Passear por ruas empedradas, abrigadas em edifícios de beleza medieval irresistível. Abrir a porta de um restaurante e ouvir cantar o fado. Entrar, apoiar os cotovelos a um balcão e saborear um pastel de nata, envolvido no aroma do canto lusitano fatalista.
Estamos em Poznan, Polónia, a 40 kms do centro de treinos da Seleção Nacional.
A busca de «novas oportunidades» trouxe dois portugueses empreendedores para estas paragens. João Chagas, 47 anos, partiu de Leiria há três anos. Experimentou outras perspetivas de negócio antes de abrir a empresa Bom Dia Polska, coração da comercialização do pastel de nata.
«Temos uma produção de 200 pastéis por dia. A aceitação dos polacos tem sido fantástica», afirma o empresário ao Maisfutebol, numa conversa no Stary Browar, uma antiga fábrica de cerveja transformada num centro comercial luxuoso.
O caso de João de Sousa é diferente. Dá aulas há sete anos numa escola linguística de Wroclaw, canta o fado para espantar fantasmas e alimentar a alma portuguesa.
«São as minhas raízes. Acho que é um momento importante para promover a cultura portuguesa», afirma o português que, na Polónia, faz-se acompanhar à guitarra e à viola por músicos locais.
«É uma espécie de fado polaco. Faz parte do meu destino polaco. É um fado tocado com polacos. O facto de eu tocar com polacos altera um bocado a música e dá-lhe uma visão diferente».
Pastel de nata congelado? Nem pensar»
Arriscar a entrada no mercado polaco com produtos portugueses não é simples. Existe uma «teia burocrática» a enredar-se sobre todos os projetos e, no caso dos pastéis de nata, uma delegação de saúde «extremamente exigente».
Vale a João Chagas a «perseverança» e a qualidade «indiscutível» do doce português. «O polaco não é burro e sabe comparar o pastel de nata congelado com este feito diariamente. A receita tem 700 anos».
O Europeu trouxe uma onda de turistas sem precedentes à região, mas o calor não é bom para o negócio. «Vende-se bem, tenho 38 estabelecimentos onde coloco os pastéis à venda, mas nesta altura os gelados e a cerveja são os alvos prediletos».
Para o fado também é um pouco assim. «Há meses melhores e meses piores. Não me posso queixar», diz o professor fadista, João de Sousa.
Pastéis de nata para a seleção «depois do Euro»
A reação do povo polaco ao espetáculo itinerante de João de Sousa e aos pastéis de João Chagas é curiosa.
«Acolhem muito bem a minha música, o fado. Apesar de não entenderem as letras e a poesia, entendem a mensagem emocional que se passa através desta música tão misteriosa e mágica», esclarece o primeiro.
«Os polacos têm doces muito bons, mas o pastel de nata veio para ficar. Tenho também salgados e vinhos, mas do que eles gostam mesmo é do pastelinho de nata».
E a seleção, ali mesmo ao lado? Já terá havido alguma encomenda especial nos últimos dias?
«Não (risos), creio que eles têm de regrar a alimentação. Só se for depois do Europeu».