Futebolistas consagrados, atores e músicos famosos, políticos influentes… Cada vez mais as personalidades internacionais revelam a sua simpatia ou até uma fervorosa predileção por clubes portugueses.

O mais recente exemplo é o de Eric Cantona. O ex-futebolista francês que foi «Rei» em Old Trafford, ao serviço do Manchester United, e que agora é ator, vive em Lisboa e confessou na última semana – em entrevista à revista Time Out – que é adepto leonino.

«Quando viemos para Lisboa, levei o meu filho, que tem seis anos, a ver o Sporting e o Benfica. Vimos jogos de ambos os clubes. E ele ficou apoiante do Sporting, tal como eu. Mergulhei na história do clube e acho que tem uma formação extraordinária, um sistema de desenvolvimento da personalidade e do potencial dos jogadores excecional. Para mim, a verdadeira riqueza de um clube de futebol está na formação», revelou a antiga glória do futebol francês, que tem sido presença regular em Alvalade.

Cantona não é, porém, o primeiro futebolista estrangeiro consagrado a torcer pelo Sporting. Zico, craque do Flamengo e da seleção brasileira da década de 80, mostrou publicamente e por mais do que uma ocasião vontade de treinar o Sporting, clube do seu pai, tondelense que emigrou para o Rio de Janeiro e que manteve uma ligação a Portugal através dos relatos que ouvia, aos domingos, no rádio, colocado junto a um fogareiro onde preparava o almoço, uma memória que marcou a infância do «Galinho».

Há também personalidades internacionais entre os ilustres sportinguistas. Nelson Mandela, malogrado presidente sul-africano e Prémio Nobel da Paz em 1993, foi nomeado sócio de mérito do clube leonino em 28 de Julho de 1997, com o cartão de associado número 31 118. Por sua vez, o ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Timor-Leste José Ramos Horta é leão desde jovem e chegou mesmo a receber em 1998 o título de sócio honorário do clube de Alvalade, numa decisão tomada por unanimidade e a que se seguiu uma homenagem presidida por José Roquette.

Na mesma altura, também Ximenes Belo, que partilhou o prémio Nobel da Paz de 1996 com Ramos Horta, foi distinguido como sócio honorário do Sporting. Porém, o então bispo de Baucau é desde a juventude adepto da Académica e até foi convidado pela direção da Briosa para assistir no estádio a um jogo frente ao Benfica em 2007.

Benfica, do n.º1 do ténis ao antigo campeão de boxe

Outra ilustre figura da resistência timorense também tem uma duradoura ligação ao futebol português. Xanana Gusmão, também antigo presidente e primeiro-ministro de Timor-Leste, tem o coração dividido entre a Académica e o Benfica. Foi nomeado sócio honorário da Briosa em 2006, mas já em 2004 havia sido galardoado pelo Benfica no Estádio da Luz, onde regressou uma década depois para prestar homenagem a Eusébio.

Xanana é um apaixonado pelo desporto-rei: jogou futebol nos tempos de estudante, em Coimbra, e agora, aos 70 anos, é presidente do Sport Laulara e Benfica, atual campeão timorense. No entanto, também grandes figuras do desporto internacional mostraram a sua simpatia pelo clube da Luz.

Um dos casos mais afamados é do tenista sérvio Novak Djokovic. O atual n.º 1 do ranking ATP revelou a sua preferência em 2007, quando apareceu no court central do Estoril Open envergando uma camisola do Benfica, numa altura em que esteve na Luz a assistir a um dérbi frente ao Sporting. E a relação tem sido cultivada ao longo do tempo. De tal modo, que em 2013 a legião de jogadores sérvios do Benfica – então composta por Nemanja e Uros Matic, Lazar e Filip Markovic, Filip Djuricic, Miralem Sulejmani, Ljubomir Fejsa e Stefan Mitrovic – enviou-lhe uma camisola autografada.

No mundo da música também há adeptos encarnados. É o caso de Noah Lennox, mais conhecido por Panda Bear, músico norte-americano dos Animal Collective, que vive em Lisboa e até compôs um tema com o nome do clube.

