O secretário-geral do PS defendeu, nesta quinta-feira, que o memorando assinado por Portugal tem de ser adaptado à realidade e que tem de haver uma mudança na forma de governar e de fazer política.

As posições de António José Seguro foram transmitidas em entrevista à rádio espanhola Cadena SER, em que também lamentou que alguns líderes europeus de centro-esquerda se encontrem mais próximos do pensamento da chanceler germânica, Angela Merkel, do que do presidente francês, François Hollande.

Interrogado sobre a dimensão das recentes manifestações em Portugal, o líder socialista disse não ter ficado surpreendido com a sua dimensão e considerou que as pessoas exigiram acima de tudo «mudança».

«O PS, como partido de Governo, escuta as pessoas. Temos de mudar a forma de fazer política, a forma de governar e temos de estar mais próximos das pessoas», disse.

Na entrevista, António José Seguro apresentou as razões que levam o PS a votar contra a futura proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2013, alegando que o executivo PSD/CDS «persiste numa receita errada», que tem aumentado o desemprego, enfraquecido a economia e subido a dívida pública.

Segundo o líder dos socialistas, «a saída para a crise tem de ser encontrada com rigor orçamental, mas dando prioridade ao crescimento económico e ao emprego», e defendeu que o Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal tem ser adaptado à atual conjuntura.

«O memorando de Portugal foi negociado há um ano e meio, mas a realidade mudou. Há um ano e meio as previsões de crescimento para a zona euro eram de dois por cento e neste momento a economia está estagnada. Temos de ser inteligentes. É preciso adaptar o memorando à realidade e não adaptar a realidade ao memorando», sustentou.

Questionado sobre qual é o limite para a aplicação da austeridade em Portugal, António José Seguro respondeu que o limite «está na dignidade das pessoas».

«É impossível atingir níveis de austeridade elevados caso não se tomem em conta as consequências sociais. O que ocorre no meu país, como penso que também em Espanha, é que há gente que não suporta mais austeridade, que chegou a um limite», afirmou.

O secretário-geral do PS referiu-se depois à atual situação da União Europeia, argumentando que, se há união económica e monetária, «a saída tem de ser coerente entre o que se faz no plano nacional e o que deve ser a Europa».

«É incompreensível que a união monetária e económica não tenha uma política económica forte, como acontece ao nível das políticas cambiais e monetárias. É inacreditável que o Banco Central Europeu possa emprestar dinheiro aos bancos comerciais a uma taxa de interesse inferior, sendo depois esse dinheiro entregue aos Estados a uma taxa superior», apontou, antes de defender a aplicação de uma taxa sobre as transações financeiras ao nível europeu, por forma a gerar recursos para investimento.

António José Seguro criticou igualmente a existência de uma desigualdade entre os Estados-membros da União Europeia.

«Na Europa há países que vivem bem, como é o caso da Alemanha, que se financia nos mercados a taxas de interesse negativas. Mas países como Espanha ou Portugal têm de pagar muitíssimo para se financiar. Esta situação não tem nada a ver com o ideal europeu», declarou o secretário-geral do PS.