A caderneta de cromos ganhou vida. Na página um, Vítor Baía voa para a direita e agarra com as duas mãos um pontapé violento de Pablo Alfaro. É só avançar umas folhas e chegar ao desvio de Rui Barros para golo. Com a cabeça, no alto do seu 1,58 metros! E se saltarmos diretamente para o fim, sabemos que nesta viagem do tempo, ao coração dos 80s e 90s, o F.C. Porto derrotou o Sevilha por 8-6.

Se é de energia, caráter e amor pela causa que o F.C. Porto de Vítor Pereira precisa, então o plantel devia programar rapidamente uma visita de estudo a esta Liga Fertiberia. Um campeonato de tons vintage, assumidamente nostálgico, apaixonante, capaz de atirar com o passado para a frente dos nossos olhos. Uma espécie de museu vivo.

Horas antes dos dragões do presente jogarem na Choupana, estes monstros sagrados deram uma lição de crença e ardor. Ah, e qualificou-se em grande estilo para a próxima fase. Rugas, cabelos brancos, barriguinhas protuberantes? Nos cromos desta caderneta não há quem se lembre disso.



De Rui Barros a Couto, há coisas que nunca mudam

Há coisas que nunca mudam. As pilhas eternas de Rui Barros, por exemplo. Aos 46 anos corre, motiva, grita, pede a bola e decide jogos. Um craque, ainda e sempre. O feitio tão especial de Fernando Couto é uma marca indelével também. Andou pegado com Capi, outro histórico, recebeu um empurrão andaluz e respondeu mal. O adversário saiu a sangrar para o balneário.

E o que dizer da paixão que Fernando Gomes e João Pinto ainda despertam nas bancadas? Os dois antigos capitães são animais de competição, vão até ao último fulgor, mesmo ¿numa condição física longe do ideal. O bi-bota chegou a abrir o sobrolho, numa disputa nas alturas. O «cabecinha de ouro» continua letal na área contrária.

Mais jovem e fresco está Capucho. Naquele jeito de quem vai só se tiver de ir, o antigo extremo é capaz de lances geniais. Protege a bola como sempre, ganha espaço e faz golos. É um plantel de luxo este ao serviço do treinador Luís Castro, com outras figuras emblemáticas do clube.

Fernando Bandeirinha, Bino e... Russel Latapy. O médio de Trinidad e Tobago está radicado em Leça da Palmeira e fez as delícias da plateia. A bola é uma confidente antiga.

Matar saudades da melhor maneira

Equilibrado a princípio, sempre com alternância no marcador, e dominado pelo F.C. Porto na segunda parte. Bela vitória dos dragões, guindados pela tal capacidade de desequilibrar do baixinho Rui Barros e pela concentração perfeita a defender. Na etapa complementar, e em 30 minutos, o F.C. Porto sofreu somente um golo.

Momentos mais altos do jogo? Provavelmente um forte pontapé de Fernando Couto, atrás da linha do meio-campo, a devassar por completo o guarda-redes espanhol. Valeu a pena matar saudades.

Vintage: Rui Barros, Bessa e «o bichinho da bola»

Vintage: Fernando Couto fala do «orgulho no regresso a casa»

FICHA DE JOGO

Pavilhão Dragão Caixa, no Porto, 1408 espetadores

F.C. PORTO: Vítor Baía; João Pinto, Fernando Couto, Rui Barros e Capucho.

Jogaram ainda: Bandeirinha, Fernando Gomes, Bessa, Bino, Latapy

Não jogaram: Daniel Correia e Zé Carlos (ambos guarda-redes)

Treinador: Luís Castro

SEVILHA: Fernandéz; Pablo Alfaro, David de Dios, Juanito e Cordón.

Jogaram ainda: Cantos, Yiyi e Capi

Treinador: Rafita

Ao intervalo: 5-5

Cartões amarelos: Alfaro, João Pinto e Cantos

Cartão vermelho: Cantos

Golos: Bessa (3), Rui Barros (2), Fernando Couto, Bino e Capucho; Cordón (3), De Dios (2) e Juanito