Boris Peskovic, o guarda-redes que segurou com mãos de ferro o nulo da Académica em Alvalade, tem subido a pulso em Coimbra. Chegou envolto em desconfiança, causou arrepios nos adeptos e colegas logo nos primeiros jogos pelo estilo pouco ortodoxo, mas foi, aos poucos, vencendo os críticos até à noite do último sábado, em que apenas ouviu elogios. Muitos elogios.
A contratação deste eslovaco, de 32 anos, visou assegurar concorrência a Pedro Roma, que mostrara intenção, na pré-época, de jogar até aos 40 anos, mas a idade do recém-chegado também não permitia pensar em solução de futuro, razão pela qual os responsáveis da Briosa lhe ofereceram um contrato de uma época. A última exibição terá contribuído para uma esperada renovação.
Ainda não era reforço da Académica e o seu nome já soava, de forma controversa. O processo negocial, exposto pelo Maisfutebol, obrigou a pesquisas sobre um desconhecido guardião que jogava na Polónia e acabara de terminar contrato com o Gornik Zabrze.
Não foi difícil chegar ao episódio porventura mais marcante da carreira do eslovaco, até porque a estória vinha no site da UEFA: Peskovic foi condenado, há cinco anos, por corrupção passiva, por alegadamente ter aceite uma verba de 50 mil euros para perder um jogo, decisivo para a subida à I Divisão da Polónia, quando representava o MKS Swit Nowy Dwor Mazowiecki.
De acordo com a mesma fonte, o jogador foi punido com um ano de suspensão, mas teve melhor sorte do que seis dos seus colegas, que foram simplesmente irradiados. O escândalo, primeiro do género na Polónia, abalou profundamente a estrutura do futebol local e a investigação, conduzida pela federação polaca, envolveu até recurso ao detector de mentiras.
Os responsáveis da Briosa tinham, todavia, a informação de que o castigo fora mais brando, devido ao recurso apresentado, e resolveram avançar para a contratação, face às boas referências recolhidas sobre o atleta.
«Ilibado», assegura empresário
Mal chegou a Portugal, no início de Julho, Peskovic fez questão de esclarecer o caso. Como não falava inglês nem português, foi o seu empresário quem tratou de retratar a imagem pública do guarda-redes.
«Houve um jogo, no play-off de acesso à I Divisão, que as autoridades polacas consideraram estranho e decidiram investigar. Cinco jogadores foram irradiados, um apanhou dois anos e o Peskovic levou um ano. Mas ao fim de seis meses, foi ilibado e voltou a jogar. Aliás, neste momento, é ele que tem um processo contra a federação», contou Gaspar Freire.
De acordo com o agente, Peskovic, quando inquirido, terá confirmado a tentativa de corrupção da parte do Garbarnia, a equipa que quis comprar o jogo, «mas provou que não a aceitou e, com isso, foi ilibado».
Um Paulo Santos mais calmo
Peskovic nasceu a 30 de Junho de 1976, em Topolcani, Eslováquia, mede 1,88m, pesa 86kg, e começou a carreira no Nedanovce, mas foi no Slávia de Bratislava que mais se destacou. Acabaria por emigrar para a Polónia aos 26 anos, para jogar no MKS Swit Nowy Dwor Mazowiecki, da II Divisão, passando depois pelo Lotz, Pogon e Sosnowiec, antes de ingressar no Gornik, no ano passado.
Pelo facto de não dominar o inglês, a apresentação do jogador ficou a cabo do empresário, que falou um pouco do seu percurso: «Foi formado no Slávia de Bratislava e decidiu emigrar para a Polónia porque estava tapado pelo titular da selecção eslovaca na altura. Foi considerado o melhor guarda-redes a actuar na II Divisão polaca, em 2002, curiosamente o ano daquele caso. Depois esteve no Pogon, onde jogou com o Kazmiercsak. Na minha opinião, é uma espécie de Paulo Santos, mas com mais calma. É forte, sai bem e tem muita experiência.»