Fortaleza cossaca, banhada pelas tenebrosas águas do Mar Negro. Terra de doutrina bolchevique no início do século XX, jugo de nazis na plenitude da II Grande Guerra. Palco da resistência soviética no holocausto e cenário de incontrolável aspereza bélica. Krasnodar arrasada, Krasnodar reerguida. E resplandecente.

Márcio Abreu e Rui Miguel numa cidade especial e de hábitos incomuns.

«A alimentação é o mais estranho. As pessoas não têm horários. Se for possível não almoçam e jantam às quatro da tarde. No clube é mais controlado. Temos o melhor centro de estágio da Rússia. O problema é mesmo o dia-a-dia», explica Rui Miguel ao Maisfutebol. Longe, bem longe da rudeza familiar do centro histórico de Guimarães.

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«Não lancham, não há o hábito do cafezinho e da torrada. Sinto falta disso. É extremamente difícil viver assim, longe da família. Estou aqui sozinho, mas foi a opção que tomei. Até me é difícil descrever a cidade. Antes de vir, tentei recolher opiniões e ninguém me conseguia diferenciar a cidade. Não é como Moscovo ou São Petersburgo, as cidades ricas da Rússia, mas não é má.»

Rui Miguel está há pouco mais de um mês em Krasnodar. Márcio Abreu chegou em Fevereiro. «Esqueçam a imagem da Rússia com neve e as pessoas viciadas em vodka. Nesta zona o clima é temperado e a temperatura chega aos 40 graus no Verão. Não precisamos de vodka para nada», diz, cheio de sorrisos, ao nosso jornal.

Bulgária: invasão a um café e a camisa para o polícia

Krasnodar pode não ser o paraíso. Márcio Abreu e Rui Miguel não o negam. Ainda assim, é a cidade «mais agradável» que já conheceram na vida de emigrante. Rui passou um ano em Lubin (Polónia). Márcio esteve quatro anos em Burgas (Bulgária) e tem muitas histórias para contar.

«É um país de contrastes tremendos. Certo dia estava num café com um amigo e vimos chegar dois carros pretos. Saíram lá de dentro sete homens de fato escuro e armados até aos dentes. Entraram no café e começaram a vasculhar aquilo», recorda Márcio Abreu.

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«Só tive tempo de pagar a conta e sair sem olhar. Fiquei mesmo assustado. Depois soube que eram seguranças de um indivíduo muito conhecido na cidade. Na Bulgária qualquer pessoa anda com armas», acrescenta, antes de narrar mais uma aventura.

«Uma vez ia de carro e calquei ligeiramente uma linha contínua. Fui parado pela polícia. Tentei comunicar em inglês, sem sucesso, mas vi logo o que eles queriam. Tive de lhes dar uma camisa de marca, caríssima, para me deixarem em paz. A Rússia é mais evoluída, estas coisas não se passam.»

Rui Miguel concorda. «Em Krasnodar vive-se melhor do que em Lubin, mas as saudades são as mesmas. Sinto falta do Vitória de Guimarães. Já estava habituado ao clube e à cidade.»

Um golo de Rui Miguel no Krasnodar (aos 3m14s):