Igualmente conhecido é o apoio de Carter Beauford, baterista da popular Dave Matthews Band, que já se apresentou em palco com uma camisola do Benfica, um gosto que herdou do seu pai que era fã de Eusébio.

Mais fortuito foi o apoio da lenda do boxe Mike Tyson, antigo campeão mundial de pesos pesados. O pugilista norte-americano foi influenciado pelo seu amigo Mário Costa, um emigrante português a viver nos Estados Unidos, e em julho do ano passado visitou o plantel de Rui Vitória antes de um jogo de pré-época na Red Bull Arena, em Nova Jérsia.

Podem tentar descobri-lo no balneário, neste Tweet publicado pela conta oficial do clube encarnado:

Conexão colombiana e musical do dragão

Do lado do FC Porto, há personalidades internacionais que simpatizam com o clube reconhecidamente bem mais diplomáticos do que o benfiquista Tyson.

A prova disso é o presidente da Colômbia. Juan Manuel Santos acaba de ser galardoado com o Prémio Nobel da Paz e o FC Porto não perdeu a oportunidade para felicitar este seu adepto distante através da rede social Twitter.

Santos, que já tinha recebido uma camisola azul e branca autografada das mãos de Falcao em 2011, após a conquista da Liga Europa, revelou em definitivo a sua afeição pelos dragões quando em 2013 numa receção em Bogotá ao então Presidente da República Cavaco Silva em que elogiou publicamente o clube português e fez questão de se fotografar com uma camisola e um cachecol do FC Porto.

«Quero agradecer ao clube tudo o que fez, por exemplo, por Radamel Falcao, James Rodrigues e Jackson Martinez», disse então o agora Nobel da Paz, que em 2014 deslocou-se à Ordem da Trindade, no Porto, para acompanhar a intervenção ao joelho de Radamel Falcao, encontrando-se então com Pinto da Costa.

Conhecidas são também as preferências pelos portistas do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, ou até do ator brasileiro Lima Duarte.

Mais circunstancial e muito provavelmente com um comercial subjacente foi o apoio do CEO da Ryanair, o irlandês Michael O’Leary, que se apresentou com a camisola do FC Porto numa conferência de imprensa no Aeroporto Francisco Sá Carneiro onde anunciou novas rotas da sua companhia aérea. Um gesto semelhante ao do realizador e músico bósnio Emir Kusturica, autor do documentário «Maradona» e de filmes de culto, como «Gato Preto, Gato Branco», apresentou-se em palco com a camisola n.º 10 do FC Porto num concerto em Vila Nova de Gaia, em 2008, com a sua «No Smoking Orchestra». O mesmo fez James Bay, já em julho deste ano, também num concerto em Gaia.

O músico britânico usou a indumentária portista para tocar o tema Hold Back The River, no Festival Marás Vivas, como poderá conferir aqui:

Senna azul e «Schumi» ao xadrez

Fora dos grandes há outras simpatias inusitadas e eventualmente até circunstanciais. Como a de Diego Maradona pelo Sp. Braga. Em março de 2013, El Pibe esteve em Paredes a convite de Jorge Mendes num jantar em que teve também a companhia do presidente do Sp. Braga, António Salvador, e fez questão de autografar e fazer uma dedicatória para o dirigente numa camisola do clube bracarense.

No entanto, uma das mais impressionantes conexões de personalidades internacionais a clubes portugueses é a que junta dois antigos rivais da Fórmula 1. Ayrton Senna foi sócio do Belenenses, único clube de que era adepto além do Corinthians, entre 1988 e 1 de maio de 1994, data do seu falecimento, enquanto Michael Schumacher teve uma ligação mais recente com o Boavista.

O alemão heptacampeão mundial de Fórmula 1 visitou o Estádio do Bessa em 2003 para um jogo de estrelas e engraçou com o equipamento axadrezado, por ter o padrão da bandeira de meta e por ser igual ao da equipa de amigos com quem fazia jogos de futebol.

Nessa altura, «Schumi» visitou a sala de troféus axadrezada e no final o presidente João Loureiro concedeu-lhe o título de sócio honorário, sem deixar de brincar com uma possível contratação: «Nem para o seguro dele teríamos dinheiro…»