A Selecção Nacional somou o segundo jogo sem ganhar na era-Paulo Bento, o segundo jogo consecutivo sem ganhar, aliás, num encontro em que se deixou abraçar pela noite: fria, cinzenta e sem graça. O que sobrou de bom no empate com o Chile, portanto, explica-se em quatro letras, Nani.

Na ausência de Ronaldo, valeram as arrancadas, fintas curtas e esticões do extremo. Cada vez mais é uma delícia vê-lo jogar. A bola chega-lhe aos pés e sente-se que pode sair dali alguma coisa de especial, Nani parte para cima do adversário, faz uma finta e outra, obriga-nos a suster a respiração.

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Esta avaliação é curiosa sobretudo porque surge um dia depois do extremo reconhecer que pode estar entre os melhores do mundo na próxima eleição. Pode, de facto. Tem potencial. Falta-lhe apenas definir melhor a conclusão das jogadas: no momento do passe ou na intensidade do remate.

Entrou no jogo a fintar dois adversários para servir o remate de Carlos Martins, bateu o canto do golo de Varela, voltou a servir Carlos Martins para outro remate, atirou ele próprio pouco ao lado e centrou para um cabeceamento de Hugo Almeida ao lado. No meio disto tudo, o público animou.

Os 10 694 espectadores, que à excepção disto só viram Portugal nas bolas paradas (no tal golo de Varela e num cabeceamento de Rolando), encorajaram-se e empurraram a Selecção para a frente. Não chegou para a vitória, e Portugal continua sem ganhar em 2011, mas deu para entusiasmar.

Destaques: Varela e Nani contra a letargia

Deu sobretudo para manter o ânimo em torno da equipa nacional em níveis agradáveis. Até porque pelo meio Portugal teve algumas jogadas de belo recorte técnico: houve toques de primeira, jogadas de entendimento e velocidade na saída para o ataque. Sobretudo, lá está, com Nani.

Esta é, de resto, uma formação aproximada da Selecção Nacional mais forte. Não tem Ronaldo, o que diz quase tudo, mas esta noite também não teve a habitual dupla de centrais (jogou Rolando) e perdeu muito cedo João Pereira, por lesão, ele que acabou por ser o mais azarado da noite.

Paulo Bento: «Estamos no bom caminho»

Do outro lado, é bom lembrá-lo, esteve uma das melhores selecções da actualidade. Das melhores dezasseis pelo menos, olhando para o último Mundial. Uma selecção com um trajecto de anos, com um futebol intenso, físico, que com menos um jogador encostou a Espanha às cordas na África do Sul.

Entretanto mudou de seleccionador, Marcelo Bielsa deu lugar ao compatriota Cláudio Borghi, mas mantém os mesmos princípios, as mesmas caras e a mesma identidade: três defesas, laterais muito ofensivos, um meio-campo batalhador e dois homens na frente. Por aí dividiu o jogo e ameaçou.

«Rui Patrício? Na terça, joga o Eduardo...»

Chegou ao golo num remate de Matias Fernández do meio da rua, no qual Rui Patrício não foi feliz: atirou-se tarde à bola. O guarda-redes que foi titular na cidade que o viu nascer corrigiu mais tarde o erro, ao defender um remate do isolado Gonzalo Jara, mas não limpou totalmente a face.

Portugal acabou por somar o resultado que lhe faltava nos três amigáveis (venceu a Espanha e perdeu com a Argentina), mas mantém o alento. Terça-feira há mais e, aí sim, ficava bem ganhar: ganhar moral para a altura decisiva da fase de qualificação. Agora que só dependemos de nós.