Um desfecho esperado, lógico e com pouco brilho. Podem parecer palavras estranhas na noite em que o PSG conquistou o quarto título de campeão e o primeiro bicampeonato da sua história. Mas a forma como a equipa pôde festejar a conquista do campeonato a duas jornadas do fim, mesmo perdendo perante os seus adeptos, ilustra bem uma superioridade incontestada dos homens de Laurent Blanc ao longo da temporada.

Ainda antes de o jogo com o Rennes começar, já a festa lhes tinha sido entregue numa bandeja, por força do empate cedido em casa pelo Mónaco, diante do aflito Guingamp (1-1). O tropeção do segundo classificado simbolizava bem o atual estado de coisas: nos últimos dois anos, não tem havido argumentos para travar o músculo financeiro da equipa da capital, desde que passou a ser propriedade do Qatar Investment Autorithy: nos últimos dois anos, foram investidos mais de 280 milhões de euros em jogadores, para pouco mais de 50 milhões em vendas.

A chegada ao Mónaco de dinheiro fresco, proveniente dos bolsos sem fundo do magnata russo Dmitry Rybolovlev, a injecção de capital e de reforços – Falcao, Moutinho, James, Ricardo Carvalho, Toulalan, num esforço avaliado em cerca de 160 milhões de euros – não chegou para fazer da equipa de Ranieri, que só este ano regressou à elite, um concorrente à altura do PSG. Desde que os parisienses se isolaram no comando, à 10ª jornada, o Mónaco nunca logrou reaproximar-se e pareceu sempre correr por outro objetivo, a entrada na Liga dos Campeões, garantida a três jornadas do fim.

Nesta quarta-feira, diante de um Rennes que voltou a contar com o português Nélson Oliveira a titular, a confirmação dos festejos coincidiu com o regresso aos relvados de Zlatan Ibrahimovic, ausente por lesão há mais de um mês. A ausência prolongada não impediu, contudo, que com os seus 25 golos, o sueco continue a ser o grande dominador da equipa e da Ligue 1: campeão pelo segundo ano consecutivo em França, Ibracadabra será o grande ausente do Mundial – embora continue a compensar a fragilidade da sua seleção com um dos palmarés mais recheados da história do futebol. Desde 2003/04 até à atualidade, só por uma vez, em 2011/12, a equipa de Ibrahimovic não acabou a época em primeiro lugar (embora os dois títulos pela Juventus, em 2005 e 2006 acabassem por ser retirados na secretaria).

A facilidade com que Ibrahimovic se impôs a companheiros e adversários acaba, assim, por ser mais um símbolo do que acontece atualmente ao PSG. Enquanto esperam para ver se o Mónaco reforça estatuto e se torna uma equipa capaz de discutir o título até ao fim (o nome de Leonardo Jardim tem sido apontado, em França e Itália, como possível sucessor de Ranieri) os parisienses precisam de lutar por objetivos maiores, com o reconhecimento internacional à cabeça.

Nestes dois anos, as eliminações tangenciais nos quartos de final da Champions, perante Barcelona e Chelsea, provam que fazer do PSG uma marca global poderosa, é um patamar ainda não atingido, embora não muito distante. Nesse sentido, não deixa de ser irónico que a consagração esperada chegue pouco mais de 24 horas depois de ser conhecida a multa aplicada pela UEFA de 60 milhões de euros, por violação das normas de fair-play financeiro.

Mais do que a multa, que poderá ser diluída em três anos e passar pelo congelamento de prémios de presença nas competições internacionais, são as limitações à contratação de jogadores e a restrição da lista de participantes na Champions a 21 jogadores que podem pôr em causa a segunda parte do projeto. A juntar à derrota desta quarta, a primeira no Parque dos Príncipes nesta edição da Liga, esse será mais um motivo para que os festejos desta noite fossem pontuados por alguns sorrisos amarelos.

A ironia da situação sai reforçada se considerarmos que, sensivelmente à mesma hora que o PSG fazia a festa, do outro lado do canal da Mancha, outro novo-rico sancionado pela UEFA com multa de 60 milhões, o Manchester City, dava um passo porventura decisivo, para a conquista do título inglês. Os próximos tempos dirão se, a exemplo do outro, o «fair-play» financeiro é ou não uma treta.