A saída de Petr Cech do Chelsea é um acontecimento que tem razões para que (quase) todos possam compreendê-la – no sentido de que a aceitam. Mas a saída de Petr Cech do Chelsea para o Arsenal não terá essas razões aceites, pelo menos, por José Mourinho.

Muitos adeptos e muitos incógnitos terão também a sua opinião (que poderá dividir-se entre pró e contra). Mas, entre os que são conhecidos de todos, entre aqueles de quem se fala, o treinador português parece ter ficado de um lado de uma barricada que tem do outro (quase) todos os restantes, porque concordantes com esta troca...

A mudança está concretizada. A «BBC» estima a contratação de Cech pelo Arsenal ao Chelsea em 10 milhões de libras (cerca de 14 milhões de euros). Foi assim que o negócio ficou feito.

E foi assim que os envolvidos foram vivendo a mudança. Cech despediu-se primeiro do Chelsea.
 


E, mesmo adiantando já pistas quanto ao seu destino (que vinha sendo anunciado desde novembro do ano passado), só (imediatamente) depois das despedidas o guarda-redes checo fez a sua própria oficialização.
 



O comunicado do Chelsea a anunciar a transferência de Cech também não se ficou por aí. Foi acompanhado por uma homenagem escrita intitulada «Adeus a um Grande», onde a primeira recordação é a da noite de 19 de maio de 2012, com as defesas de Cech na Liga dos Campeões ganha ao Bayer Munique no desempate por penáltis, essênciais para «uma das maiores se não a maior noite na história» do clube.

Os 11 anos em Stamford Bridge que coincidem com os melhores anos do Chelsea são engradecidos com as quatro Ligas Inglesas, uma Liga dos Campeões, uma Liga Europa, quatros Taças de Inglaterra e três Taças da Liga, além das distinções individuais: em Inglaterra e na Europa.

A chegada de Cech ao Chelsea coincidiu com a chegada de José Mourinho para esta nova página do clube até ao topo do mundo como idealizada pelo seu dono, Roman Abramovich. O checo ficou desde 2004/05 até agora. A sua passagem e o seu papel não são esquecidos. São «onze anos especiais dados por um jogador especial», diz institucionalmente o Chelsea: «Obrigado pelas memórias Big Pete
, uma verdadeira lenda do Chelsea.»
 



Ao que tudo indica, Roman Abramovich é um dos que tem isso (muito) em conta e deixou-o
sair. Para o Arsenal. Mesmo que a vontade do seu atual treinador não fosse essa.

A vontade de Cech deixar o Chelsea começou a ficar manifesta com o regresso de Thibaut Courtois aos «blues», para ser o titular na baliza remetendo o checo para o banco de suplentes. Esta época que passou foi a de confirmar posições para tomar decisões. A mais indicadora, no comunicado de Cech, refere a conversa com Abramovich em que foi aceite que pudesse «ficar na Premier League».

Cech não só deixa o Chelsea a um ano do final de contrato como vai jogar no Arsenal, rival do Chelsea. E era isto em concreto que José Mourinho menos queria. O treinador português não pretendia apenas manter uma solução de luxo entre os suplentes; a perdê-la, não queria perdê-la para um adversário direto nas competições internas.

Nos meados deste mês de junho, Mourinho foi explícito quanto à possibilidade de Cech reforçar o Arsenal: «A minha resposta não é importante porque o dono é o dono. Eu vou ter de aceitar qualquer decisão que o dono tome. Eu sou diferente. Eu tenho o mesmo respeito pelo Petr que todos no clube têm, mas a minha resposta [a uma eventual mudança para o Arsenal] seria: nem pensar
»

«Se a resposta for diferente eu aceitarei isso», disse Mourinho nesta entrevista à «BT» citada pelo «The Guardian», mas o treinador português acrescentou também que o mínimo para si seria fazê-lo com uma moeda de troca: «Em todos os clubes que têm interesse no Petr eu consigo encontrar um jogador de que também gosto.» A imprensa inglesa colocava a saída para o Paris Saint-Germain como o mais satisfatório para Mourinho, ou, então, o envolvimento de Theo Walcott ou de Alex Oxlade-Chamberlain na concretização da transferência.
 


Cech troca o Chelsea pelo Arsenal sem outras contrapartidas que não as financeiras. Quando José Mourinho dispensou jogadores dos seus planteis do Chelsea para outros adversários internos, as decisões nem lhe trouxeram dissabores ou arrependimentos de maior. A saída de Cech para um rival direto é uma questão que estará agora sob escrutínio apertado... John Terry já tinha dito (no início do mês) que o checo pode valer uns «15 pontos» aos «gunners»...

Entre os dispensados por Mourinho, Juan Mata fez alguns bons jogos pelo Manchester United, mas não o suficiente para lamentar a sua falta ou, muitos menos, colocar em causa a verba conseguida de lucro entre o que foi pago ao Valencia e recebido dos «red devils». Romelu Lukaku afina pelo mesmo diapasão: os «blues» ganharam dinheiro com um avançado cuja falta não foi lembrada em Stamford Bridge. Frank Lampard ainda marcou ao Chelsea, mas foi mais uma coincidência do destino do que reforço do Manchester City para travar o título à equipa de Mourinho.

Até William Gallas deixou de ser o mesmo quando deixou os «blues» e se mudou para o Arsenal – na primeira passagem de Mourinho por Londres. Em Highbury, o defesa francês já não jogou tão bem. Ficou a ganhar o Chelsea nessa mudança que foi uma troca, pois Ashley Cole deixou os «gunners» e seguiu para Stamford Bridge com papel de indiscutível até há poucos anos.

São mais de duas dezenas os jogadores que já vestiram as camisolas dos dois clubes. Cesc Fàbregas era o mais recente, numa lista que, neste século, inclui nomes como Emmanuel Petit ou Nicolas Anelka. Petr Cech é o último. Fazendo uma troca direta. A comunicação social inglesa refere um ordenado na ordem dos 560 mil euros para o guarda-redes de 33 anos.

«O Petr Cech é um jogador que admiro há muito tempo e estou muito satisfeito que ele tenha decidido juntar-se a nós», afirmou Arsène Wenger, citado pela «BBC». O treinador do Arsenal tem agora no seu plantel quatro guarda-redes: o internacional checo Petr Cech, o internacional polaco Wojciech Szczesny, o internacional colombiano David Ospina e o argentino de 22 anos Emiliano Martínez.

Ospina está no rescaldo de uma grande Copa América e a sua saída para o Fenerbahçe pode agradar a todos. O interesse da Roma em Szczesny está noticiado, mas não se sabe se o polaco está disposto a sair de Inglaterra. O que parece mais certo, agora, é que Cech reencontre o Chelsea no primeiro jogo oficial da época: a Supertaça de Inglaterra, a 2 de agosto.