Pedro Passos Coelho negou esta segunda-feira qualquer favorecimento a uma empresa onde trabalhou quando Miguel Relvas era secretário de Estado da Administração Local e geria o programa Floral, que financiou a Tecnoforma.

«Não existe na minha vida como gestor de empresas nada que seja objeto de censura ou que tenha envolvido, do ponto de vista ético, qualquer favorecimento para as empresas por onde passei. Isso, evidentemente, é verificável com muita facilidade», começou por explicar aos jornalistas no Porto.

«A empresa em causa foi uma empresa onde trabalhei vários anos e nunca beneficiou de qualquer favor, muito menos que tivesse sido solicitado por mim. Portanto, não, nunca pedi favores na minha vida a ninguém, nem de ordem política nem de ordem profissional. Nunca tive empresas de que fosse proprietário», disse Passos Coelho, que foi consultor da Tecnoforma entre 2000 e 2004, o período de maior sucesso da empresa de formação.

O primeiro-ministro já tinha explicado no seu livro «Mudar» o papel que desempenhou naquele local: «Optei por fazer o curso de economia enquanto trabalhava na Tecnoforma, uma empresa de recursos humanos que operava sobretudo no mercado da formação na área dos petróleos em Angola. Iniciei com a equipa de Lisboa a abordagem ao mercado nacional, num projeto bastante bem-sucedido que acabou por evoluir também para a área da consultoria».

Segundo o jornal «Público», a empresa arrecadou mais de um quarto dos contratos celebrados com privados no quadro do programa Floral entre 2002 e 2004, período em que Relvas foi o responsável pelo fundo. O Foral, financiado pelo Fundo Social Europeu e pelo Estado, foi lançado por António Guterres em 2001 e dependia diretamente do então secretário de Estado do Governo de Durão Barroso.

Passos Coelho nada tem a temer: «Fui gestor de várias empresas. E nelas quer do ponto de vista da ética profissional, quer do ponto de vista da gestão realizada é conhecida e pública, pelo que não tenho qualquer problema em responder por ela».

«Comecei a trabalhar nessa empresa durante o consolado do Eng. [António] Guterres em Portugal e acabei trabalhando nessa empresa como gestor no consulado do Eng. [José] Sócrates à frente do Governo. A relação política entre a evolução dos governos em Portugal e o meu trabalho como gestor não tem qualquer causa e efeito entre ambas», concluiu.

António Silva, ex-diretor comercial da Tecnoforma, garantiu, entretanto, à agência Lusa que «nunca» teve conhecimento de «qualquer influência política» de Pedro Passos Coelho nos negócios da empresa quando este era administrador e Miguel Relvas tutelava a formação nas autarquias.

«Marquei entrevistas com autarquias de Bragança a Vila real de Santo António, de todas as cores políticas, sempre por minha iniciativa, realizei contratos com câmaras do PCP ao PSD, mas nunca dei conta de que existisse qualquer interferência do então administrador junto do governante que tinha a tutela da área», afirmou.

O Público demonstra as ligações entre o Foral, a Tecnoforma e a JSD:

- Passos Coelho, ex-presidente da JSD e consultor da Tecnoforma para o programa Foral;

- Miguel Relvas, ex- secretário-geral da JSD e tinha tutela política do Foral;

- Paulo Pereira Coelho, gestor do Foral na zona Centro e ex-elemento da comissão política da JSD;

- Armando Vieira, ex-deputado do PSD, celebrou contrato com a Tecnoforma para formação profissional em 2005;

- Francisco Nogueira Leite, ex-presidente do Conselho de Jurisdição nacional da JSD, administrado da Tecnoforma;

- Luís David Nobre, ex-vice-presidente da JSD, subcontratado pela Tecnoforma;

- António Silva, ex-membro da comissão política nacional da JSD, diretor-comercial da Tecnoforma;

- Aníbal Maltez, ex-presidente da JSD de Mangualde, vendedor da Tecnoforma na região Centro;

- João Luís Gonçalves, ex-secretário-geral da JSD, acionista e administrador da Tecnoforma.