Ricardo Ferreira VIVIA com essa suspensão desde o final da última época. Por estes últimos dias deu uma entrevista em que pretendia dar explicações em público, sobretudo aos responsáveis do futebol suíço.
Para o defesa de 28 anos as coisas não correram como pretendia A notícia da suspensão correu mundo e não como ele a contou. Essa garantia é-nos dada por Manuel Pinto, colega de equipa no Futebol Clube; ele que foi testemunha de tudo; ele que nos serve de interlocutor, pois, como conta, Ricardo Ferreira decidiu remeter-se ao silêncio pela desilusão com a forma que o caso tomou.
No relato do geral que foi contado e reproduzido desde a internet à imprensa, Ricardo Ferreira contesta que tenha atirado a bola à cara do árbitro e que tenha despejado uma garrafa de água pela cabeça do juiz do jogo. A negação é feita pela interposta pessoa de Manuel Pinto. «Perdemos 1-0 num jogo em que o melhor jogador deles foi o guarda-redes. Quando o árbitro apitou para o fim, o Ricardo deu um pontapé na bola que acertou nas costas do árbitro», conta ao Maisfutebol.
O então jogador e treinador do Futebol Clube explica que o incidente aconteceu de forma fortuita, como quem chuta a bola irritado para a bancada. Acertou no árbitro. Manuel Pinto frisa que «se [o Ricardo Ferreira] não põe as mãos na cabeça a pedir desculpa, o árbitro não sabia que tinha sido ele».
Ricardo Ferreira viu o cartão vermelho direto – quando já tinha visto um cartão amarelo durante o jogo; com as palavras de Manuel Pinto a desmentirem também os relatos que deram conta de que o protagonista do incidente o tinha feito a partir do banco como suplente não utilizado.
Castigado em julho
Manuel Pinto confirma que o seu colega de equipa «depois insultou o árbitro» e que «chamou-lhe tudo», assim como confirma que houve água no incidente. Mas numa versão diferente do despejar: «Isso não é verdade. Não lhe deitou água por cima. Tentou falar com o árbitro a caminho dos balneários e como o árbitro não lhe ligou mandou-lhe uns esguichos com uma garrafa de água para que ele se voltasse.»
O árbitro fez segundo Manuel Pinto um gesto como quem diz «Estás feito». Ricardo Ferreira chegou também ao balneário a dizer ao irmão «Já vou ser suspenso mais dois ou três anos». Com um cartão vermelho direto ficou imediatamente suspenso a partir de 25 de maio – data desse derrota com o Worb. O que nem ele nem alguém esperava é que fosse suspenso por 50 anos. O castigo foi oficializado no site da federação suíça à data de 18 de julho.
Manuel Pinto reconhece, inclusive, que Ricardo Ferreira até chegou a esperar uma suspensão de cinco anos, pois o jogador de 28 anos reincidia em casos de disciplina. Em 2009, quando jogava pela equipa espanhola do Galícia, Ricardo Ferreira foi suspenso por um ano na sequência de ter tirado o apito da boca de um árbitro. E Manuel Pinto confirma que «tirou mesmo» depois de ter visto um cartão amarelo.
«Ele levou duas cacetadas fortes e o árbitro não fez nada e depois mostrou-lhe um amarelo quando ele fez uma falta», conta o agora treinador-adjunto e jogador do Futebol Clube explicando que, «esteja onde estiver, ele leva sempre pancada». «Não é nenhum santo, mas é um bom jogador que sofre muitas faltas», descreve para frisar que, «a partir daí, ele aprendeu, tornou-se mais calmo».
Recurso ficou por fazer
A suspensão em 2009 e o histórico de expulsões foram argumento para a federação suíça lhe impor um castigo que só o deixa voltar a entrar em jogos oficiais em 2064, quando tiver 78 anos (!). Manuel Pinto esclarece também que os 45 jogos suspenso que foram referidos nas notícias dizem respeito a toda a sua carreira desde os juniores e não a um período consecutivo.
«A federação quis irradiá-lo e justificou com o histórico da disciplina, pois não houve agressão ao árbitro», analisa Manuel Pinto sem contestar a versão que dá conta de que o número 50 surge do facto de o sistema informático da federação exigir um período em concreto para concretizar uma suspensão que fica no seu registo online de suspensões dos clubes... enquanto elas decorrem.
Após a oficialização da suspensão, a federação notificou o clube por carta dando-lhe uma semana para recorrer. O que não aconteceu. Manuel Pinto refere que o presidente do clube na altura (no presente já sucedido no cargo) arrumou a carta deixando passar o prazo do recurso. E que «só na preparação desta época» é que o ele e tesoureiro deram pela impossibilidade de recorrerem.
«Não informaram o rapaz. Tinha-se de pagar 500 francos suíços [cerca de 414 euros] e uma semana para recorrer. Nem sequer deu para falar com ele e ver se queria pagar...», revela Manuel Pinto reforçando que «se houvesse dinheiro para um advogado pedia-se o relatório do árbitro para ver o que ele descreveu».
Ricardo Ferreira «não quer agora falar porque foi uma chapada que recebeu ao dar a cara na esperança de que se dissesse a verdade» tentando que «a federação caísse na sua consciência». Depois da suspensão de 50 anos chegou-lhe a «tristeza por não ser verdade» o que agora foi noticiado. Manuel Pinto é dos que não contestam os castigos habituais, mas também não tem explicação para os 50 anos, se não a vontade da irradiação.
«Não somos inssuretos»
Ainda neste domingo, o Futebol Clube ganhou 5-1 ao segundo classificado do grupo 3 da 4ª divisão cantonal (regional) de Berna. Os adversários foram o Münchenbuchsee e Manuel Pinto diz a propósito: «Hoje, até nos cartões ganhámos: eles receberam três amarelos e nós apenas um.» «Não somos uma equipa de insurretos. Não temos uma ficha tão cheia como isso», disse o jogador-treinador-adjunto.
O exemplo do cadastro presente na federação suíça é dado com o facto de, nesta altura, o Portugal Futebol Clube ter apenas dois jogadores na lista de suspensões. Um deles foi castigado porque um adversário suíço chamou nomes à sua mãe. «Ele respondeu-lhe com uma cacetada. Cartão vermelho: apanhou quatro jogos. É justo!», assume Manuel Pinto frisando que «este é o único que está lá». Sem contar com Ricardo Ferreira, cuja data de saída do ficheiro está marcada para 2064. Os amadores do Portugal Futebol Clube de Berna dedicaram-lhe a vitória deste domingo.