Abençoado futebol português que se dá ao luxo de esquecer um talento bruto como o de Ricardo Quaresma. Mas bastaram 75 minutos em destaque, na vitória do Inter sobre a Fiorentina, para trazer as saudades de um toque de bola inconfundível.
Os italianos bem podem atribuir-lhe todos os bidons que entenderem: nós, que já o vimos feliz e confiante, sabemos que o verdadeiro Quaresma nunca chegou a aterrar no «calcio». Tal como sabemos que foi um clone seu a andar por Barcelona e Londres, sem sorriso e sem varinha mágica.
Não é coincidência que Mourinho e o Inter o tenham recuperado agora. Com o mercado de inverno à porta, e o lastro de duas temporadas perdidas a pesar demasiado na relação com adeptos e crítica, nada como trazê-lo de volta à montra nesta altura.
É bom saber que ainda há algo de Harry Potter naquelas pernas. Por certo ainda sobram cidades com nome sonante e carteiras recheadas, dispostas a dar-lhe outra oportunidade. Mas a verdade é que em lado algum o vimos ser feliz como nos relvados portugueses.
Por isso, admitindo que há uma altura na vida em que os zeros no contrato já não compensam tudo, talvez seja tempo de admitir que, tal como o carapau de escabeche ou o xarope de groselha, o verdadeiro Quaresma é um produto nacional de qualidade que se dá mal com a exportação. Alvalade, Luz ou Dragão, pouco importa: não vai sendo tempo de voltares a casa, Ricardo?
Nota: Este texto foi escrito antes de ser público que Quaresma vai parar cerca de um mês, por lesão. O que é mais um argumento a reforçar a pergunta anterior.