* Com Nuno Travassos

Havia o saldo histórico negativo de apenas duas vitórias dos sub-21 portugueses em dez jogos com a Jong Orange. Havia também a desvantagem de jogar fora de casa, e as cinco baixas por lesão, que se juntavam às três promoções à seleção principal, de William, João Mário e André Gomes. Havia, por fim, a enorme diferença de rodagem competitiva, fruto de formas diferentes de olhar para a formação: enquanto os convocados da Holanda somavam, em média, 32 jogos no escalão principal do seu país, os de Portugal ficavam-se pelos 18.

Mas nem esses fatores, nem uma gritante falha defensiva nos minutos iniciais, que deu à Holanda a sua única clara oportunidade de golo, conseguiram disfarçar uma dupla evidência: uma, a de que a atual seleção portuguesa de sub-21 é claramente melhor do que a holandesa, coletiva e individualmente; outra, a de que o grupo às ordens de Rui Jorge tem quantidade e qualidade de soluções como talvez não se visse neste escalão desde meados dos anos 90.

A sequência de nove vitórias consecutivas em jogos oficiais - 13, se incluirmos os particulares desde a derrota com a Suécia, em março de 2013 – é a melhor de sempre para uma seleção portuguesa de sub-21, elevando o rendimento desta equipa para patamares que só a chamada geração de ouro (Rui Costa, Figo e João Pinto) atingiu entre 1991 e 1994, quando permaneceu invicta durante 21 jogos.

Sobre o jogo de Alkmaar, onde Rui Jorge voltou a ser feliz, nove anos e meio depois de uma célebre meia-final europeia, os números não deixam margem para dúvidas: Portugal dominou nos remates (22-6), nos remates dirigidos à baliza (14-4), nos ataques (52-27), nos cantos (8-3) e nos foras-de-jogo (9-2). Uma supremacia tão extrema que deixa no ar um ligeiro amargo de boca, de não ver a eliminatória sentenciada com um terceiro ou quarto golo, que transformaria o jogo da segunda mão, em Paços de Ferreira (terça-feira, às 17 horas), numa simples formalidade.

A capacidade de pressão em zonas adiantadas do terreno foi o principal argumento de uma equipa cuja mobilidade ofensiva (Ricardo Pereira e Ivan Cavaleiro, apoiados por Bernardo Silva como vértice adiantado de um losango) desorientou as marcações da jovem seleção laranja, que teve no guarda-redes Hahn (12 defesas!) a maior figura. 

Com historial positivo neste tipo de confrontos – Polónia e Rússia ficaram pelo caminho, no acesso às fases finais de 1994 e 2007, respetivamente – Portugal não se limitou a dar, como referiu Rui Jorge no final «um passo importante» rumo ao Europeu de junho, na República Checa: confirmou que vale a pena ter boas expetativas sobre o que esta geração pode vir a dar à seleção principal nos anos mais próximos. Tanto em relação ao jogo de terça-feira como ao futuro competitivo de Bernardo Silva, Vezo, Mané, Sérgio Oliveira, Raphäel Guerreiro e companhia, apetece dizer a mesma frase: de agora em diante, é só não estragar.