A ‘Euro 2016 Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos da Europa para lhe apresentar a melhor informação sobre as 24 seleções que vão disputar o Europeu de França. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Vidir Sigurdsson (segredos dos jogadores) e Kristján Jónsson (perfil de Gunnarsson)

Parceiro oficial na Islândia: Morgunbladid

Revisão: João Tiago Figueiredo

Os segredos dos jogadores

Birkir Már Saevarsson

Defesa direito que joga no Hammarby, da Suécia, Saevarsson esteve quase a desistir do futebol aos 17 anos, depois de ter ficado de fora da equipa principal do Valur. Achava que uma carreira como piloto seria uma aposta melhor. Aprendeu a voar, antes de aprender a conduzir. «Não tinha a disciplina necessária para me concentrar no voo e depois acabei por ficar definitivamente interessado em fazer algo pela minha carreira como futebolista», explicou. Saevarsson ainda tem ambições de voar e espera conseguir cumprir esse sonho quando pendurar as chuteiras.

Hannes Thór Halldórsson

Guarda-redes que joga no Bodo/Glimt da Noruega, por empréstimo do NEC Nijmegen. Halldórsson foi rejeitado por um clube da IV Divisão islandesa aos 20 anos. No início desse ano era guarda-redes suplente numa equipa da II Divisão, mas decidiu chamar o seu treinador e dizer-lhe que ia deixar o futebol. «Mais tarde mudei de ideias, defini o objetivo de chegar ao topo em três anos e encontrei uma equipa de terceira que precisava de um guarda-redes», contou. O resto é história já que Halldórsson acabou por estabelecer-se como um dos melhores guardiões da principal Liga islandesa.

Kári Árnason

O caminho de Árnason até ao Euro 2016 é muito diferente da maioria, já que ele começou por mudar-se para os EUA, para estudar na universidade de Adelphi,pouco depois de iniciar a sua carreira em Reiquejavique, no Vikingur. Um ano depois de começar o curso, recebeu uma proposta dos suecos do Djurgarden, treinados pelo seu antigo técnico no Vikingur, e acabou por deixar os estudos para trás, embora tenha continuado a estudar à distância, tirando um mestrado em Negócios. A sua tese focou-se na corrupção no futebol inglês, onde jogou no Plymouth. Atualmente, o central joga no Malmoe, tendo voltado à Suécia.

Jón Dadi Bodvarsson

Ponta de lança do Kaiserslautern, da Alemanha, Bodvarsson assumiu, mal assinou o seu primeiro contrato profissional na Noruega, em 2013, a missão de criar uma campanha de angariação de fundos para ajudar as crianças da sua cidade natal. Quando deixou Selfoss tinha sido eleito o desportista do ano na cidade e ficou decidido a usar o dinheiro para ajudar as crianças com dificuldades para comprar equipamentos e calçado. «Foi ideia da minha mãe. Ela fazia turnos à noite e fez de tudo para que eu pudesse treinar e jogar, além de entrar em torneios de jovens», explicou.

Ragnar Sigurdsson

Sigurdsson não vê muito futebol no seu tempo livre e admitiu que não tinha ideia de quem era Mario Mandzukic, antes do jogo do play-off de apuramento para o Mundial contra a Croácia, em 2013. «Tenho de ser sincero, nunca ouvi falar dele. Não tenho visto muito futebol nos últimos anos», disse. Sigurdsson tem uma opinião muito caustica sobre o futebol moderno, dizendo que é como um espetáculo de moda, onde os jogadores vão mostrando os abdominais e os penteados, enquanto tentam enganar o árbitro para ganhar penáltis.

Islândia trabalha com afinco para a estreia

Que jogador da Islândia pode surpreender no Euro 2016?

Pode ser Ragnar Sigurdsson, um central sólido, que joga no Krasnodar, da Rússia. Vai fazer 30 anos no dia antes do jogo com a Hungria e é, talvez, o mais importante jogador da linha defensiva islandesa, tendo feito todos os jogos da fase de qualificação. Subir para a elite europeia depende de como estiver neste Euro.

Que jogador pode desiludir?

Aos 26 aos, Kolbeinn Sigthorsson já é o segundo melhor marcador de sempre da Islândia, com 19 golos em 37 jogos mas teve dificuldades no Nantes, marcando apenas três golos na Liga francesa, esta época. Além disso, uma lesão no joelho deixou-o de fora dos últimos jogos do apuramento. Sigthorsson tem sido chave no ataque da Islândia mas a lesão e a evidente falta de confiança lançam dúvidas sobre o contributo que pode dar à equipa.

Até onde pode chegar a Islândia e porquê?

