PLAY nasce hoje. É um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. Cultural, quero crer. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura, no teatro. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Mas não só. Ideias soltas, reflexões comuns, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera das nossas prioridades. PLAY.

SOUNDCHECK:

Verão de 96, Portugal de regresso a uma grande competição de seleções. Rui Costa, Luís Figo, Vítor Baía, João Vieira Pinto, nada podia falhar. Geração de ouro, futebol do mais requintado quilate, estádios a abarrotar em Terras de Sua Majestade. E a música, aquela música.

Quando me dizem que não há boas composições musicais sobre futebol, rebato sempre com este tesouro dos Lightning Seeds. Para mim, a mais feliz união entre uma banda e o mundo da bola. «Football is coming home», a apologia meteórica aos Three Lions, andou comigo durante todo o mês do Euro-96. Inseparáveis.

A Britpop resistia fulgurante. Dos Pulp aos Blur, dos Oasis aos Lightning Seeds. O máximo esplendor da Cool Britannia derramado sobre um torneio de futebol. Gazza bebia como sempre e jogava como nunca, a Inglaterra jurava ser desta, mas a razão estava com Gary Lineker. O sensato Lineker.

No final, « as always», ganhou a Alemanha. E até eles entoaram «Football is coming home» na aclamação pública em Berlim. O futebol nunca foi tão bem cantado.



PS: O álbum Lonerism, dos australianos Tame Impala, é o meu candidato a disco do ano. E resume-se assim: «Esquisóides, marginais, solitários, ninjas, heróis de shaolin e geeks», tudo em 14 faixas viciantes, a remeter para o rock dos 70's, apesar de uma frescura louvável. Prometedor, não?

VIRAR A PÁGINA:

José Antonio Camacho, Fútbol indómito. Biografia do ex-treinador do Benfica, assinada pelo jornalista Jesús Gallego.

Personalidade explosiva, impulsiva, muitas vezes impensada. Génese de histórias várias, invariavelmente excessivas: pungentes ou cómicas, gargalhadas ou lágrimas.

Aqui vai uma. Ronaldo «Fenómeno» andava lesionado. Compromissos publicitários obrigavam-no a ir a Munique. Camacho, técnico do Real na altura, opôs-se firmemente. «Não vai nada a Munique, nem que eu me ponha à frente do avião!» Ronaldo não foi. Assim é Camacho.

SLOW MOTION:

Zidane, Um retrato do século XXI (2006). Acredito que a película tenha passado despercebida a muitos. É uma pena. Várias câmaras acompanham Zizou ao longo de um Real Madrid-Villareal.

Mistura de documentário e arte conceptual, a sugestão de uma memória fragmentada e frágil, perante citações do próprio jogador. Obrigatória para os adoradores do charme de Zidane, aconselhável a quem olha para o futebol para lá da perspetiva clubística/irracional.

Uma peça de bailado filmada em alta resolução.



PS: por falar em documentário, está nas salas de cinema Shut Up and Play, o fio condutor do final anunciado dos LCD Soundsystem. Bastidores, palco, o balançar entre a integridade musical e os interesses privados de um músico tão brilhante quanto complexo: James Murphy.

PALCO:

História de um segredo. A eficaz Companhia Pé de Vento encena um texto do escritor Álvaro Magalhães no Teatro da Vilarinha (Porto). Um rei poderoso, incapaz de suportar o segredo que guarda desde pequeno, conta-o a um seu criado. Até ao dia 18 de novembro.

«Play» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.