por David Marques

Agostinho Oliveira fez parte do futebol de formação da Federação Portuguesa de Futebol durante a década mais profícua para o desporto rei em Portugal. Nos anos 90 contabilizaram-se quatro títulos europeus, um Mundial (de sub-90, em 1991) e inúmeros lugares no pódio em outras competições importantes.

Em 1994, os jogadores que levou ao Europeu de sub-18, disputado em Espanha, davam-lhe segurança. «Todo o trabalho que já tinha sido feito colocava-nos entre as seleções favoritas. E nós também acreditávamos que podíamos ser candidatos», conta Agostinho Oliveira, em conversa com
Maisfutebol.

O atual diretor técnico da formação do Sp. Braga recorda que a Seleção que chegou ao título europeu nesse ano tinha um leque de jogadores acima da média. Alguns, como Quim, Mário Silva, Beto, Dani e Nuno Gomes, chegaram a internacionais A.

Eram eles que deixavam Agostinho Oliveira descansado mesmo quando os jogos pareciam não estar a correr de feição, como aconteceu no encontro da final frente à Alemanha, no qual Portugal esteve a perder desde a meia hora de jogo. «Tínhamos uma série de rapazes com muito valor e alguns com uma qualidade extraordinária. Por isso, estávamos sempre à espera de um momento de inspiração desses jogadores. Quando estamos muito ao sabor da intervenção individual dos jogadores, ficamos relativamente descansados, porque a qualquer momento, mesmo que o jogo esteja tremido, eles podem desequilibrar», reconhece o ex-selecionador.

Foi o que terá acontecido quando, em 1995, Portugal chegou ao terceiro lugar no Mundial de sub-20, no Qatar, com a base do Europeu de 1994. A perder por 2-0 no jogo de atribuição do bronze, a Seleção Nacional foi capaz de dar a volta ao texto em apenas 15 minutos:



A seleção do fato-macaco

Cinco anos depois do título de 1994, Portugal chegava à fase final do Europeu do mesmo escalão. Mas, desta vez, a equipa das quinas não estava entre as favoritas. «Ninguém dava nada por nós, até porque dois anos antes tínhamos falhado o apuramento para o Europeu de sub-16, que a geração anterior tinha ganho», recordou Pepa há dias em conversa com o Maisfutebol.

Agostinho Oliveira concorda que havia grandes dúvidas em torno do grupo de 1999. «Falava-se muito que a qualidade da seleção era um grande problema. E a verdade é que os jogadores desse grupo não eram expoentes extraordinários.»

O ex-selecionador explica que a chave do sucesso passou por transformar a equipa num grupo de trabalho. «Eram jogadores muito trabalhadores, jovens de fato-macaco. Como não tínhamos cão, caçámos com gato», prossegue.

Agostinho Oliveira, que esteve ligado aos quadros da Federação entre 1990 e 2011, admite que o título de 1999 foi mais saboroso do que o de 1994. «Porquê? Devido à ausência de grandes individualidades, trabalhámos muito o equilíbrio defensivo, a solidez de marcação e as compensações. Estávamos muito dependentes daquilo que era a ausência do erro. Se cometêssemos muitos erros, tínhamos a consciência de que seria muito difícil dar a volta ao texto. Os títulos conseguidos nestas circustâncias fazem prevalecer muito mais o trabalho e o dedo do treinador. É por isso que também são mais saborosos», explica.

Na final, disputada a 26 de julho, Portugal bateu a Itália por 1-0, golo de João Paulo ainda na primeira parte. Aos 63 minutos, a equipa das quinas ficou reduzida dez unidades, por expulsão de Semedo, mas segurou a vantagem. «Isso provou que os jogadores interpretaram muito bem o nosso trabalho coletivo. Mesmo estando naquela situação, não deixaram de ser solidários. Essa era a mais-valia da seleção de 99.»

Os 18 de Hélio Sousa na Hungria

Apesar de estar afastado dos escalões de formação da FPF há vários anos, Agostinho Oliveira mantém-se a par das castas do futebol nacional. Como diretor técnico do futebol de formação do Sp.Braga, conhece o grupo que o selecionador Hélio Sousa levou para a Hungria.

«Identifico muita qualidade nestes jogadores. É das melhores seleções que temos. Acredito que é um grupo com muitas possibilidades de poder, ao fim de tantos anos, regressar a Portugal com um título. Os resultados que tem conseguido provam que é muito forte», diz, antes de revelar quais os pontos fortes do conjunto luso: «É muito forte no que diz respeito ao nível individual dos jogadores e tem dado também uma boa resposta em termos coletivos. Há desequilibradores e, ao mesmo tempo, gente com um nível de agressividade forte. E as equipas vencedoras têm de fazer essa mescla de interesses entre os tais jogadores que são os pensadores e os que vestem o fato-macaco.»

O Sp. Braga sagrou-se campeão de juniores na última temporada, mas só está representado por um jogador (Tiago Sá, guarda-redes). Será que Agostinho esperava ver mais jovens do clube nesta seleção? «De certo modo sim, mas com uma ressalva. Os jogadores mais aptos da nossa equipa eram juniores de primeiro ano. Para o escalão deles, são indiscutíveis, mas para a seleção mais acima podem estar ainda um bocado distantes.»

O Campeonato da Europa de sub-19 disputa-se na Hungria entre 19 e 31 de julho