Portugal vence na última jornada, segue para o play-off, Hélder Postiga marca o seu golito. Nada de novo aqui. Passamos 90 minutos a avaliar o ponta-de-lança da seleção nacional para constatar o óbvio: continua a ser um patinho feio, nem sempre joga (muito), anda por ali como se fosse regressar a casa sem nada para contar e depois aparece a festa. Mais um.

Postiga está como a seleção: agarrado à calculadora. A equipa de Paulo Bento tornou-se dependente da matemática e o seu avançado, não raras vezes contestado, apresenta números para embaraçar os seus detratores.

Este jogo frente ao Luxemburgo foi desconcertante. Em Coimbra, Hélder Postiga passou uns inamináveis 25 minutos sem tocar na bola (não o vimos a fazê-lo, só se aconteceu num instante de segundo), após boa entrada em campo. Já na reta final, com Hugo Almeida a falhar ao seu lado, marcou o 27º golo por Portugal.

Ficam então os números, um avançado a fazer contas de somar e médias de golos. 27 golos em 65 jogos fazem dele o sexto melhor marcador de sempre, fugindo a Rui Costa. Está a dois de Nuno Gomes, a cinco de Luis Figo, depois sobram Ronaldo, Eusébio e Pauleta.

Hélder Postiga apresenta uma média de 0,41 golos por jogo, ligeiramente superior ao registo de Cristiano Ronaldo na seleção (43 golos em 107 jogos por Portugal; média de 0,40). A qualificação para o Mundial de 2014 confirmou a tendência, com o avançado do Valência a terminar como o melhor marcador luso, 6 golos em 9 jogos.

O leitor, aquele que não gosta mesmo do avançado, dirá que os golos de Postiga não decidem. Pelo contrário. Quatro deles valeram pontos. Foram essenciais para as vitórias frente a Luxemburgo (1-2) e Rússia (1-0), bem como para os empates frente a Irlanda do Norte (1-1) e Israel (3-3).

A equipa esquece-se dele

Na visita à Irlanda do Norte, o avançado da seleção nacional foi expulso. Falhou o jogo com Israel, regressou para a redenção frente ao Luxemburgo e o Maisfutebol decidiu olhar para ele. No fundo, para saber o que rende em campo e como a equipa encara a presença do ponta-de-lança. Por vezes, esquece-se de Postiga.

Paulo Bento pedira uma entrada forte e o avançado, de volta ao onze, correspondeu. Ao primeiro minuto de jogo, tenta combinar na área com Josué, entra na área e cai, ficando a pedir penalty. Levanta-se, recua alguns metros, recebe a bola e arrisca um remate. Muito fraco, ao lado.

Hélder Postiga começa bem, ativo, agitador. Ao sétimo minuto, recebe de Varela, foge ao central mas vê o guarda-redes chegar primeiro. Segundos mais tarde, Nani remata, Joubert defende para a frente e aparece uma oportunidade de ouro. Com o pé esquerdo, em esforço, o avançado falha, atira para nova intervenção do guardião luxemburguês.

Estávamos no 8º minuto de jogo. Decore este número. Pouco depois, Postiga toca na bola mas está em posição irregular, não conta. Ainda marca, com o jogo parado.

25 minutos sem tocar na bola

O avançado volta a participar na ação coletiva ao 33º minuto. Sim, leu bem. Uma eternidade sem bola, quase desesperado, ficando na sua posição e falhando desvios, ora atrasado, ora adiantado, muitas vezes sem cruzamentos à medida.

Antes da meia-hora de jogo, o Luxemburgo ficou reduzido a dez elementos e Silvestre Varela inaugurou a contagem. Portugal a vencer, finalmente, mas Postiga queria mais. Queria a bola, por exemplo. Levantou os braços, pediu aos companheiros de equipa para subirem no terreno. Recebe finalmente um passe. Domina mal e perde a bola.

Hélder Postiga não faz movimentos de aproximação aos extremos e laterais (por opção ou indicação técnica). Se a bola vem pela direita, descai para o poste mais distante, arrastando a defesa. É um trabalho invisível, útil talvez, que tira o avançado das zonas de decisão. Sem assistências a condizer, perde-se.

Até final da primeira parte, o avançado regressa ao jogo e participa até no segundo golo. João Moutinho tabela com ele, depois com Nani, um toque brilhante de calcanhar e finalização vistosa. Questão resolvida.

Mais um para a estatística

O público puxa pela seleção, pede outro golo. Postiga regressa e tenta. Toca para Veloso, recebe de volta, fura entre dois mas o guarda-redes intromete-se. Recupera e serve Nani, que remata cruzado. A defesa do Luxemburgo resolve.

Paulo Bento decide aproveitar a ocasião para experimentar uma dupla de pontas-de-lança. Hugo Almeida entra ao minuto 58 e erra, uma e outra vez. Por outro lado, desvia a atenção dos visitantes.

Hélder Postiga agradece, finalmente. A um quarto-de-hora do final, Josué levanta, Moutinho desmarca até de cabeça, o avançado aparece. Isolado, domina com o pé esquerdo e finaliza com o direito. Está feita a sua noite. Voltaria a balançar as redes, desta vez sem contar, com o árbitro a assinalar uma falta anterior sobre João Moutinho.

Os números concluem a análise. O ponta-de-lança da seleção esteve em campo durante os noventa minutos mas não teve mais que 23 intervenções em jogo, entre passes, remates, perdas de bola, recuperações, faltas, foras-de-jogo. É um registo mediano. Mas uma das intervenções terminou em golo. Quando assim é, pega-se na calculadora, soma-se e divide-se: 27 golos em 65 jogos. 0,40 golos por jogo. Uma média superior a Cristiano Ronaldo na seleção. Tem de chegar.

Números de Postiga frente ao Luxemburgo

Passes certos: 11
Passes errados: 0
Perdas de bola: 3
Recuperações: 1
Remates: 3
Faltas cometidas: 1
Faltas sofridas: 2
Foras-de-jogo: 2