«No futebol o que hoje é verdade, amanhã é mentira». Esta é uma das frases mais célebres do futebol português e foi proferida por Pimenta Machado, que se demitiu esta terça-feira da liderança do V.Guimarães, onde se tinha tornado o presidente de um clube da Península Ibérica há mais tempo no cargo.
Foi a 10 de Março de 1980 que António Alberto Coimbra Pimenta Machado, nascido a 12 de Abril de 1950, assumiu a presidência de um clube que sentia cada vez mais necessidade de crescer. Passados 24 anos, Pimenta Machado abandona o cargo, logo após o ponto final numa época muito atribulada para o clube e ainda envolvido num processo judicial em que é acusado de peculato.
Para trás fica uma obra importante, como a construção do Complexo da Unidade (baptizado como Complexo Desportivo Dr. António Pimenta Machado), um centro de estágio com excelentes condições de trabalho e, durante muitos anos, único em Portugal, que serviu para formar dezenas e dezenas de jovens talentos. Paralelamente, o Estádio D. Afonso Henriques foi remodelado e foi o primeiro palco do Euro 2004 a ser inaugurado.
Casado e pai de quatro filhos, nascido e criado em Guimarães, o dr. Pimenta Machado, como gosta de ser chamado, vive mais um dos muitos momentos conturbados da sua vida. Mas nem sempre as coisas lhe correram mal. As boas condições monetárias da família permitiram-lhe estudar nas melhores escolas, tendo frequentando o ensino secundário em Fafe e o curso superior na Faculdade de Direito de Lisboa.
Ao nível desportivo, apesar de tantos anos à frente do clube, tem como única conquista no futebol uma Supertaça Nacional, em 88/89. Somam-se muitas classificações para as competições europeias e dois terceiros lugares, em 86/87 e 97/98. A época de 86/87, aliás, ficou na memória, com Marinho Peres a levar a equipa aos quartos-de-final da Taça UEFA. Muitos treinadores de sucesso passaram por Guimarães, como são os casos de Pedroto, Manuel José, Paulo Autuori e Jaime Pacheco. Esta temporada foi uma das mais difíceis em termos desportivos. Só na última jornada o Guimarães evitou a despromoção à Liga de Honra.
Já foi condenado a prisão
Considerado um duro negociador, pedindo mundos e fundos quando vendia um jogador e regateando até ao último centavo quando contratava alguém Pimenta Machado foi detido a 15 de Dezembro de 2002 exactamente devido a um processo negocial mal justificado, tendo como peça central a transferência de Fernando Meira para o Benfica. Seria libertado sob caução de um milhão de euros.
O presidente sempre disse ter aplicado o dinheiro das transferências no património imobiliário do clube, mas talvez não tenha sido bem assim. Os problemas com a justiça, porém, não são só de agora. Entre acusações de contratos paralelos e desvio de fundos nos terrenos pertencentes ao clube, surge o caso N'Dinga, as investigações à Farmácia da sua esposa (na Costa da Caparica) e a queixa-crime movida pelo árbitro António Rola por tentativa de difamação, em 96, antes do jogo Vitória-Braga, em que Pimenta Machado ameaçou abrir os portões de acesso ao relvado se algo corresse mal.
Em Março de 2001 foi condenado a um ano de prisão, com pena suspensa de dois anos, na sequência da desobediência a uma providência cautelar que garantia aos jornalistas da Rádio Santiago, de Guimarães, acesso às instalações do clube, bem como aos jogadores, treinadores e dirigentes. Em Março deste ano ficou a saber-se que irá mesmo a julgamento por esse caso.
Voltou a candidatar-se à presidência do Vitória Sport Clube apesar do caso Meira e pouco mais de um mês depois da detenção, a 25 de Janeiro de 2003, vencia nas urnas Manuel Rodrigues, com 67 contra 32 por cento dos votos. Agora acabou por não resistir a uma época de desgaste intenso, no meio de muitos mais casos, das dúvidas sobre quem era o dono do estádio a problemas de violência recorrentes nos jogos da equipa, dos maus resultados e de contestação, nas bancadas e nos gabinetes. A ver o que fará agora.