PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. Cultural, quero crer. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura, no teatro. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Mas não só. Ideias soltas, reflexões comuns, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera das nossas prioridades. PLAY.
SOUNDCHECK:
«FOOTBALL» - Iggy Pop. Estamos em 2001. As pulsões esquizofrénicas de Iggy Pop sossegam durante 3m52s. A face encovada sussurra ao microfone, canta a vida de dor, os pontapés da vida inclemente. A metáfora humaniza este rebelde de poucas causas.
« I'm a football baby,
Rollin' round the field.
I've been passed and fumbled,
Till I don't know what I feel.
»
É uma melodia quase terna. Incomum na discografia deste veterano do Michigan, front man dos The Stooges entre 1968 e 1975. A iconografia é inconfundível: tronco nu, as veias a saltarem do corpo gasto e definido, a bola a rolar até ao pontapé fatal: run-kick-hit-goal, canta Iggy Pop .

PS: «BABEL» - Mumford & Sons. Ao segundo álbum, o triunfo. O ritmo folk balança as guitarras, a voz country grita a desesperança, os refrões entram e já não saem. Duas mãos cheias de potenciais singles, melodias fáceis, easy listening. Condenado a ser um sucesso dos grandes. Well done, lads!
SLOW MOTION:
«FIMPEN» - Bo Widerberg. O filme é de 1973. Sueco. Reparei nele há um par de semanas, após ter sido eleito o melhor filme ficcional sobre futebol, no X Festival Internacional de Cinema sobre o desporto-rei.
A história é deliciosa. Johan, um menino de seis anos, revela-se um prodígio no Hammarby. É chamado à seleção da Suécia e convocado para o Mundial de 1974. O pior é a escola. As notas começam a baixar. E agora?
O filme conta com a aparição das maiores estrelas suecas da época e coloca Johan nos relvados a fintar como gente grande. Já agora, no mesmo festival, o documentário Maradona, realizado por Emir Kusturica, também foi premiado.

PS: «FERRUGEM E OSSO» - Jacques Audiard. Marillon Cotillard. Qualquer filme parece melhor com esta atriz francesa. Aqui interpreta uma domadora de orcas e apaixona-se por um brutamontes descompensado. Já depois de perder as pernas num acidente. É um filme sobre segundas oportunidades. Interessante, mas sem a densidade emocional do «Um Profeta», o anterior de Audiard.
VIRAR A PÁGINA:
«FAMILY: LIFE, DEATH AND FOOTBALL» - Michael Calvin. O autor afronta a convenção generalizada. Sim, é possível e permitido mudar de clube, como é de trocar de mulher, nacionalidade, religião e trabalho. Michael Calvin começa a escrever na condição de adepto do Watford e acaba rendido ao Millwall.
Durante uma época inteira, o jornalista acompanha o clube de Londres para todo o lado. No empate em Colchester, 1-1, decide entregar o coração aos The Lions.
«Meteram a nossa equipa num balneário pintado de preto e sem tomadas elétricas (...). No golo deles, o nosso capitão ficou à nossa frente, dentro da baliza. Um colega meu avançou e atirou-lhe um cachorro inteiro à cara: ketchup, cebolas e molho na cara do rapaz. Eles perceberam que não podiam perder». Indeed, indeed.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.