Nome: Artur de Sousa (Pinga)

Data de nascimento: 30/07/1909. Falecido a 12/07/1963

Posição: Avançado

Internacionalizações: 21 (9 golos)

Período de atividade: 1929-1946

Clubes representados: Marítimo e F.C. Porto

Principais títulos conquistados: Dois campeonatos de Portugal (1931/32 e 1936/37); Campeão da I Liga (1934/35); Campeão Nacional da I Divisão (1938/39 e 1939/40); Melhor marcador do Campeonato da Liga 1935/36 (21 golos em 14 jogos)

Foi unanimemente considerado o melhor jogador português de sempre durante várias épocas. Dele se dizem maravilhas, capazes de nos surpreender a um ritmo semelhante ao das suas correrias - a falta de registos de imagem acentua a lenda. O talento, descoberto na Madeira, devidamente apurado no Porto, permitiu-lhe ser sempre dos futebolistas mais bem pagos em Portugal numa altura em que o dinheiro não abundava neste meio. Nasceu Artur de Sousa, no Funchal, mas herdou a alcunha ainda antes de entrar para o mundo que lhe acenava desde menino. O pai já era Pinga, o filho também o seria. Para sempre.

A carreira principiou no Marítimo, supervisionada por Josef Szabo. Então bastante jovem, tinha por hábito colorir ainda mais a ilha de todas as cores, de todas as flores. Concebia jogadas no momento em que as executava e espalhava um encanto permanente. O continente, obviamente, estava atento e por isso, quando o F.C. Porto contratou Szabo, em 1930, concordou que Pinga também se transferisse, uma vez que recolhera excelentes referências do jovem avançado. O processo, todavia, não foi nada pacífico, a ponto de os dirigentes portistas, espantados com o que viam, justificarem a sua troca de residência com um emprego fictício numa fábrica de um futuro presidente do clube.

Pinga rapidamente assumiu uma preponderância notável no F.C. Porto e chegou à seleção nacional no mesmo ano, num jogo com a Espanha, disputado no Campo do Ameal. Num par de jogos, tornou-se indiscutível das quinas, tendo sido capitão de equipa em duas ocasiões. Portugal só deixaria de contar com a sua magia em 1942. A Suiça foi o último país que defrontou. Retirou-se após 21 internacionalizações, um número significativo numa fase em que os jogos entre seleções quase se contavam pelos dedos.

Soube sempre que era o melhor entre os melhores e que muito do fulgor do F.C. Porto na década de 30 saía das suas chuteiras de travessas de madeira. Talvez por isso jamais tenha lutado por moldar um feitio especial. Pinga não se cansava de falar das saudades da mãe, que ficara no Funchal, e chegou a referir-se ao desgosto para justificar o ciúme de algum companheiro mais apaparicado. Tinha o perfil dos génios e jamais se satisfazia com aquilo que alcançava. Por mais grandioso que o feito lhe parecesse.

Em 1945, já com 36 anos, depois de tudo ter ganho e ter alcançado uma fama inabalável, quis prosseguir com uma carreira aparentemente condenada, consentindo que lhe operassem o joelho. O menisco já não aguentava e a intervenção era das primeiras no país. Pinga dividia-se entre a resignação e a vontade de voltar ao mundo de encanto. Venceu o apetite pelo couro. Regressaria à competição em 1946, curiosamente no mesmo ano em que Szabo reassumiu os destinos do plantel portista, depois de uma passagem pelo Sporting. Aguentou apenas alguns meses. Até 7 de Julho de 1946, dia histórico para o F.C. Porto. Pinga chorou, o Estádio do Lima chorou, talvez até a bola tenha chorado. Terminava a magia, aparecia o treinador, alguns quilómetros a Norte, no Tirsense. Anos depois, voltaria à Invicta. Queriam que ensinasse os mais novos. Pinga conseguiu-o até 1963, ano em que morreu.