PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. Cultural, quero crer. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura, no teatro. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Mas não só. Ideias soltas, reflexões comuns, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera das nossas prioridades. PLAY.
SLOW MOTION:
«LIECHTENSTEIN: The Mouse That Scored». Fase de qualificação para o Euro2008. Um golo de Mario Frick, dois de Thomas Beck, Peter Jehle defende tudo. 3-0 na fortaleza de Vaduz. A Islândia é aniquilada pelo melhor Liechtenstein de sempre.
O jogo, histórico, é o eclodir do êxtase no documentário filmado por Sebastian Frommelt e Sigvard Wohlwend. A dupla acompanha toda a campanha da seleção do pequeno principado, encravado entre a Suíça, a Áustria e os Alpes.
30 mil habitantes, 22 kms de norte a sul, 12 de este a oeste. Tive o privilégio de visitar este território de idílio natural e conhecer alguns dos protagonistas deste filme maravilhoso. Pessoas orgulhosas da coroa transportada ao peito e apaixonadas por futebol. Mesmo na hora da derrota.
A poderosíssima Espanha, em vésperas de ser campeã da Europa, é um dos primeiros adversários. «Eles têm 40 milhões de habitantes? Têm. Mas em campo são tantos como nós». A frase preenche a palestra do selecionador do Liechtenstein. Os jogadores olham, entre a surpresa e o desejo.
As filmagens vão do Rheinpark Stadion - três relvados naturais e um sintético, rodeados por montanhas cobertas de neve e animais de pasto em liberdade ¿ à Islândia, passam pela Lituânia e Badajoz. Atrás da seleção, sempre dois adeptos: um jornalista e um desempregado sem namorada.
O final é comovente. O Liechtenstein vence, a euforia invade os restaurantes e pubs de Vaduz. O desempregado, fiel apoiante, surge de mão dada com a nova namorada. «Agora já não vou poder ir a todos os jogos. Não sei o que será da equipa sem mim».
Liechtenstein, a melhor seleção do mundo.

PS: «O IMPOSSÍVEL», de Juan A. Bayona. O horror do tsunami no sudeste asiático. A história real de uma família. Do Ewan McGregor soberbo em Trainspotting já pouco resta. Da musa Naomi Watts sobra beleza e provocação. Mesmo submersa pelas correntes empestadas de morte e medo. Uma vitória Impossível.
SOUNDCHECK:
«FEARLESS», dos Pink Floyd. Há várias interpretações sobre a presença do Liverpool FC nesta música. E quase nenhuma é coincidente. Vamos aos factos: na primeira gravação conhecida de Fearless, os 30 segundos iniciais e os 30 segundos finais são preenchidos por um coro de vozes desconhecidas a entoar o eterno You'll Never Walk Alone.
O problema é que Roger Waters, elemento primordial nos Pink Floyd, era um assumido adepto do Arsenal. Fica a dúvida, portanto. Quem terá sugerido a presença do Liverpool numa música destes génios?

PS: «CONFESS», de Twin Shadow. Elegante, charmoso, hipnotizante. When the Movie's Over é o meu novo vício.
VIRAR A PÁGINA:
«THE GLORY GAME - Hunter Davies». Escrito em 1972. O jornalista acede ao balneário do Tottenham e descreve pormenores deliciosos. As opções políticas de alguns futebolistas (não, não é engano), os jornais que gostam de ler, os filmes favoritos de cada um. Provavelmente impossível de ser repetido nos dias de hoje. Certo, André Villas-Boas?
«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.