É um objetivo realista chegar aos oitavos de final. Uma vitória pode ser suficiente para conseguir o terceiro lugar no grupo e o seu trajeto na qualificação mostra que este grupo de jogadores é capaz.

A figura: Aron Einar Gunnarsson

O capitão e líder da Islândia

Que Aron Gunnarsson ainda seja o capitão da Islândia demonstra a estima que ele tem junto dos treinadores Lars Lagerback e Heimir Hallgrímsson. Não muito depois de receber a braçadeira, Gunnarsson disse à equipa que teriam de ter cuidado em saídas do hotel antes do jogo de apuramento para o Mundial em Tirana, contra a Albânia, pois dizia que os albaneses são «na sua maioria criminosos». O médio do Cardiff City poderia facilmente ter sido excluído por causa disso, mas talvez pelo pedido de desculpas ou pela ideia de que tinha sido mal traduzido, Lagerback e Hallgrímsson decidiram mantê-lo.

Quase quatro anos depois e tendo liderado a Islândia até ao seu primeiro Europeu é difícil que se tenham arrependido da decisão – Gunnarsson tem estado fantástico ao serviço da seleção, desde aí.

«Ele lidou com tudo muito, muito bem. Cometeu um erro, admitiu-o e pediu desculpas a toda a gente. Isso é bom», afirmou Lagerback na conferência de imprensa que antecedeu o jogo seguinte.

Tinha apenas 23 anos quando passou a capitão de equipa e esse desafio fê-lo amadurecer. É o líder natural da equipa. É ambicioso, apaixonado e focado. Traz um estilo combativo ao habitual 4-4-2 islandês. É um bom recuperador de bolas o que deixa a Islândia mais vulnerável sempre que não joga. Além disso, marcou dois golos na fase de apuramento, incluindo um crucial, que valeu o empate com a República Checa em junho, num jogo que a Islândia viria a ganhar por 2-1.

Não é que ele seja conhecido pelos golos que marca, mesmo que tenha chamado a si um pedaço de história no Cardiff quando marcou o primeiro golo de sempre da equipa na Premier League, contra o Manchester City, em agosto de 2013. Mas são os seus lançamentos laterais longos, ao estilo de Rory Delap, que fazem dele mais conhecido em Cardiff e também no Conventry, onde começou a sua carreira em Inglaterra.

Quem tem acompanhado a sua carreira há mais tempo não fica surpreendido por isso: Gunnarson foi um excelente jogador de andebol na juventude e até poderia ter seguido carreira naquele desporto, como fez o irmão Arnór.

Foi, aliás, um dos mais jovens jogadores da Liga islandesa, fazendo três jogos quando tinha apenas 15 anos. Quando fez 17 escolheu o futebol e mudou-se para o AZ Alkmaar, da Holanda.

Arnor, que joga na seleção islandesa de andebol e na Liga alemã, disse ao jornal Morgunbladid: «Quando não estávamos a competir um contra o outro no futebol ou no andebol, arranjamos forma de competir em áreas que até nem têm nada a ver com desporto. Coisas como quem é o primeiro a acabar de comer os cereais, quem é o primeiro a terminar o peixe ao jantar ou até uma corrida de carro quando temos de ir a algum lado.»

Com tamanho espírito competitivo e não menos talento, Gunnarsson estreou-se na seleção com 18 anos e faz parte daquela que é vista como uma geração de ouro, que se qualificou para a fase final do Euro Sub-21 de 2011 e que também inclui Gylfi Sigurdsson, Kolbeinn Sigþórsson, Alfreð Finnbogason, Jóhann Berg Guðmundsson, Birkir Bjarnason e Rúrik Gíslason.

Gunnarsson, porém, foi o primeiro a afirmar-se como sénior e tem vindo a cimentar o seu lugar desde aí.

Nos últimos anos, Gunnarsson tem vindo a jogar com Sigurdsson, atuando como âncora do meio campo e fazendo a ligação entre a defesa e o miolo. Amadureceu desde que se tornou capitão e tem melhorado também o posicionamento. Nos primeiros jogos, a tendência passava muito por correr quase de forma selvagem pelo relvado, mas agora aguenta bem o lugar no miolo defensivo e dá mais liberdade a Sigurdsson para vaguear.

O melhor indicador da importância de Gunnarsson na equipa talvez tenha sido quando se lesionou num ombro no jogo com a Eslovénia de apuramento para o Mundial – esteve ausente no período que coincidiu com o afastamento da Islândia da Copa do Brasil, no play-off com a Croácia. Felizmente, os longos lançamentos laterais de Gunnarsson não saíram prejudicados e o capitão tem agora a oportunidade de liderar a sua equipa, finalmente, numa grande competição.