O que se pode aprender com o modelo inglês de arbitragem? A primeira aula ficou a cargo de Keith Hackett, director geral da Professional Game Match Officials Ltd, empresa gestora da arbitragem profissional da Premier League, naquele que foi um dos momentos mais interessantes do seminário «Profissionalismo na arbitragem: será possível?»
Chegado há seis anos ao principal campeonato de Inglaterra, o profissionalismo dos árbitros provocou compreensíveis rupturas com a mentalidade até então vigente. Desde então, com o aparecimento da empresa gerida por Keith Hackett cada árbitro passou a ter um contrato de dois anos para arbitrar na Premier League. Um contrato que poderá ser, ou não, renovado, tudo dependendo das avaliações feitas às suas actuações.
«Em vez de atirarem pedras uns aos outros, tentei que os árbitros falassem
tranquilamente entre eles. Eles são um alvo fácil e é importante mudar essa forma de ver as coisas», explicou Keith Hackett, que defendeu, no entanto, que os portugueses não devem adoptar o método que tão bons frutos dá em Inglaterra.
«Os portugueses não podem adoptar o sistema inglês. Têm que criar o seu próprio modelo, um que se adeque à sua realidade», explicou.
Árbitros têm contratos de dois anos e auferem 117 milhões de euros
Depois de uma introdução mais teórica, a passagem aos números e factos que vão fazendo da arbitragem inglesa um caso paradigmático de sucesso. Ainda que não imune aos erros, naturalmente.
«Temos 18 árbitros na nossa empresa e cerca de 8,25 milhões de euros em custos fixos anualmente. Nisto estão incluídas as viagens, estadias, treinos e equipamento de todos eles», adiantou. «Os contratos são de dois anos, com salários que atingem os 117 mil euros no total. Em cada jogo, pagamos ainda 409 euros, um dinheiro separado daquele que está previsto no contrato.»
Se nos lembrarmos que cada árbitro profissional faz em média 30/35 jogos por ano, está bom de ver que financeiramente é extremamente proveitoso ser árbitro em Inglaterra. Mas Keith Hackett é também um homem exigente, que pressiona positivamente o grupo de árbitros que lidera. «Se não estiverem bem no sábado, sabem que não arbitrarão no fim-de-semana seguinte. Eu digo-lhes isto e eles sabem que uma má exibição lhes custará dinheiro. Ainda no final da última temporada despedi dois árbitros. Não eram suficientemente bons, tão simples quanto isso.»
Na parte final da sua intervenção, Keith Hackett defendeu a introdução da «tecnologia sobre a linha de golo», «de forma a evitar lances como o golo que não foi do Pedro Mendes ao Manchester United», recordou que a média de amarelos desceu de 7,4 para 3,2 desde a implantação do profissionalismo e garantiu que «o tempo útil de jogo subiu bastante.»
Howard Webb, relatos de um árbitro na primeira pessoa
Keith Hackett trouxe consigo a Portugal o árbitro Howard Webb. Curiosamente, este juiz esteve presente no Europeu sub-21 recentemente realizado em Portugal e fez questão de elogiar as «extraordinárias infra-estruturas desportivas» que encontrou no nosso país. Webb é actualmente um dos árbitros mais requisitados em Inglaterra ¿ arbitrou 30 jogos da Premier League no último ano e 17 já esta temporada ¿ e fez questão de defender o profissionalismo.
«Melhores arbitragens significam melhores jogos de futebol. Não queremos cometer erros, queremos ser perfeitos e um dos benefícios de ser profissionais é que nos tornamos mais credíveis. Além disso, temos incomparavelmente mais tempo para nos dedicarmos a esta actividade.»