fritsch jogou pelos Dallas Cowboys e venceu o Super Bowl de 1972.

Aleksandar Dragovic

O defesa do Dínamo Kiev está muito perto de assinar por um grande clube na Europa, uma transferência que já é falada há vários anos. O que nem todos sabem de Dragovic é que ele costuma comer dois kiwis por dia e uma barra de chocolate, que diz que está cheio de ácido lácteo, o que é bom para os músculos. Também costuma correr 4km antes de cada treino para aumentar a sua resistência.

Marcel Koller

O treinador é muito respeitado pelos jogadores, imprensa e adeptos. Ele costuma falar com os jogadores informalmente, trata-os por tu, mas depois usa o mais formal «você» nas respostas. Diz que os seus jogadores são como «bons genros» e adora panados, tafelspitz – um prato de vitela cozida – sachertorte (um bolo de chocolate) e também música clássica. «Quando ouço a Orquestra Filarmónica de Viena, consigo abstrair-me de tudo», conta.

Marc Janko

Cuidado antes de se meterem com ele, porque Janko tem amigos os sítios certos. A sua esposa, Katharina Kogl, estudou criminologia e agora trabalha para a Interpol, em Viena. Casaram-se numa cerimónia simples, em Kitzeck, um lugar que, tal como Janko, é conhecido pela altitude – é a mais alta zona vinícola da Europa.

Áustria treina para passar a fase de grupos 

Que jogador da Áustria pode surpreender no Euro?

Aleksandar Dragovic. Para um jogador da sua idade, Dragovic é tão duro quando possível. Só tem 25 anos e já foi duas vezes campeão ucraniano com o Dínamo Kiev e três vezes campeão suíço com o Basileia. O central, que esteve perto de ir para o Manchester United há uns anos, é seguido por grandes clubes europeus, mas o rumor mais forte diz que pode ser o sucessor de Hummels no Dortmund.

Que jogador pode desiludir?

Rubin Okotie. Membro da geração de ouro da Áustria, que chegou às meias finais do Mundial Sub-20 de 2007, o ponta de lança nunca conseguiu confirmar as expectativas. Agora com 28 anos, nunca teve destaque num grande clube, mesmo que até se possa queixar de azar com algumas lesões. O seu contrato com o seu clube atual, o 1860 Munique da II Divisão alemã termina este verão. Esta época marcou oito golos em 32 jogos. Mesmo tendo marcado dois golos cruciais no apuramento, contra Montenegro e Rússia, Okotie é, normalmente, pouco eficaz e a Áustria pode ficar em sarilhos se Marc Janko se lesionar ou estiver em baixo de forma.

Até onde pode chegar a Áustria e porquê?

As expectativas dos adeptos estão muito elevadas, porque o grupo F, que contém Hungria, Islândia e Portugal, parece acessível. Mas mesmo que a Áustria esteja acima da Hungria e da Islândia no ranking, tem pouca experiência em fases finais e chegar aos oitavos de final seria já um sucesso. De qualquer forma, há potencial para ir longe se não houver azar com lesões.

A figura: Marc Janko

Marc Janko durante a passagem pelo FC Porto

Quando os jogadores europeus começam a pensar no final da carreira, de acordo com o que quiserem, têm várias hipóteses. O Qatar oferece salários altos, a China uma aventura no desconhecido (e também salários altos), enquanto a Major League Soccer tem o chamado «sonho americano» (e…salários de sonho). Depois há a Austrália, que é um local lindo, mas um bocado longe. Quando, em 2014, Janko, o melhor ponta de lança austríaco dos últimos anos, anunciou que tinha assinado pelo Sydney FC, a maioria das pessoas pensou que era um ponto final na sua carreira ao mais alto nível.

Alguns jornalistas austríacos ficaram satisfeitos. Dava para visitar o «ex-grande avançado». Em todas as entrevistas aparecia o Janko de óculos de sol na praia ou com a Ópera ao fundo. «Isto é fantástico. Adoro o sol. Mas estou aqui para jogar futebol ao mais alto nível», disse Janko em 2014. E foi o que fez.

Logo ao segundo jogo marcou um golaço, com um remate em volley a 40 metros da baliza. Marcou mais 15 golos e foi o melhor marcador daquela época. As pessoas na Áustria aplaudiam mas já não o viam como o titular da seleção. Sempre moreno, fazendo lembrar uma estrela do rap da Europa central, Janko conseguiu manter a confiança do selecionador Marcel Koller. Mesmo tendo de viajar milhares de quilómetros para cada jogo, continuou a ser uma escolha recorrente.

À primeira vista, o avançado é uma lembrança de outros tempos. Com 1,96m e 89kg, Janko, de 32 anos, é um dos avançados mais altos da Europa, a antítese de estrelas modernas como Sergio Aguero ou Luis Suárez. Por vezes, por causa da altura, a sua movimentação parece desajeitada. Mas tem uma boa técnica com bola, sabe como dominar e passa bem. A sua principal virtude, porém, é marcar, não apenas impondo o físico mas também usando o seu forte pé esquerdo. Uma vez disse: «Marcar, estar no sítio certo no momento certo, é muito instinto e talento. Não é fácil explicar.»

Janko começou a sua carreira no Admira Modling, um pequeno clube dos arredores de Viena. Longe dos grandes clubes da capital, o Austria e o Rapid, e do famoso estádio The Prater. Mas, rapidamente, Janko estaria a conduzir a sua montanha russa. Depois de um ano de sucesso em 2004, juntou-se ao Red Bull Salzburgo, marcando 11 golos em 17 jogos. E a montanha russa sobe. O Red Bull passou a dominar a Liga desde aí.

Em 2008 o selecionador Josef Hickesberger deixou-o de fora do Europeu. Depois de um torneio desolador admitiu: «Sim, Janko teria sido uma escolha melhor, mas agora é tarde». E a montanha russa desce.

Na época seguinte, Janko reagiu de forma furiosa: com 39 golos foi o melhor marcador da Europa. Em 2009 ficou marcado pela morte do seu amigo Gustav Kral, guarda-redes do Admira, num acidente de carro. O seu treinador, o holandês Huub Stevens, não o deixou ir ao funeral. Na época seguinte, Janko mudou-se para o Twente. De lá foi para o FC Porto, ganhando a Liga portuguesa de 2012, mas saindo oito meses depois, com 10 jogos efetuados. Foi para a Turquia, juntando-se ao Trabzonspor.

Depois de dois anos difíceis na Turquia, foi para Sidney e a montanha russa começou a subir novamente. Mas quando o seu contrato terminou, depois de dois anos de sucesso, para sua surpresa, os australianos não quiseram renovar. Mudou-se para o Basileia: voltou à Europa e ao estrelato.

A passagem pela Austrália deu-lhe a confiança que precisava e esta época marcou 20 golos em 33 jogos no seu novo clube, ganhando a Liga com 17 pontos de avanço.

Mais significativas foram as suas metas alcançadas com a seleção, especialmente o golo de bicicleta na vitória contra a Rússia, em junho. Foi o primeiro de cinco golos nos últimos cinco jogos de qualificação da Áustria, que venceu o grupo G.

Agora, em 52 internacionalizações tem 26 golos. Em França, onde vai festejar o seu 33º aniversário três dias depois do último jogo da fase de grupos, a montanha russa vai atingir o seu ponto mais alto. A questão que fica é por quanto tempo poderá continuar a subir.