José Peseiro falou em entrevista ao Maisfutebol, nos últimos dias de férias em Portugal. Neste capítulo, o técnico rejeita a ideia de que é um técnico com azar:

Falhar o Mundial por causa de um golo sofrido no último instante do período de descontos do «playoff» fica atravessado na garganta para sempre?

Fica. A dor só acontece quando a felicidade está muito perto. O apuramento esteve perto em duas ocasiões. Foi uma grande tristeza partir dos mínimos e ter estado tão perto. Não é fácil treinar uma selecção com esta idade. A vontade de estar no relvado todo o dia, de ter adrenalina. A motivação era estar no Mundial, que era uma grande montra. Foi uma grande dor.

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Nessa altura lembrou-se daquela semana terrível com o Sporting, em que deixa fugir o título e a Taça UEFA? Pensou que a sorte tem sido madrasta consigo?

Faz parte. Os meus amigos dizem que eu tenho azar, mas eu acho que sou um treinador com sorte. Comecei na terceira divisão e estou onde estou, sem ter um passado como jogador. É claro que se não tenho sofrido aquele golo na Luz, se calhar tinha sido campeão e tinha vencido a Taça UEFA. Mas também recordo que na Holanda, com o AZ Alkmaar, podíamos ter sofrido um golo ao minuto 119, e na jogada seguinte o Miguel Garcia marca. Estou a acumular para que um dia a sorte ajude. São coisas que marcam, que nos abalam, mas não podemos baixar os braços.

«Não é normal falhar o Mundial e ficar»

Sente que, se aquela semana ao serviço do Sporting tem sido diferente, a sua carreira tinha disparado noutro sentido?

Não sei para que lado podia ter disparado. Havia alguns contactos, que não sei o que teriam dado, mas é certo que tinha ganho uma Liga e uma Taça UEFA. Pelo menos o currículo estava marcado. Para quem ganha alguma coisa, o futuro fica mais fácil. É claro que algo assim fica marcado, mas não quer dizer que isso represente a competência. Também tive experiências muito ricas, ao longo destes últimos anos, que não sei se teria vivido se tivesse ganho. Treinei clubes que estão entre os maiores da Grécia e da Roménia, e agora a selecção da Arábia Saudita.

Pensa em voltar a Portugal para corrigir aquilo que não conseguiu com o Sporting?

Sinto vontade de regressar ao meu país, a seu tempo, para lutar por um campeonato e até por uma Liga Europa ou pela Liga dos Campeões. Tenho ambição e sinto-me cada vez mais capaz. A idade e a experiência fizeram com que melhorasse a minha forma de estar e de ver, como é normal.

O regresso só seria para um «grande», ou qualquer clube é uma possibilidade?

Tenho respeito por todos os clubes, mas a vontade de qualquer treinador é estar numa equipa que lute pelos títulos.

Já foi algumas vezes associado ao Sp. Braga. Seria também uma boa opção para um regresso, no futuro?

O Sp. Braga está muito bem servido de treinador. Fez uma época excelente, que devia ter sido ainda mais valorizada. Todas as semanas se perspectivava uma quebra, e eles lutaram até ao fim. Todas as possibilidades estão em aberto. Já tive vários convites de Portugal, mas não seria correcto falar deles. Só falo das propostas que assino.

Embora tenha falado na falta que sente do trabalho diário de campo, ambiciona treinar a selecção portuguesa?


Não estou insatisfeito na Arábia. Encontrei motivações para compensar a falta de trabalho diário no relvado. Um dia quero treinar a Selecção Nacional, é evidente. Mas concluída a experiência na Arábia Saudita, gostaria que a próxima etapa fosse um clube.