Julen Lopetegui foi apresentado nesta terça-feira como treinador do FC Porto. Campeão europeu de sub-19 e de sub-21 no comando técnico da seleção espanhola, o basco chega ao Estádio do Dragão para revitalizar o conceito de jogo portista.       

Nos próximos dias, haverá tempo e espaço para uma análise profunda às metodologias de treino e à filosofia do sucessor de Luís Castro. Porém, antes de tudo isso, fica a seguinte questão: quem é afinal Julen Lopetegui Argote, este novo rosto para o futebol português?

O homem apresentado por Jorge Nuno Pinto da Costa nasceu em Asteasu (Gipuzkoa) há 47 anos.

A carreira desportiva levou Lopetegui para longe de casa mas continua a ser um filho orgulhoso do País Basco. Cresceu entre pedras e assadores, no seio de uma família com uma história interessante.

O Maisfutebol seguiu essa pista e chegou a uma fotografia curiosa.



A figura que se destaca é José Antonio Lopetegui, o pai do novo treinador do FC Porto. Nas mãos do famoso levantador de pedras do País Basco estão as irmãs de Julen, o miúdo que completa o quadro.

José Antonio, conhecido como Aguerre II, é uma figura popular em Asteasu. Entre vários recordes, destaca-se este: 22 levantamentos de uma pedra esférica de 100 quilos em apenas um minuto! 

O pai de Julen Lopetegui fazia exibições por todo o país. Chegou a ser desafiado para seguir uma carreira no boxe, face à sua envergadura física, mas não queria ver os filhos a crescer nesse ambiente

Aos 83 anos, José Antonio mostra-se satisfeito com a decisão tomada. Aceita falar com o Maisfutebol e deixa-se levar pelas suas memórias.

«Essa fotografia de que me fala foi durante uma exibição que fiz na praça de Asteasu. Para além das pedras, quiseram que posasse a segurar as minhas filhas. O Julen está ao meu lado.»

José Antonio garante que não costumava levar os filhos para esse tipo de eventos.

«Não queria que pegassem nas pedras. Aquilo era animalesco, uma violência enorme. Só o fazia porque ganhava dinheiro, claramente. Sei que os meus filhos acabaram por levantar pedras de vez em quando, às escondidas, mas só pela curiosidade, felizmente.» 

 
Os assadores e a bela carne basca

José Antonio Lopetegui tinha outro amor, um que ficou na família até aos dias de hoje: a carne basca. O treinador garante que o pai «é um artesão da carne».

«Tive um assador (ndr. restaurante típico) até que me reformei. Os meus filhos cresceram nesse meio e aprenderam a tratar muito bem a carne. A carne basca é fantástica mas também é preciso saber o que fazer com ela, como cozinhá-la. O Julen e o irmão, que agora está no México, dominam muito bem a arte.»

O sucessor de Luís Castro nunca perdeu essa paixão. Cresceu no meio, trabalhou no restaurante dos pais e só podia ir treinar quando o serviço estivesse concluído. Hoje em dia, é sócio do grupo de restaurantes Imanol em Madrid.



O irmão pelotari e a forte amizade com Rafa Nadal

Julen Lopetegui optou pelo futebol mas o seu irmão outro caminho. José foi um dos praticantes mais entusiastas da pelota basca. «Era um grande, grande jogador. Se calhar os portugueses não conhecem esse desporto, mas aconselho vivamente», salienta o pai. 

Entretanto, o irmão de Julen abraçou negócios em outras áreas e chegou a surgiu nos meios noticiosos espanhóis pela relação com empresas da família Nadal. O tenista tem ligações estreitas com o clã Lopetegui.

«Eles têm negócios juntos e o Rafael já veio várias vezes cá a casa. Até o Rafael fica surpreendido quando lhe conto que eu levantada pedras com cem ou mais quilos, na minha época. São duas famílias muito próximas», explica o pai José Antonio.

A carreira de Julen virada para a formação

Voltemos a Julen. O miúdo de Asteasu evoluiu como guarda-redes e passou por Real Madrid, Las Palmas, Logroñes, Barcelona e Rayo Vallecano. Nos maiores clubes, foi encarado invariavelmente como segunda opção. Ainda assim, fez um jogo pela seleção espanhola e esteve no Mundial de 1994.

Em 2003, assumiu o comando técnico do Rayo Vallecano, sem grande sucesso. Ganhou notoriedade como comentador desportivo e trabalhou como responsável dos olheiros do Real Madrid. Entretanto, foi treinador do Castilla e de lá transitou para as seleções jovens de Espanha. 

 

Julen Lopetegui levou os sub-19 espanhóis ao título europeu em 2012 e fez o mesmo com os sub-21 no ano seguinte. Um selo de garantia, reforçado pelas palavras de Vítor Baía.

Na época 1996/97, Baía e Lopetegui foram companheiros de equipa no Barcelona. Companheiros de posição, aliás. O português, antiga glória do FC Porto, aprova a contratação.

«Notava-se bem, já nessa altura, que era um líder. Fico satisfeito com a escolha de um treinador que vem da formação, porque o futuro passa por aí. Só se consegue restituir determinados valores, como a entrega e a garra, através da formação», disse o guarda-redes ao Maisfutebol. Leia mais declarações de Vítor Baía AQUI.

Os adeptos do FC Porto podem contar com um treinador que aposta na cultura de posse, assente no 4x3x3 que tem sido habitual no clube portista. Indicações para confirmar nos próximos tempos. 

Juan Carlos Martínez, Julian Calero e Juan Carlos Arevalo (treinador de guarda-redes) também fazem parte da nova equipa técnica, para além de Rui Barros, homem da casa que - como interino - já venceu uma Supertaça de Portugal. Luis Castro voltará à equipa B.
     


O Porto, a preferência por Espanha e a mania de Mourinho

Com contrato válido por três temporadas, Julen Lopetegui assume o comando técnico do FC Porto. Pinto da Costa admitiu que as conversações decorriam há algum tempo e o pai do treinador confirma o cenário. Há uma semana, o novo treinador portista comunicou a decisão à família.

O empresário Jorge Mendes esteve ligado a um processo que o administrador Antero Henrique acompanhou a par e passo.

«A família juntou-se na semana passada, sempre à volta de um assador, claro, e o meu filho disse-me que ia para o Porto. Olhe, eu nunca fui a Portugal, mas espero ir agora. Tenho de ser franco e dizer que preferia que ele ficasse em Espanha, mas o FC Porto tem uma grande história e espero que tudo corra bem.»

José Antonio Lopetegui despede-se com uma garantia: o seu filho deixará uma boa imagem no futebol português.

«Esteve aqui em Espanha o Mourinho e sinceramente não me encantou. Não lhe tenho simpatia nenhuma. Fez bom trabalho mas tem mania. O meu filho não é nada assim. É mais sério, concentra-se no trabalho, entrega-se por completo e não se preocupa em expor o sucesso, antes trabalha para que ele seja reconhecido com naturalidade. Acredito que vai ser feliz!»