PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. Cultural, quero crer. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura, no teatro. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Mas não só. Ideias soltas, reflexões comuns, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera das nossas prioridades. PLAY.

SLOW MOTION:

SENNA: Grande Prémio do Mónaco, 3 de junho de 1984. Chove copiosamente. Bólides patinam, travões desafinam, pneus afogam-se na bátega que assola o Principado. Uma corrida destinada a revelar um predestinado, um brasileiro kamikaze, génio e louco.

O estreante Ayrton Senna da Silva, ao volante de um modesto Toleman, arranca a meio do pelotão. Faz ultrapassagens impossíveis, baila entre os pingos de chuva, até afrontar a traseira do Mclaren conduzido pela sua némesis, o professor Prost.

Perante a vertigem do medo e a ameaça do atrevido Senna, Prost pede o cancelamento da corrida. A direção atende-lhe a exigência. Bandeiras vermelhas, Senna ultrapassa-o mas já fora do tempo. Nasce uma rivalidade perigosa, de excessos e perfídias.

Na semana em que se decide o título de F1, recupero este documentário soberbo de 2010 (assinado por Asif Kapadia) e as memórias das zaragatas de domingo ao almoço, à mesa de família. Eu a sofrer por Senna, os meus tios a vibrar com Prost.

Vi a morte e o funeral de Ayrton em direto. Vi Prost carregar em lágrimas o caixão do arqui-rival. «O Senna não se satisfaz com a vitória. Ele só sossega quando me humilha», desabafa o francês a meio do filme. Intenso, obrigatório.



SOUNDCHECK:

«VINDALOO», Mundial-98. A autobiografia de Alex James, o mais cool dos baixistas, é uma caixa de Pandora. Revelações chocantes, comportamentos desviantes, a ignomínia a rodear uma desmesurada rock star. Tudo antes da redenção serena.

James, membro fundador dos Blur, é o autor desta música, caixa de som da seleção de Inglaterra no Mundial-98. Eu prefiro o vídeo à melodia, mas melhor mesmo é a história de vida do homem.



VIRAR A PÁGINA:

ESTRELA SOLITÁRIA, a biografia de Mané Garrincha. Retrato impressionante do inigualável «anjo das pernas tortas», «louco por cachaça e por tudo o que ardesse». Ruy Castro, o autor, conduz-nos com mestria por uma série de becos sem saída: o talento desperdiçado «nos subúrbios do relvado», a relação obsessiva com Elza Soares, o alcoolismo que o haveria de matar.

Os dias anteriores à morte de Mané são um violento soco no estômago. Doente, pobre, desesperado pelo delirium tremens, Garrincha bebeu bagaço, em jejum, até ao fim. Até ser colhido «por um edema pulmonar a meio de uma longa madrugada».

Um livro extraordinário.

PALCO:

O BURRO E O LOBO: baseado no livro «O Burro Eleutério e o Lobo Selvagem», do jornalista Pedro Bessa, está em exibição no Círculo Experimental de Teatro de Aveiro até 16 de dezembro. Sábados e domingos, 16 horas. Uma peça enternecedora, encenada por Victor Valente.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.